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"O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer", diz Lula no G20

"A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa. Os recursos não chegaram nas mãos dos mais vulneráveis", afirmou

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - Em seu segundo discurso na Cúpula do G20, iniciada neste sábado (9), o presidente Lula (PT) falou sobre desigualdade, após prometer liderar "uma campanha mundial contra a desigualdade". O presidente comparou o mundo "a uma grande família" e disse que "nossa família está cada vez mais desunida". "O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer", completou. >>> "Quem mais contribuiu para o aquecimento global deve arcar com os maiores custos de combatê-lo", diz Lula no G20

Ele destacou o papel do Estado no combate à desigualdade: "a crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa. Os recursos não chegaram nas mãos dos mais vulneráveis. O mercado continuou indiferente à discriminação contra mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência. A desigualdade não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída. Combatê-la é uma escolha que temos de fazer todos os dias". >>> Líderes do G20 divulgam declaração conjunta

No fórum internacional, o presidente repetiu o que vem dizendo no Brasil desde a campanha eleitoral. "É preciso colocar os pobres no orçamento público. E fazer os mais ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios". >>> Lula se reúne com o presidente da Turquia durante Cúpula do G20

O Brasil assume a presidência do G20 após a Cúpula em Nova Delhi, na Índia, e Lula anunciou que lançará "uma Aliança Global contra a Fome. Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês. Para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno. E nos reconhecermos, de fato, como uma grande família. Que não deixa ninguém para trás". >>> Em reunião do G20, Lula cita ciclone no Rio Grande Sul ao cobrar ações de países ricos contra mudanças climáticas

Leia o discurso na íntegra:

Comparo o mundo a uma grande família, cujo bem-estar depende da harmonia entre seus membros – que somos nós.

Eu me pergunto se estamos agindo como bons irmãos. E a resposta, infelizmente, é Não.

Falamos diferentes idiomas, e mesmo assim somos capazes de nos entender perfeitamente.

Temos diferentes personalidades, mas isso não nos impede de trabalharmos juntos pelo bem comum – e tomo como exemplo esta Cúpula do G-20

Apesar de todos os esforços, nossa família está cada vez mais desunida. O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer.

Há dois séculos, a renda dos mais ricos era 18 vezes maior do que a dos mais pobres.

Hoje, em plena quarta revolução industrial, a renda dos mais ricos é 38 vezes a dos mais pobres.

Os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza do planeta, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%. 

De acordo com as Nações Unidas, no ritmo atual, cerca de 84 milhões de crianças ainda estarão fora da escola ate 2030.

Precisaremos de quase 300 anos para atingir a igualdade de gênero perante a lei.

Segundo a FAO, a fome, que afeta mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo.

O mundo desaprendeu a se indignar e normalizou o inaceitável. 

A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa.

Os recursos não chegaram nas mãos dos mais vulneráveis. 

O mercado continuou indiferente à discriminação contra mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência. 

A desigualdade não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída.

Combatê-la é uma escolha que temos de fazer todos os dias.

Na semana passada, lançamos o plano Brasil sem Fome, que vai reunir uma série de iniciativas para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar.

Garantir oportunidades iguais para todos significa assegurar acesso a serviços básicos de qualidade.

Significa formular políticas públicas que contribuam para erradicar o racismo e o sexismo das nossas práticas sociais e institucionais.

No Brasil, tornamos obrigatório que homens e mulheres que fazem o mesmo trabalho recebam o mesmo salário. Essa é uma aspiração antiga da OIT.

Como líderes das vinte maiores economias do mundo, é nosso papel fortalecer a capacidade do Estado de cuidar dos seus cidadãos.

É preciso colocar os pobres no orçamento público.

E fazer os mais ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios.

As instituições financeiras internacionais devem funcionar a serviço do desenvolvimento, em vez de agravar o endividamento.

Novas tecnologias devem ser compartilhadas, em vez de aprofundar o fosso digital entre as nações.

A desigualdade é um flagelo que cresce dentro dos nossos países, mas também entre eles.

A disparidade de renda entre países ricos e pobres quadruplicou entre o começo do século dezenove e o fim do século vinte.

As assimetrias se perpetuaram por nova formas de dependência econômica e financeira, regras e instituições injustas, compromissos não cumpridos.

A Agenda 2030 prometia redefinir essa relação.

É urgente resgatar o espírito de solidariedade que anima os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, para formularmos respostas conjuntas aos desafios econômicos do nosso tempo.

Lançaremos, em nossa presidência do G20, uma Aliança Global contra a Fome.

Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês.

Para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno.

E nos reconhecermos, de fato, como uma grande família. Que não deixa ninguém para trás.

Muito obrigado.