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Indígenas bloqueiam ferrovias no Canadá contra invasão de seus territórios por Trudeau

Por quase uma semana, os indígenas canadenses estão liderando bloqueios nas principais ferrovias do Canadá contra a implementação de gasodutos em suas reservas. O movimento levou o país a uma gigantesca crise política

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Por Juca Simonard, especial para o 247 - Completam-se nesta quarta-feira (19) 13 dias de bloqueio das principais ferrovias canadenses por manifestantes indígenas, informa o jornal canadense Le Devoir. Os protestos se dão contra o projeto Coastal GasLink do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau (Partido Liberal), de construir um gasoduto - de C$ 6,6 bi (R$ 21,81 bi), com mais de 64 quilômetros - em território indígena na Colômbia Britânica (província ocidental do Canadá).

As manifestações, que iniciaram no dia 6 de fevereiro, surgiram a partir da comunidade indígena Wet’suwet’en, na província ocidental, e logo se espalhou pelo país, atingindo a província mais desenvolvida, Ontário, na parte oriental. Os Mohawks, em gesto de solidariedade com os povos do oeste canadense, aderiram aos bloqueios, paralisando ferrovias em Tyendinaga (no leste de Toronto).

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O bloqueio estende-se então por todo o Canadá inglês, atingindo partes importantes das ferrovias do país. O ponto culminante da crise, que levou à expansão do movimento indígena, foi a prisão de mais de 20 manifestantes, nos dias 6, 7 e 8, no início dos protestos.

Diante da crise, o governo procura ser cuidadoso ao tratar do assunto, uma vez que a questão indígena é vista como delicada por já ter levado o país a uma gigantesca crise política. 

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Na década de 1990, a tentativa de invasão de reservas indígenas no Québec (Oka) e em Ontário (Ipperwash) para construir campos de golfe e condomínios de luxo levou a um enfrentamento violento contra a polícia canadense que durou 78 dias e resultou na morte de diversos manifestantes e de um policial no Québec.

Para que uma crise de tamanha envergadura não aconteça novamente, o premiê Justin Trudeau afirmou que é necessário “achar uma solução e precisamos achá-la agora”, solicitando “diálogo e respeito mútuo” entre o governo e as comunidades indígenas para que os bloqueios cessem.

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Apesar da tentativa da imprensa de encobrir os resultados da paralisação, elas já atingem a economia do país de maneira considerável. O site da rádio estatal Radio-Canada informa em matéria de 12 de fevereiro que, “se persistir por vários dias ainda, este bloqueio poderá causar perdas econômicas, mas também penúria de diversas mercadorias e de combustível no leste do país, onde milhares de empresas e agricultores dependem, naturalmente, da chegada do gás propano para manter suas operações durante o inverno”.

Em novembro do ano passado, a circulação do gás propano já havia sido afetada por conta de uma greve dos operários da Canadian National Railway (maior companhia ferroviária do país), que interrompeu o transporte durante oito dias. Por isso, a escalada da crise política, com os bloqueios indígenas, preocupa o presidente da empresa, Jean Jacques-Ruet, que declarou, na semana passada, que “não são somente os trens de passageiros os afetados por este bloqueio, mas a cadeia inteira de circulação de mercadorias do Canadá”.

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O Conselho da indústria florestal do Québec (CIFQ) também demonstrou preocupação com os bloqueios. Em comunicado emitido no dia 12, exigiu “uma intervenção rápida das autoridades para que o transporte por via férrea volte o mais rapidamente possível no Québec e em Ontário”, lembrando que “a indústria florestal exporta mais de C$ 11 bi de seus produtos anualmente, sendo a maior parte para os Estados Unidos, por trem”.

Não bastasse isso, a presidente da Federação Canadense de Agricultura (FCA-CFA), Garth Whyte, também se declarou contra os protestos, assim como a indústria de fertilizantes Fertilizer Canada, que afirmou que “o bloqueio das principais rotas ferroviárias impede o fluxo de mercadorias e causa danos irreparáveis ​​à economia e agricultura do Canadá”.
Em reunião com deputados no Parlamento, o primeiro-ministro canadense declarou, na última terça-feira (18), que “nos dois lados há pessoas irritadas e frustradas” e que “aqueles que querem que ajamos com pressa, que querem que se esquente isso [a situação política] com palavras de ordem e se ignore sua complexidade, achando que o uso da força ajuda; não funciona”, pedindo paciência.

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O líder de extrema-direita, da oposição conservadora, Andrew Scheer, acusou os manifestantes de serem “um grupo pequeno de manifestantes de ativistas radicais”, atacando a greve. “Ninguém tem o direito de manter nossa economia refém”, disse ele. E ainda perguntou: “Nosso país vai atender às regras da lei ou às regras da baderna?”.

O executivo da Chemestry Association of Canada, Bob Masterson, também cobrou Trudeau, que teria, segundo ele, o “dever de propagar uma mensagem muito importante de que essas interrupções não serão toleradas”, reclamando de que “eles [o governo] não foram duros com ninguém”.
Já o primeiro-ministro da província de Québec, François Legault (CAQ), nesta quarta-feira (19) pediu para que Trudeau dê um ultimato às organizações indígenas que estão bloqueando as ferrovias ou usará a polícia para retirá-los à força. Mais cedo, já havia declarado que o governo havia “perdido o controle”.
A preocupação do governo de Québec se dá principalmente pelo fato de os bloqueios afetarem o escoamento de mercadorias do porto de Montreal, um dos mais importantes do país. A falta de espaço tornou-se uma preocupação para o primeiro-ministro québecois, que ameaçou: “se não formos mais capazes de acolher os barcos no porto de Montreal, porque não sabemos mais onde colocar os contêineres que estão presos, teremos sérios problemas…”.

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Segundo o jornal Le Devoir, “as províncias estão cada vez mais impacientes, diante da aproximação defendida por Ottawa. O Primeiro Ministro de Saskatchewan, Scott Moe, convocou seus homólogos provinciais para participar de uma conferência telefônica, hoje (19), por conta, segundo ele, da ‘falta de liderança federal para resolver esta atividade ilegal contínua’”.
Pressionado, Trudeau deu indícios de que pode partir para uma política mais agressiva. “As pessoas estão diante da penúria. Isso é inaceitável [...] Por isso, vamos continuar trabalhando com todo mundo para resolver isso da maneira mais rápida possível”, declarou.

Vale ressaltar que, em 2015, o governo anterior, de Stephen Harper, criou a lei antiterrorista, fortalecida por Trudeau em 2017, conhecida como Lei-C-51, que estabelece o fortalecimento das forças repressivas em situação de risco e ameaça contra a infraestrutura, como oleodutos e barragens hidrelétricas.

A polarização e a crise política, que permeiam o mundo, atingem, desta forma, o Canadá - tendo em vista que os Mohawks, em Ontário, afirmaram que apenas irão desobstruir as ferrovias quando as forças policiais saírem da região do gasoduto reivindicada pelos Wet’suwet’en, na Colômbia Britânica.
Um dos dirigentes Mohawk, Serge Otsi Simon, pediu para que os manifestantes liberassem o caminho em Ontário para “mostrar a boa vontade [de dialogar]”, mas foi denunciado e rechaçado pela sua própria comunidade, demonstrando a radicalização do movimento no país. 

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