Morre Souleymane Cissé, o 'pai do cinema africano', aos 84 anos
Cienasta malinês, pioneiro no cinema africano, foi o 1º negro premiado em Cannes e influenciou gerações com sua obra humanista e engajada
247 - Souleymane Cissé, renomado cineasta malinês e um dos grandes nomes do cinema africano, faleceu nesta quarta-feira (19), aos 84 anos, em Bamako, capital do Mali. A informação foi confirmada por sua filha, Mariam Cissé, à Agence France-Presse (AFP), descreve reportagem da Folha. "Estamos todos em choque. Ele dedicou toda sua vida a seu país, ao cinema e à arte", declarou.
Cissé foi o primeiro cineasta africano negro a conquistar um prêmio no Festival de Cannes, recebendo o Prêmio do Júri em 1987 por "Yeelen: A Luz". Sua obra, marcada pelo olhar humanista e pelo engajamento político, teve um papel fundamental na formação do cinema africano moderno. Em 2023, ele também recebeu a Carroça de Ouro por "Finyé: O Vento".
Poucas horas antes de falecer, Cissé participou de uma coletiva de imprensa e demonstrava entusiasmo com sua nomeação para presidir o júri da 29ª edição do Festival Pan-Africano de Cinema e Televisão de Ouagadougou (Fespaco), que ocorre em Burkina Faso a partir deste sábado (22). Durante a entrevista, fez um apelo pelo fortalecimento do cinema no continente: "Temos jovens cineastas profissionais que são plenamente capazes. Não basta fazer cinema, é preciso que as obras também sejam visíveis. Que as autoridades nos ajudem com a construção de salas de cinema. Este é o apelo que faço a elas antes da minha morte, se Deus quiser".
Uma trajetória de resistência e arte
Nascido em Bamako, em 1940, Cissé estudou cinema no Instituto Gerasimov de Cinematografia, em Moscou, após uma passagem acadêmica por Dacar, no Senegal. Seu primeiro longa, "Den Muso" ("A Menina"), de 1975, foi um marco ao ser a primeira ficção filmada na língua bambara. O filme aborda a história de uma jovem muda que engravida após ser estuprada. No entanto, a obra foi banida pelo governo malinês e Cissé chegou a ser preso, acusado de aceitar financiamento francês.
Seu legado cinematográfico inclui títulos icônicos como "Baara" ("O Trabalho"), de 1978, que aborda a exploração das classes trabalhadoras e os desafios do sindicalismo. "Yeelen", de 1987, é considerado um de seus maiores sucessos e remonta ao passado para explorar tradições ancestrais e problemas contemporâneos da sociedade malinêsa. Em entrevista à Cahiers du Cinéma, Cissé revelou que o filme foi concebido para confrontar a visão etnográfica eurocêntrica sobre a África. "O objetivo era dar uma resposta a uma percepção externa, uma percepção de técnicos e acadêmicos brancos, uma percepção alienígena", explicou.
Ao longo da carreira, o cineasta abordou temas como violência policial, abuso do dinheiro, as consequências do individualismo e as restrições impostas às mulheres pelas tradições patriarcais. "Waati" ("Tempo"), lançado em 1995 e indicado à Palma de Ouro em Cannes, retrata a trajetória de uma criança negra durante o apartheid, reforçando sua vocação para discutir questões sociais através da arte.
Fundador e presidente da União dos Criadores e Empresários do Cinema e do Audiovisual da África Ocidental (Ucecao), Cissé foi um defensor incansável da produção cinematográfica africana e do fortalecimento da indústria do cinema no continente. Sua morte representa uma grande perda para o cinema mundial, mas seu legado segue inspirando cineastas em África e no mundo.
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