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Mensagens de diretores da Uber revelam lobby e pressão sobre Biden, Macron e Scholz

Jornal britânico teve acesso a 124 mil mensagens e documentos que sugerem práticas violentas contra motoristas

(Foto: Reuters)

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Michele de Mello, Brasil de Fato - O jornal britânico The Guardian publicou neste domingo (10) uma reportagem com evidências de que diretores da Uber, empresa de tecnologia, teriam violado leis, explorado a violência contra os motoristas e pressionado os governos estadunidense, alemão e francês durante sua expansão global.

A publicação teve acesso a 124 mil mensagens trocadas entre os diretores da empresa entre 2013 e 2017, quando a empresa era presidida por um dos seus fundadores, Travis Kalanick. 

Criada em 2011, a Uber hoje opera em 40 países e é avaliada em US$ 43 bilhões (cerca de R$ 215 bilhões), realizando uma média de 19 milhões de viagens por dia.

Violência

Em uma das mensagens divulgadas, em janeiro de 2016, Kalanick propõe conter os protestos de taxistas contra a implementação da Uber na Europa, incentivando os motoristas do aplicativo a conter as manifestações. "Eu acho que vale a pena. Violência garante o sucesso", disse o fundador da Uber. 

A tática de confronto teria sido incentivada na França, Itália, Espanha, Suíça Holanda e Bélgica.

Após incentivar a violência, a Uber pautava a imprensa. "Mantemos a narrativa da violência por alguns dias, antes de oferecer a solução", disse um dos diretores da empresa nas mensagens de 2016.

Os motoristas que foram vítimas de agressão foram encorajados a registrar relatórios policiais, que foram compartilhados com o De Telegraaf, o principal jornal diário holandês. 

Lobby 

Em 2016, a Uber teria destinado US$ 90 milhões (cerca de R$ 450 milhões) para intermediários realizarem lobby no Congresso dos EUA e no Parlamento Europeu para superar leis que figurassem como obstáculos para o estabelecimento da transnacional. 

A publicação também revela mensagens entre Kalanick e o presidente francês Emmanuel Macron, que confirmam a cooperação do mandatário para aprovar leis favoráveis à empresa na França, mediando reuniões com instituições públicas e dando fácil acesso aos diretivos da empresa.

Joe Biden também aparece nos documentos, que fazem menção a uma reunião entre o então vice-presidente na gestão com o Obama, e o fundador da Uber. O encontro aconteceu durante o Fórum Econômico Mundial, na Suíça. Após a reunião com Travis Kalanick, o vice de Obama discursou em Davos defendendo a "liberdade de trabalhar quantas horas cada um quiser e gerir sua própria vida como desejar", em alusão à propaganda das novas plataformas digitais.

Outros nomes que também aparecem nos e-mails e mensagens de WhatsApp são o do ex-primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu, o ex-chanceler britânico George Osbourne e o chefe do governo irlandês, Enda Kenny.

Os executivos da Uber expressaram desdém por representantes eleitos que eram menos receptivos ao modelo de negócios da empresa.

O atual chanceler alemão, Olaf Scholz, na época prefeito de Hamburgo (2011 a 2018), foi chamado de  "um verdadeiro comediante" após negar as investidas dos lobistas da Uber e manter a decisão de que a empresa deveria pagar um salário mínimo aos motoristas cadastrados no aplicativo. 

Apagão de dados 

Entre 2013 e 2016, a Uber operou de maneira ilegal em muitos países, com legislações que proibiam o estabelecimento do formato de corridas por aplicativo. Nas mensagens vazadas, em pelo menos 12 ocasiões os diretores da empresa ordenaram o setor de tecnologia a limpar sua base de dados, ao ser informados de alguma investigação contra a companhia.

A Uber era avisada sobre a abertura de algum expediente e imediatamente apagava os dados que poderiam comprometer suas atividades econômicas na França, Bélgica, Holanda, Hungria, Romênia e Índia.

Sob nova direção

Em resposta ao vazamento, a Uber publicou um comunicado admitindo "erros e equívocos", mas disse que se transformou desde 2017, sob a liderança de seu atual presidente-executivo, Dara Khosrowshahi.

"Não temos e não vamos dar desculpas para comportamentos passados ​​que claramente não estão alinhados com nossos valores atuais", disse. "Em vez disso, pedimos ao público que nos julgue pelo que fizemos nos últimos cinco anos e pelo que faremos nos próximos anos."

O conteúdo das mensagens filtradas é analisado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que promete publicar novas reportagens sobre a Uber nas próximas semanas. O ICIJ reúne cera de 180 jornalistas de 40 meios de comunicação, e foi um dos responsáveis dos casos Panama Papers e Pandora Papers.

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