Polícia italiana cobra documentos de 13 marcas de luxo em investigação sobre exploração de trabalhadores
Entre as marcas intimadas estão nomes de destaque do setor: Dolce & Gabbana, Gianni Versace, Prada, Adidas, Off-White, Missoni
247 - A polícia italiana realizou nesta quarta-feira (3) buscas e apreensões nas sedes de 13 marcas de moda de alto padrão para coletar documentos relacionados à governança e ao controle de suas cadeias de fornecimento. As informações foram divulgadas pela Reuters, que teve acesso às ordens judiciais.
Embora as empresas tenham sido notificadas a entregar uma extensa lista de documentos — incluindo dados internos, contratos, organogramas e registros de auditoria — nenhuma delas está formalmente sob investigação. As solicitações ocorrem no contexto de uma apuração sobre suspeitas de exploração de trabalhadores em oficinas terceirizadas, especialmente estabelecimentos de propriedade de chineses que já eram alvo de inspeções.
Entre as marcas intimadas estão nomes de destaque do setor: Dolce & Gabbana, Gianni Versace, Prada, Adidas, Off-White, Missoni, Ferragamo, Givenchy, Alexander McQueen, Gucci, Yves Saint Laurent, Cris Conf. (Pinko) e Coccinelle.
Por que as marcas foram envolvidas
De acordo com documentos judiciais analisados pela Reuters, as grifes foram incluídas na investigação porque, durante fiscalizações realizadas nos últimos dois anos, a polícia encontrou peças, etiquetas e registros de subcontratação relacionados a essas empresas em oficinas envolvidas com práticas consideradas abusivas. Outras seis companhias do setor já tiveram administração judicial solicitada ou imposta nesse período.
No entanto, no caso das 13 marcas notificadas agora, os promotores avaliaram que as quantidades de produtos encontradas eram menores, o que, por ora, afastou medidas mais severas.
O que as autoridades querem descobrir
A unidade trabalhista dos Carabinieri, que conduziu a operação em Milão com apoio de equipes em Florença, Parma e Varese, busca esclarecer até que ponto grandes marcas podem ter se beneficiado — mesmo que indiretamente — de mão de obra explorada. O material solicitado permitirá avaliar se os modelos de governança e compliance dessas empresas são adequados para prevenir abusos.
Após a entrega dos documentos, as grifes poderão fazer correções internas voluntárias nos seus sistemas de controle, caso algum ponto crítico seja identificado. Segundo os promotores, se as empresas não demonstrarem melhorias, medidas preventivas adicionais poderão ser adotadas.
Governo quer reforçar proteção ao “Made in Italy”
A investigação ocorre em meio a um esforço maior do governo italiano para preservar a reputação da moda nacional. O ministro da Indústria, Adolfo Urso, anunciou em outubro um projeto de lei que cria uma certificação legal para empresas do setor, permitindo avaliar a conformidade trabalhista de toda a cadeia produtiva.
Segundo Urso, “com essa medida, será possível garantir a segurança da cadeia de suprimentos da moda italiana, um orgulho do ‘Made in Italy’, e proteger sua reputação em todo o mundo”.
A Itália abriga milhares de pequenos fabricantes, responsáveis por cerca de 50% a 55% de toda a produção mundial de artigos de luxo — um ponto de vulnerabilidade, já que boa parte dessas oficinas é subcontratada por grandes marcas.
Em maio, grifes italianas firmaram um acordo com autoridades judiciais e políticas para ampliar o combate à exploração de trabalhadores, após uma série de escândalos envolvendo condições precárias de trabalho.
O que os promotores querem examinar
As ordens judiciais exigem uma lista detalhada de documentos, que inclui:
- Governança: registros completos e históricos das empresas, contratos internos, organogramas e atas de conselhos desde 2023.
- Controles internos: procedimentos de credenciamento e monitoramento de fornecedores e instruções operacionais.
- Avaliação de riscos: modelos de organização, códigos de conduta, registros de denúncias (whistleblowing), sanções disciplinares e certificações de treinamento.
- Auditoria: planos de trabalho, relatórios, listas de fornecedores e subcontratados e contratos com oficinas investigadas.
A análise deve avançar nos próximos meses, enquanto as empresas reúnem e enviam o material solicitado às autoridades de Milão.
