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      O estilo Obrador revoluciona a presidência mexicana

      Andres Manuel Lopez Obrador está em combate cerrado contra as despesas do executivo e pretende "pacificar o país". Oito em cada dez mexicanos o apoiam

      O estilo Obrador revoluciona a presidência mexicana (Foto: Henry Romero)
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      247, Por Frédéric Saliba, no Le Monde, tradução de Sylvie Guraud - Todos os dias ao amanhecer, dezenas de jornalistas se alinham em frente ao Palácio Nacional, no coração da Cidade do México. "O presidente é um madrugador", suspira um deles, seus traços acusando o cansaço. Andres Manuel Lopez Obrador dá uma coletiva de imprensa às 7 horas em ponto, de segunda a sexta-feira, desde sua posse em 1º de dezembro. Um exercício presidencial sem precedentes, criticado por seus opositores que o chamam de "populista". O presidente da esquerda descreve assim seus próximos passos, encarnando no quotidiano sua luta "radical" contra a corrupção, a pobreza e o crime.

      "É uma mudança profunda", insiste Lopez Obrador, na terça-feira, 29 de janeiro, de pé, atrás de seu púlpito, durante uma hora e meia. Conhecido pelas suas iniciais, "AMLO" defende seu combate ao roubo de petróleo desde a explosão mortal (117 mortos) onze dias antes, no centro do país, de um oleoduto perfurado pelo crime organizado.

      Após anunciar uma série de medidas para tirar da pobreza 43% dos mexicanos, o Presidente garante: "Somente os programas sociais são capazes de estancar essa calamidade". Ao mesmo tempo, cresce a controvérsia na imprensa sobre a falta de ação do exército para evitar a explosão do gasoduto, e a escassez de combustível causada pelo fechamento dos oleodutos para evitar-se o roubo.

      Mas AMLO possui grande margem de manobra. Segundo as pesquisas, oito mexicanos em dez apoiam sua "quarta transformação do México", após a independência de 1810, a reforma de 1857-1861 e a revolução de 1910. No dia de sua posse, AMLO - crítico ferrenho dos privilégios dos poderosos - transformou a residência presidencial em um centro cultural aberto ao público. Cerca de 45.000 mexicanos já visitaram seus suntuosos edifícios e vastos jardins.

      Um esplendor rejeitado por este viúvo casado pela segunda vez, que permaneceu vivendo em sua casa ao sul da Cidade do México com sua esposa e seu quarto filho de 12 anos. Seu leitmotiv: "Não haverá mais governo rico em um país pobre". O presidente reduziu seu salário em 60% limitando-o a 5 mil euros. "Não estou interessado em dinheiro", disse ele, "luto por ideais". AMLO representa uma esquerda nacionalista e antineoliberal, defensora de um Estado redistribuidor de riquezas.

      Na terça-feira, ele anunciou a venda da frota do governo (76 aviões e helicópteros, 254 carros e motos). Seus ministros viajam, como ele, em voos comerciais. Morena, seu partido tendo maioria no Congresso, seus deputados multiplicam as reformas, incluindo a eliminação das pensões dos ex-presidentes.

      "Tenho medo como a maioria das pessoas"

      Todas as manhãs, a bordo de seu Volkswagen Jetta branco, AMLO encarna essa cura de austeridade. Sentado do lado do passageiro, o sexagenário abaixa de bom grado a janela para cumprimentar a população. Seu dia começa às 6 da manhã por uma reunião com seu gabinete de segurança. "Temos de pacificar o país", repete o presidente reformista, enquanto que a guerra dos cartéis de drogas atinge recordes mórbidos (33 341 homicídios em 2018).
      Suas propostas para legalizar a maconha e anistiar os produtores não gozam de unanimidade. Mas seu projeto mais contestado continua a ser a criação de uma guarda nacional para superar as falhas da polícia, um novo corpo formado e coliderado pelo exército enquanto soldados são acusados de violações dos direitos humanos.

      Apesar da violência endêmica, nenhum guarda-costas acompanha AMLO no grande salão com arquitetura Art Déco que acolhe suas conferências matinais. Ele dissolveu o grupo de segurança da presidência. Sua proteção individual é assegurada apenas por vinte homens e mulheres, desarmados. "Você não teme por sua vida?", perguntou-lhe, em meados de janeiro, uma jornalista. "Tenho com medo como todo mundo", respondeu AMLO, "mas não sou covarde."

      Nos finais de semana, o orador costuma se misturar às multidões nas províncias, abraçando seus partidários. "É um homem simples e acessível, que forjou uma relação especial com os mexicanos", diz Misael Zavala, jornalista do diário El Universal. Este adepto da democracia participativa promete referendos, sendo que um deles, em 2021, será revocatório, justamente na metade de seu mandato de seis anos. "É o povo que está no comando!", pontua ele, após publicar, em dez milhões de exemplares, sua "caderneta moral" que valoriza o amor à família e ao país. AMLO reitera que "o bem-estar da alma é o que faz a felicidade de um homem".

      Este tom messiânico irrita seus detratores. "É o circo e o pão de um populista", diz o ex-presidente conservador Vicente Fox (2000-2006), melindrado, que critica "a neutralidade do governo contra o ditador Nicolas Maduro" contestado pela oposição venezuelana que está tentando derrubá-lo.

      AMLO, quanto a ele, reivindica o princípio da não intervenção, propondo-se a desempenhar o papel de mediador na crise da Venezuela. Mesma circunspecção diante de Donald Trump, que multiplica ataques contra os imigrantes mexicanos. AMLO, em suas comitivas de imprensa matinais, nunca comenta esses ataques, preferindo congratular-se com a "relação respeitosa" que mantém com seu homólogo americano.

      Incerteza dos mercados

      Seu estilo singular dá origem a outras reações epidérmicas. Milhares de funcionários públicos entraram com um recurso contra sua reforma que os proíbe de ganhar mais do que o presidente. Os meios empresariais também denunciam o clima de incerteza nos mercados financeiros desde sua decisão de cancelar as obras em andamento do novo aeroporto da Cidade do México. Diante da imprensa, o entrevistado revida: "O maior aumento do peso em relação ao dólar durante os últimos vinte anos vem comprovar a saúde de nossa economia."

      Para José Antonio Sosa, especialista em comunicação política, "AMLO já fazia conferências diárias quando era prefeito da capital. No momento, apela para a opinião. Mas a prática é arriscada. As pessoas podem ficar entediadas se os resultados demorarem a chegar."

      O exercício de comunicação faz sucesso com os jornalistas. "É inovador falar diretamente com o presidente", diz Ismael Bojorquez, diretor da revista investigativa Riodoce. Antes, a imprensa estava algemada". Mas Bojorquez se preocupa: "Será que ele vai conseguir manter o ritmo?" Depois de um ataque cardíaco em 2013, AMLO afirma estar "em ótima forma", repetindo que ele "não tem direito ao fracasso".

      Tradução de Sylvie Guraud

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