O Sul
Cristina Kirchner aprontou de novo, mas faz sentido expropriar petroleira em nome de investimentos? Vamos de Jorge Luis Borges
Cristina aprontou de novo. Depois de um revival da Guerra das Malvinas, a viúva de Kirchner resolveu expropriar uma petroleira. Eu sei, você acha legítima a revolta contra o dominador espanhol. Mas o nobre leitor realmente acredita que o nacionalismo quixotesco de Cristina Kirchner vai solucionar os problemas de investimento da Argentina? De outra forma: você compraria um carro de alguém que pode tomá-lo no dia seguinte?
Ah, os divertidos debates ideológicos… Seria ótimo travar mais um, se fosse o caso, mas os argentinos não podem — nem deveriam — se dar ao luxo de interpretar as atitudes de seu governo sob esse prisma há mais de 10 anos. Para ser mais preciso, desde a moratória de 2001, quando o país se distraiu e bateu a cabeça na aresta de um batente recém-pintado, da mesma forma que o Juan Dahlmann, do Jorge Luis Borges — e que a escolha de Borges não soe aqui mais do que como um requinte de crueldade.
Em O Sul, o convalescente Dahlmann recupera-se de uma septicemia quando, provocado por bêbados, aceita participar de um duelo de facas, mesmo sabendo que um punhal empunhado por sua inábil mão de nada serviria. Não é valentia, é delírio. “Era como se o Sul tivesse resolvido que Dahlmann devia aceitar o duelo”, escreve Borges.
Não sei se foi o Sul, Néstor, a inflação de maquiagem borrada, as suspeitas de corrupção que rondam o vice-presidente ou as mães da Praça de Maio que levaram Cristina Kirchner a tomar a YPF da Repsol, mas, por mais que isso corrobore sua ideologia, leve em conta a condição em que a decisão argentina foi tomada.
Ao aceitar o duelo, Dahlmann não tinha temor, mas também não tinha esperança. Achava que morrer numa luta de faca seria uma libertação, uma felicidade, uma festa. Que pensará Cristina?
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