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O fantasma iraquiano assombra a Líbia

França e Reino Unido não querem repetir o fracasso da campanha "democrática" comandada pelos americanos no Iraque. Nada garante, no entanto, a boa fé dos rebeldes líbios prestes a tomar o poder

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Muammar Kadhafi está repetindo os passos de Saddam Hussein. Durante a cruzada dos Estados Unidos contra o que o então presidente George W. Bush chamou de « o eixo do mal », o ditador do Iraque se escondeu. Mas assim como aconteceu naquela época, a tomada de Trípoli não significou – pelo menos por enquanto – o fim do encrenqueiro líbio. A pergunta que fica é : os países que deram um impulso decisivo para sua queda – como a França, Grã-Bretanha e os Estados Unidos – vão repetir a deplorável campanha democrática liderada pelos americanos no Iraque ?  Permitirão eles que o Conselho Nacional de Transição (CNT) Líbio afaste todos os dirigentes ligados ao regime de Kadafi do poder?  Ao excluírem do alto escalão todos os militares e membros do partido de Saddam Hussein, os americanos desestruturaram o Iraque e aceleraram a guerra civil que durou quase uma década – se é que um dia teve fim. 

« Nós vivemos um momento cheio de esperança, mas há ainda riscos à vista », alertou na última semana o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, no momento em que os rebeldes estavam prestes a assumir o controle de Trípoli. Se os insurgentes parecem a ponto de ganhar a guerra, nada garante que eles saberão estabelecer a paz. Será necessário a estruturação de um poder democrático em um país que desconhece tal conceito e veio de uma herança de 42 anos de ditadura. Além disso, o CNT se mostrou nos últimos meses bem frágil. O assassinato de um de seus principais generais, Abdel Fattah Younès, provavelmente por uma facção interna da oposição, e a falta de entendimento na formação de um governo provisório, demonstraram que a coesão é apenas uma fachada. Se antes mesmo de assumir o poder o Conselho parece prestes a cair, como acreditar na sua capacidade de garantir o pós-Kadafi ?

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O risco do fracasso é grande. A experiência iraquiana assombra e ninguém quer repetí-la. Paris, Londres e Washington, que lideram a ofensiva da Otan, não pretendem se eternizar na Líbia – só se for para explorar a bilionária reserva de petróleo do País. Além disso, contrariamente ao Iraque, foram os líbios que decidiram derrubar Kadafi e julgá-lo pelos crimes cometidos em quatro décadas de ditadura. E segundo eles, não haverá espaço para uma intervenção exterior na política local. O que querem é, simplesmente, ajuda financeira – mais precisamente, 1,05 bilhão de euros.

Com o líder Kadafi desaparecido, parte das tropas do regime ainda em guerra contra os rebeldes e os gigantes emergentes do BRIC até agora em cima do muro, entregar o ouro a um grupo quebradiço como esse é quase insano. Uma coisa é fornecer um apoio militar aéreo. Outra é financiar um governo de transição de origem praticamente desconhecida, que não tem nenhuma experiência política. Seria trocar seis por meia dúzia no ditado chulo. O interesse em abrir as portas para os investimentos estrangeiros é evidente, mas não se pode esquecer que os rebeldes são, em sua maioria, fundamentalistas. O discurso pode ser moderado quando tentam chegar ao poder. Mas uma vez instalados, não há nenhuma garantia de que o autoritarismo não volte a reinar.

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