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O Brasil acertou ao se abster

A ONU adotou o lema “faça a guerra, não faça a paz”

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Para defender civis, matamos civis. Essa é a lógica dos países que promovem os ataques à Líbia a pretexto de impedir que civis, armados ou não, sejam massacrados pelas tropas de Kadafi. Ninguém é tão burro ou inocente para achar que os bombardeios ao território líbio estão apenas destruindo instalações militares e matando oficiais e soldados que defendem o governo líbio. Há civis morrendo e sendo feridos, nos dois lados do conflito.

Essa, entre outras razões, já basta para justificar a corretíssima posição brasileira de se abster na votação realizada no Conselho de Segurança da ONU. Ao lado dos demais países do grupo denominado Bric (Rússia, Índia e China) e da Alemanha, o Brasil, sem fazer a defesa de Kadafi, foi coerente com sua postura de considerar a negociação política como passo inicial para tentar a solução de um conflito. Outros 10 países optaram pela guerra.

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A resolução mostra a incompetência da ONU para promover a paz e a facilidade com que respalda a guerra. O que o Conselho de Segurança fez foi legitimar a tradicional arrogância belicista dos Estados Unidos, da Otan e de alguns países europeus quando têm seus interesses contrariados e pretendem impor a sua “paz”. Ao aprovar a zona de exclusão aérea e “todos os meios necessários” para defender a população líbia, a ONU declarou a guerra, quando tinha de tentar a paz.

Não se trata de eliminar a possibilidade de exclusão aérea. Mas esse recurso legítimo está sendo, como em outras situações anteriores, no Oriente e na Europa, utilizado como pretexto para bombardear um país, derrubar seus governantes e arrasar sua infraestrutura. A título de “todos os meios necessários”, pode-se tudo. Depois basta colocar um fantoche no poder e chamar as empresas estadunidenses e europeias para reconstruir o que foi destruído pelas bombas e pelos mísseis. Mortes e ferimentos de civis são, como gostam de dizer os militares, meros efeitos colaterais.

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Os que criticam a abstenção brasileira são os que defendem o alinhamento total aos Estados Unidos, ou fazem oposição incondicional ao governo de Dilma Rousseff, ou são influenciados pelas análises superficiais e simplistas tão em voga na nossa imprensa. Ou tudo isso junto.

Os velhos dois pesos

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Pouco se tem falado em uma diferença básica entre que aconteceu no Egito e na Tunísia e o que acontece na Líbia. Naqueles dois países houve uma rebelião popular pacífica, que mostrou consistência. Sem base social interna forte, sem respaldo das forças armadas e tendo perdido apoio internacional, os governos dos dois países caíram em poucos dias.

Na Líbia, a reação violenta do governo aos protestos pacíficos levou à resistência armada, perfeitamente legítima. As dissidências nas forças armadas favoreceram a obtenção de armas pelos rebeldes e as divisões tribais criaram um cenário de guerra civil. Não é possível quantificar, mas inegavelmente Kadafi recebeu um apoio na população que seus colegas da Tunísia e do Egito não tiveram. Por isso viu condições de enfrentar os rebeldes.

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Civis têm sido mortos no Iêmen e no Bahrein, onde a revolta popular ainda não caracteriza uma guerra civil, como na Líbia. Mas os Estados Unidos, a Otan e os que atacam a Líbia têm se limitado a emitir comunicados oficiais deplorando a violência nesses países. É a velha hipocrisia das potências coloniais e neocoloniais. Afinal, os governos do Iêmen e do Bahrein são aliados importantes dessas potências, embora tão ditatoriais e tão violadores dos direitos humanos quanto o de Kadafi. A Arábia Saudita, talvez a pior ditadura do Oriente Médio e maior aliada dos estadunidenses, passa incólume pelas rebeliões árabes graças à feroz repressão contra os opositores.

A chamada comunidade internacional pode e deve intervir, legitimada pela ONU, caso uma guerra intestina, em qualquer país, degenere em violações aos direitos humanos, massacres e genocídios. Mas isso não quer dizer que tem o direito de violar a soberania de um país e bombardear seu território, preparando uma quase inevitável invasão por terra, para apoiar um dos lados do conflito.

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Pressionado em negociações pela ONU, pela Liga Árabe e pelos países europeus que antes o apoiavam – alguns, até com entusiasmo -, certamente Kadafi teria de buscar uma solução pacífica para o conflito. Uma postura dele de intransigência não teria respaldo em seu próprio governo e na população. Poderia haver, como defende o Brasil, uma transição pacífica. Mas isso não daria aos falcões do cenário internacional o pretexto de fazer uma guerra que só lhes beneficia, política e economicamente.

E quem vai governar?

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É óbvio que os Estados Unidos, a França e o Reino Unido, entre outros – inclusive países árabes -, querem derrubar Kadafi. E ninguém bombardeia um palácio presidencial se não quer matar seus ocupantes. A questão que começa a preocupar muita gente é saber que pessoas e que tipo de governo ocuparão o lugar de Kadafi e de sua “Jamahiriya”. Sai o Livro Verde e entra o quê?

No New York Times, Paul Sullivan alerta: “Pode ser uma grande surpresa quando Kadafi cair e descobrirmos com quem estamos realmente lidando”. Os exemplos de bandidos, corruptos e homicidas que lideram governos na Ásia, na África, na América e até na Europa (lembrem-se de Kosovo e do Uzbequistão) com apoio de potências ocidentais são muitos. Se os afegãos armados e treinados pelos Estados Unidos tivessem ganhado a guerra contra a ocupação soviética, Bin Laden provavelmente seria o presidente do Afeganistão com apoio estadunidense.

Para sensibilizar a opinião pública internacional e agradar aos estadunidenses e europeus, todos os que se opõem a governos autoritários se dizem democratas radicais. Mas nem sempre são. Os rebeldes líbios têm apenas duas bandeiras: uma, literal, a da monarquia destronada por Kadafi em 1969; outra, a decisão de derrubar Kadafi. Não têm linha política definida, nem partidos ou organizações civis.

A questão de fundo, na verdade, é tribal. A região da Tripolitânia, a oeste, sempre foi reduto de Kadafi. A Cirenaica, a leste, resistente a Kadafi. Basta olhar o mapa da guerra civil para constatar isso. O país está dividido. Quem vai unificá-lo e administrá-lo depois do conflito? A ONU? Obama? Sarkozi? Ou será que, ao velho estilo colonial, a Líbia será divida em duas?

Terrorismo ilimitado

Terrorismo é o ataque a civis, injustificado em todas as circunstâncias. Palestinos que colocam bombas em locais públicos de Israel são terroristas. Israelenses que atacam indiscriminadamente civis palestinos em territórios ocupados são terroristas. Não há lado bom ou lado certo nessa triste história.

Sem recorrer ao terrorismo, os palestinos têm o direito de lutar pela Palestina livre da ocupação israelense. É a ONU que reconhece isso, mas não com tanta ênfase, claro.

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