França é palco de mais um fim de semana de revolta contra reforma da Previdência

Em Paris e em Nantes, manifestantes queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia

Protestos na França contra a reforma da Previdência
Protestos na França contra a reforma da Previdência (Foto: Reprodução)


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RFI - Em toda a França, milhares de pessoas se reuniram neste sábado (18), de forma espontânea ou sob convocação de centrais sindicais, para denunciar a imposição por decreto de uma controversa reforma da Previdência. Em Paris e em Nantes, manifestantes queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia.

 O medo da radicalização dos protestos levou as autoridades a proibirem qualquer aglomeração na região da praça da Concórdia, próxima à Assembleia de deputados, no centro de Paris. Violências vêm sendo registradas no local desde que a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, anunciou recorrer ao artigo 49.3 da Constituição para a adoção forçada da reforma da Previdência, na quinta-feira (16), sem o voto dos deputados.

 Segundo o Ministério do Interior, cerca de quatro mil pessoas se reuniram na região da Praça da Itália, sul de Paris, neste sábado. Com a proibição de protestos na Praça da Concórdia, manifestantes começaram a se dirigir para o 13° distrito da capital durante a tarde.

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 No início da noite, alguns militantes montaram barricadas e entraram em confronto com policiais. Lixeiras, que se acumulam pelas ruas de Paris devido à greve dos agentes da limpeza pública, foram incendiadas. No final da noite deste sábado centenas de policiais ocupavam as ruas nos arredores da Praça da Itália. Na tentativa de acabar com a mobilização, jatos d'água foram utilizados contra os manifestantes. No total, 76 pessoas foram presas.

 Em várias outras cidades francesas protestos espontâneos foram realizados, como em Bordeaux, no oeste, Lyon, no centro-leste, e Marselha, no sul. Em Nantes, no oeste, cerca de 15 mil manifestantes se reuniram e tensões foram registradas quando as forças de segurança se aproximaram da mobilização. Militantes atiraram garrafas contra policiais, que responderam com bombas de gás lacrimogênio.

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 Em Brest, no noroeste, um protesto convocado por centrais sindicais locais também terminou em violências com a polícia. Em Besançon, no leste, cidadãos queimaram suas carteiras de eleitores.

 "O que vou responder aos jovens que me dizem que votar é inútil? Elegi um deputado, que não pode votar [o projeto de lei sobre a reforma da Previdência]. Estamos em plena negação da democracia", diz a francesa Nathalie, de 30 anos.

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 Moções de censura

 Denunciando "uma recusa da democracia", centrais sindicais pedem que manifestantes intensifiquem as mobilizações durante todo este fim de semana. Na segunda-feira (20), deputados votarão duas moções de censura da oposição que, em caso de adoção, poderão revogar a reforma da Previdência e derrubar, além da Assembleia, ministros e a chefe do governo, Elisabeth Borne.

 No entanto, especialistas são céticos quanto à possibilidade. Para que o governo caia, será necessário o voto de 287 dos 577 deputados. Uma das moções é apresentada pelo grupo parlamentar independente Liot, que tem o apoio da coalizão de esquerda Nupes. A outra é de autoria do partido de extrema direita Reunião Nacional, legenda liderada por Marine Le Pen, derrotada por Macron no segundo turno da eleição presidencial de 2022. 

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 Para alcançar uma quantidade mínima de votos faltaria o apoio de cerca de 30 parlamentares. Segundo cálculos de especialistas, esses votos só poderiam vir do partido Os Republicanos, de direita. No entanto, os conservadores negociaram a reforma com a legenda governista, de centro-direita, embora alguns deles tenham se manifestado contra a aprovação da reforma nos últimos dias.

 Por outro lado, foi a falta de apoio da direita para a adoção do projeto de lei na última quinta-feira que levou o governo a decidir pela aprovação da reforma sem a votação final, recorrendo ao artigo 49.3 da Constituição francesa.

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 Greve nas refinarias e da limpeza pública

 Depois do bloqueio de combustíveis nos últimos dias, a maior refinaria da França, explorada pela TotalEnergies na Normandia, no noroeste, anunciou neste sábado o início da paralisação da sua produção. Outras duas refinarias - uma da Petrolneros, no sudeste, e outra da TotalEnergies, no noroeste, podem seguir pelo mesmo caminho a partir de segunda-feira. O ministro francês da Indústria, Roland Lescure, deixou a entender neste sábado que, em caso de escassez de combustíveis no país, o governo poderá requisicionar trabalhadores e obrigá-los a voltar a trabalhar.

 A medida, considerada autoritária, vem sendo empregada também para forçar agentes de limpeza a recolher o lixo das ruas de Paris. Na sexta-feira, a quantidade de detritos acumulados em vários bairros da capital ultrapassava dez toneladas. No centro de incineração de lixo de Vitry-sur-Seine, periferia da capital, as forças de segurança foram acionadas para desbloquear o local ocupado por grevistas. 

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 No entanto, a questão da coleta de lixo é complexa: em alguns distritos o serviço é gerenciado em parte por empresas privadas; em outros pela prefeitura de Paris. Vários membros do governo culpam a prefeita Anne Hidalgo de compactuar com a mobilização. A socialista se negou a requisionar os garis, recusando-se a interferir no direito de greve.

 Enquanto isso, agentes de limpeza continuam esperando uma resposta do governo sobre o pedido de um diálogo. Os grevistas afirmam que em hipótese alguma aceitarão a imposição de dois anos a mais de trabalho, como prevê a reforma da Previdência de Emmanuel Macron.

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