Guerra na Ucrânia tem taxa de mortalidade de soldados russos muito acima dos padrões desde a Segunda Guerra Mundial
Números do Ministério de Defesa da Rússia indicam proporção entre mortos e feridos de 1 para 3,2. Nas Forças Armadas modernas taxa estimada e admitida é de 1 morto para 10 feridos
247 - A taxa diária de mortes de soldados russos no início da guerra da Ucrânia é muito mais alta que a dos últimos conflitos nos quais o país se envolveu, como a primeira Guerra da Tchetchênia, e a proporção entre mortos e feridos só é comparável ao padrão da Segunda Guerra Mundial. Os números são do próprio Ministério da Defesa da Rússia, foram divulgados na quinta passada (3) e analisados pelo jornalista Igor Gielow da Folha de S.Paulo.
É possível que haja uma subnotificação nos números, em função do controle das informações, mas analistas independentes não acreditam que as estimativas ucranianas de 10 mil mortos sejam realistas. Dado o controle de informação na guerra informativa acerca do conflito no país de Vladimir Putin, é razoável supor que os números reais possam ser maiores —embora não devam ser tão dilatados quanto as estimativas ucranianas, que colocam as baixas adversárias em quase 10 mil soldados.
Usando apenas os números oficiais, Moscou informa que foram, nos primeiros sete dias da guerra, 498 militares mortos e 1.597 feridos, o que significa 71 mortes diárias. Nos 630 dias do conflito considerado mais sangrento que lutou após a Segunda Guerra Mundial, a Primeira Guerra da Tchetchênia (1994-96), foram 8 mortos ao fim de cada jornada.
Naturalmente, adverte a Gielow, "é preciso cautela nessa comparação, pois operações militares têm fases distintas”. Mas o dado chama a atenção porque há a percepção clara entre analistas que Moscou não se arriscou muito nos primeiros dias da guerra, privilegiando ataques a longa distância, com mísseis e foguetes, e entrou na guerra com a aura de ter as Forças Armadas mais eficientes do planeta.
A pior notícia para os militares russos é a proporção entre mortos e feridos. Nas Forças Armadas modernas, a taxa usual mira algo como 1 morto para 10 feridos, o que retrata a qualidade do material de proteção usado pelos soldados, os primeiros-socorros no campo e a rapidez de transferência para hospitais de campanha.
Na primeira semana da campanha ucraniana, o Kremlin viu uma taxa de 1 para 3,2, que é um número surpreendentemente próximo ao das forças armadas da União Soviética no mais destrutivo conflito que já ocorreu no planeta, a Segunda Guerra Mundial: 1 para 2,57. Os números absolutos, são, evidentemente, diferentes. Foram 8,6 milhões de militares mortos, e mais de 22 milhões de feridos na Segunda Guerra, segundo o Ministério da Defesa russo.
Os números das perdas russas são muito piores que as dos militares dos EUA em duas guerras cruciais para o país. Na guerra do Vietnã, a taxa foi de 1 para 5,2. Na Guerra do Iraque (2003-11), foi 1 para 7 -contra a taxa de 1 para 3,2 dos russos agora.
Os números relativos de militares russos mortos/feridos vão mudar, mas demonstram um padrão que, segundo a análise de Gielow, decorre de duas coisas: 1) a resistência ucraniana e 2) a ideia de que os soldados entraram na guerra sem uma coordenação precisa, apesar da complexidade do ataque em múltiplas frentes.
Escreveu Gielow: “Isso é visível nos vídeos do início da guerra, mostrando soldados em unidades pouco protegidas entrando em cidades de forma exposta. Se isso foi um erro ou uma tática deliberada de Moscou para evitar resistências prévias à ideia de invadir um país considerado irmão por muitos russos, é algo impossível de saber neste momento. A guerra mudou de panorama, contudo, a partir de meados da semana passada, com o crescente cerco a cidades ucranianas, com uso mais intensivo de bombardeios, e o início do emprego da aviação tática, notoriamente ausente até aqui”.Mas, continuou o jornalista, “Isso traz riscos”. No sábado foi confirmada a primeira perda de um avião de ataque Su-34, estrela do arsenal de Putin. Nesta segunda (7), foi derrubado o segundo caça do modelo e os ucranianos afirmam haver derrubado mais, mas não há confirmação.
Veja a derrubada de um helicóptero de ataque Mi-24/Mi-35 da Rússia por um míssil anti aéreo ucraniano no último sábado (5):
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