Macron faz giro pela África buscando reestabelecer dominância francesa no continente
“A era em que a França interferiu na África acabou”, afirmou o presidente francês, ignorando as recentes invasões na região do Sahel
247, com agências internacionais — Com problemas com países africanos ao longo de seus dois mandatos como presidente da França, Emmanuel Macron fez um giro pela África nesta semana, buscando retomar uma parcela do prestígio que o país, como potência colonial, teve no continente no passado.
“A era em que a França interferiu na África acabou”, afirmou na capital do Gabão, Libreville, nesta quinta, 2. “Quando leio, ouço e vejo as pessoas atribuírem intenções à França que o país não tem, tenho a sensação de que as mentalidades ainda não avançaram tanto quanto nós”, seguiu o presidente.
Enquanto cresce a influência de China e Rússia no continente africano, a França foi alvo de protestos em países como Mali e Burkina Faso, que foram ocupados militarmente pelo país europeu. Com o pretexto de combater o “terrorismo”, a França iniciou uma operação militar (Operação Barkhane) de invasão da África, principalmente na região do Sahel. No Mali e no Burkina Faso, golpes militares e mobilização popular obrigaram a França a se retirar dos países.
Na quarta-feira, Macron iniciou uma viagem de cinco dias que o levará a uma visita de trabalho ao Congo, Gabão, Angola e à República Democrática do Congo. Ele ainda passará por Angola, República Democrática do Congo e Congo.
O político francês François Asselineau disse à Sputnik que o giro de Macron pela África é um sintoma de emergência, pois Paris está perdendo sua influência no continente. “Esta [a visita] é uma emergência, pode-se dizer. A França está perdendo rapidamente toda a influência na África, apesar do fato de que a língua francesa tem sido durante 150 anos o único veículo para os muitos grupos étnicos [na África central] falarem entre si. Ainda é frequentemente a língua da administração de lá, mas isso está mudando rapidamente”, argumentou Asselineau, que também concorreu contra Macron nas eleições presidenciais de 2017. Asselineau é da União Popular Republicana, partido de direita do nacionalismo francês.
Rússia e China na África
A influência da França na África está sendo rapidamente ofuscada pela Rússia e pela China, e uma das razões é que, ao contrário da França, seus funcionários são “práticos e não ideológicos ou condescendentes” e, portanto, bem-vindos a qualquer momento e em qualquer lugar do continente, disse Asselineau. “A Rússia e a China têm uma coisa em comum: nunca deram lições de 'democracia' e sempre respeitaram os líderes locais... A China e a Rússia comportam-se com um ethos presidencial, aquele que os chefes de Estado africanos têm eles mesmos, e não fingem ser amigos, como o presidente Macron faz com grande arrogância, usando ao mesmo tempo a palavra ‘humildade’”, explicou.
Tudo isso se desenrola no contexto da aceleração do comércio entre os países africanos e a Rússia e a China, enquanto a França está perdendo gradualmente sua posição de parceiro dominante do comércio exterior no continente.
“A França agora não é bem-vinda em várias ex-colônias, provavelmente permanentemente. E a França não tem os meios financeiros para suas ambições de presença militar na África; isto também é percebido pelos líderes africanos que estão procurando ajuda em outros lugares, em particular na Rússia. Por trás da ingerência da França no Sahel, a política do Presidente Macron na África é percebida como infantil, se não inexistente”, concluiu Asselineau.
As tropas francesas se retiraram do Mal no ano passado. Em janeiro, Burkina Faso terminou oficialmente todas as operações lideradas pela França em seu território.
*Com informações da Sputnik