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Mundo

Paris se define como capital anti-Bolsonaro

Na França, associações, intelectuais e artistas estão se mobilizando contra o regime do presidente brasileiro, percebido no mundo como uma ameaça aos valores civilizatórios

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Por Nicolas Bourcier, publicado no Le Monde, com tradução de Sylvie Giraud – A primeira faísca se deu em um dia de inverno, em 2016, em frente ao Consulado brasileiro em Paris. Eles eram cerca de cinquenta a enfrentar o vento e o frio. Um pequeno grupo veio gritar em protesto contra o processo de impeachment lançado a mais de 8.500 quilômetros dali, em Brasília, contra a presidente Dilma Rousseff. Apenas cinquenta manifestantes, mas o suficiente para dar a impressão de que algo estava acontecendo.

"Foi o início da mobilização, lembra Anaïs Flechet, historiadora, professora na Universidade de Versailles, especialista em música brasileira e membro-fundadora da Arbre, Associação para a Pesquisa sobre o Brasil na Europa. As relações entre França e Brasil são muito antigas, elas tiveram períodos de maior intensidade com os exilados da década de 1960 e 1970, e muitos intercâmbios durante os anos Lula, mas naquele momento realmente tivemos a impressão de que pessoas que eram pouco ou não politizadas subitamente se conscientizaram de que o país estava entrando em uma fase perigosa e de que era preciso fazer algo."

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Um coletivo, Solidarité France-Brésil, se organiza. A iniciativa não tem vida longa, mas permite que sejam postas as primeiras bases. Algumas semanas depois, vários intelectuais, professores e artistas lançam o Movimento Democrático de 18 de março, o MD18. O grupo reúne membros da Arbre e também do Autres Brésils, uma associação dinâmica e influente criada em 2003. A ideia era compartilhar um máximo de informações, organizar eventos e "lutar contra certa narrativa midiática, na França ou no Brasil, especialmente contra a própria noção do impeachment", diz a especialista.

Muito rapidamente, o MD18 assume a liderança das futuras mobilizações. Em janeiro de 2018 o ex-Presidente Lula é condenado. Um mês depois, o exército intervém em diversas favelas do Rio, relembrando os momentos mais sombrios da ditadura. Em março, a deputada Marielle Franco é assassinada. No dia 7 de abril, Lula é preso. "Os acontecimentos se desenrolavam a um ritmo assustador", relembra Anaïs Fléchet. Com o incêndio do Museu Nacional, no Rio [em setembro], e a possibilidade de uma vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, a impressão que tínhamos é que tudo estava indo pelos ares. As pessoas precisavam se encontrar e conversar."

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Um jardim Marielle-Franco

Toda reunião se enche de gente. Rodadas de debates são lançadas na Casa da América Latina e no Instituto de Estudos Avançados da América Latina, IHEAL. Colunas são assinadas no Le Monde, L´Humanité, Libération. Um manifesto contra o Sr. Bolsonaro reúne até personalidades políticas de todas as correntes – com a exceção do RN [Rassemblement National, de Marine Le Pen, extrema direita].

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Mais de 2.000 pessoas se reúnem na praça Stalingrad, em 20 de outubro de 2018, entre os dois turnos da eleição presidencial, respondendo ao apelo da Autres Brésils e da Associação França América Latina. "Bolsonaro despertou grande temor entre as pessoas que conheciam o país, mas que nunca haviam tomado posição", explica Erika Campelo, copresidente da Autres Brésils. Uma nova solidariedade emergiu, como se todos tivessem decidido salvar o Brasil.” Sua associação fundará o Observatório da Democracia Brasileira, voltado especialmente para coletar dados sobre a violência sofrida pela população.

Em 18 de janeiro, duas semanas após Bolsonaro assumir a presidência, uma mesa redonda no IHEAL intitulada "Solidariedade Brasil" lança a ideia de uma plataforma de intercâmbio e de informação. Ela leva o nome da Rede Europeia para a Democracia no Brasil (Red-Br.com) e se conecta ao site americano da Rede dos EUA para a Democracia no Brasil, criado em Nova York pelo especialista da ditadura militar James Greene.

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Em paralelo, a iniciativa lançada pela rede Red e uma dezena de associações e ONGs para dar nome a um espaço púbico em homenagem a Marielle Franco, é coroada de sucesso em tempo recorde. Em 1º de abril, o Conselho de Paris vota por unanimidade em favor do projeto. Pela primeira vez a nível mundial, um novo jardim público no 20º distrito de Paris levará o nome da deputada assassinada. 

Outro evento emblemático, em 25 de Junho, dia em que os juízes do Supremo Tribunal de Brasília devem decidir sobre o pedido de liberdade de Lula, cinquenta artistas e intelectuais, incluindo Chico Buarque e Ariane Mnouchkine, planejam ler no Teatro Monfort, cartas escritas ao ex-presidente desde sua prisão. Os ingressos para o evento estão desde já esgotados.

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Nicolas Bourcier

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