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Ortodoxia contra crise intensifica caos na Europa

Enquanto na Grécia dezenas de milhares de pessoas saem às ruas no maior protesto dos últimos meses contra as medidas de austeridade impostas ao país, espanhóis pedem em Madri a renúncia do primeiro-ministro Mariano Rajoy; chefe de governo está cada vez mais próximo de um pedido de resgate ao continente

Ortodoxia contra crise intensifica caos na Europa (Foto: Edição/247)
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247, com Reuters - A polícia grega lançou gás lacrimogêneo contra jovens encapuzados e munidos de pedras e coquetéis molotov nesta quarta-feira, quando dezenas de milhares de gregos tomaram as ruas no maior protesto dos últimos meses contra as medidas de austeridade impostas no país.

Os confrontos ocorreram depois que mais de 50 mil pessoas marcharam rumo ao Parlamento sob os gritos de "não vamos nos submeter à troika (credores)" e "fora UE e FMI!", num dia de greve nacional contra a nova rodada de medidas de austeridade determinadas pela UE e o FMI como exigência para dar mais ajuda ao país.

Ao final da manifestação, dezenas de jovens com roupas pretas jogaram pedras, coquetéis molotov e garrafas na polícia, que respondeu lançando gás lacrimogêneo. A polícia perseguiu os manifestantes pela praça Syntagma, em frente ao Parlamento, enquanto helicópteros sobrevoavam o local. Havia um pequeno foco de incêndio em uma esquina.

A greve, convocada pelos dois maiores sindicados do país --que representaram metade dos 4 milhões de trabalhadores gregos-- é o primeiro grande teste à popularidade do primeiro-ministro Antonis Samaras.

A polícia estimou que o protesto foi o maior desde uma grande marcha em maio de 2011, e foi um dos maiores desde que a Grécia pediu ajuda externa pela primeira vez em 2010.

"Não aguentamos mais isso -- estamos sangrando. Não podemos criar nossas crianças dessa forma", disse Dina Kokou, uma professora de 54 anos e mãe de quatro filhos que vive com uma renda mensal de 1.000 euros.

"Esses aumentos de impostos e cortes de salários estão nos matando."

A insatisfação está concentrada principalmente nos cortes de gastos de cerca de 12 bilhões de euros que o governo terá que fazer nos próximos dois anos, como parte do acordo da Grécia com a União Europeia e o FMI para receber uma nova parcela da ajuda.

Os cortes vão ocorrer nos salários, pensões e benefícios sociais, provocando uma nova onda de aperto financeiro para os cidadãos gregos que alegam que as repetidas medidas de austeridade os levaram à beira da falência e não melhoraram a situação do país.

As férias de verão deram ao governo de coalizão liderado pelos conservadores uma calma relativa nas ruas desde que Samaras chegou ao poder com uma plataforma pró-euro e pró-resgate, mas os sindicatos preveem mais protestos com o fim do descanso.

"Ontem os espanhóis tomaram as ruas, hoje somos nós, amanhã serão os italianos e no dia seguinte, todo o povo da Europa", disse Yiorgos Harisis, sindicalista do sindicato dos servidores públicos Adedy.

Cerca de 3 mil policiais --o dobro do usado normalmente-- foram às ruas para proteger o centro de Atenas. O último grande caso de violência nas ruas de Atenas fora em fevereiro, quando manifestantes colocaram fogo em lojas e agências bancárias depois que o Parlamento aprovou as medidas de austeridade.

Protestos aumentam na Espanha

Protestos violentos em Madri e conversas crescentes sobre separação na rica Catalunha aumentavam a pressão sobre o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, conforme ele se aproxima de um pedido de resgate à Europa.

Em público, Rajoy tem resistido a pedidos de influentes banqueiros nacionais e líderes da França e da Itália para agir rapidamente e pedir ajuda, mas uma série de eventos esta semana irá levá-lo a ficar mais perto disso.

Com manifestantes intensificando protestos contra austeridade, Rajoy apresenta na quinta-feira mais reformas econômicas dolorosas e um orçamento dificíl para 2013, com o objetivo de convencer os parceiros da zona do euro e os investidores de que a Espanha está fazendo sua lição de casa de cortar o déficit, apesar de uma recessão e de desemprego de 25 por cento.

Em entrevista ao Wall Street Journal, Rajoy sinalizou que pode buscar ajuda se os custos de financiamento da dívida persistirem elevados por muito tempo.

"Posso assegurar-lhe 100 por cento que eu pediria esse resgate", afirmou ao jornal, chamando a situação que ele enfrenta agora de "fascinante".

Novos dados na terça-feira sugeriram que a Espanha não alcançará sua meta de déficit público de 6,3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, e na quarta-feira o banco central disse que a economia continuou a contrair com força no terceiro trimestre.

Do lado das reformas, Rajoy espera vendê-las aos eleitores como condições internas ao crescimento ao invés de imposições externas. Diplomatas relataram intensas pressões de última hora sobre Madri por parte de importantes formuladores de política da zona euro para o governo tomar medidas mais duras, particularmente o congelamento de pensões.

Na sexta-feira, a Moody's publicará a sua última revisão do rating de crédito da Espanha, possivelmente rebaixando a dívida do país ao status de "junk".

No mesmo dia, uma auditoria independente dos bancos da Espanha irá revelar quanto dinheiro Madri precisa de um pacote de ajuda de 100 bilhões de euros (129,62 bilhões de dólares) que a Europa já aprovou para a quarta maior economia da zona do euro.

Rajoy também disse que não se decidiu sobre se manterá as pensões indexadas à inflação, o que custaria ao Estado 6 bilhões de euros extra neste ano.

"Precisamos ser flexíveis de forma suficiente para não criar mais problemas", disse ele quando questionado sobre as pensões.

INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA

A posição do governo de controlar os gastos regionais excessivos como parte de suas medidas de austeridade provocou uma retomada do fervor de independência na Catalunha, a rica região do nordeste que gera um quinto da produção econômica da Espanha.

A Catalunha está quebrada e precisa de um resgate de 5 bilhões de euros do governo central para cumprir os pagamentos de dívidas neste ano, mas os catalães estão convencidos de que arcam com uma fatia grande e injusta na carga tributária do país.

Mais da metade diz querer a independência da Espanha, o maior nível já visto.

Artur Mas, o presidente conservador da Catalunha, anunciou na terça-feira que realizará eleições antecipadas em novembro, depois que Rajoy rejeitou seu pedido de mais autonomia tributária.

A votação é um desafio para Rajoy, cujo Partido Popular tem ameaçado assumir um controle central sobre os orçamentos de regiões como a Catalunha que não conseguirem cumprir metas de redução de déficit.

A Catalunha enfrentaria uma série de obstáculos constitucionais para se separar, e tal resultado não é visto como provável para breve.

Grupos antiausteridade planejaram novas manifestações nesta quarta-feira em Madri, um dia depois de a polícia atirar balas de borracha contra milhares de manifestantes que tentavam formar uma corrente humana em torno do prédio do Parlamento.

A política prendeu 35 manifestantes na terça-feira e 64 policiais e manifestantes ficaram feridos nos combates.

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