Políticos, intelectuais e ativistas internacionais apelam por respeito ao resultado das urnas no Brasil
Entre os que assinam o manifesto estão Noam Chomsky, Mélenchon, Danny Glover, Roger Waters e Estela de Carlotto
247 - Um grupo de intelectuais, ativistas e lideranças políticas prestigiados apoiam um manifesto virtual que alerta para o risco de instabilidade no Brasil diante do comportamento de Jair Bolsonaro e seus aliados de desacreditarem no sistema eleitoral brasileiro. Eles defendem ainda eleições livres em outubro e respeito ao resultado das urnas.
Entre os que assinam o manifesto estão o juiz espanhol Baltasar Garzon, o linguista americano Noam Chomsky e o líder político francês Jean-Luc Mélenchon. O texto recebe ainda o apoio de Estela de Carlotto, presidenta da associação Avós da Praça de Maio, na Argentina, o ator e ativista Danny Glover e o músico Roger Waters.
“A democracia no Brasil hoje precisa do apoio e da vigilância do mundo. Que a constituição e o sufrágio popular sejam respeitados é nossa responsabilidade comum”, defende o texto.
“Chegou a hora de levantar um poderoso movimento de solidariedade internacional em defesa do processo democrático no Brasil. É por isso que nós, intelectuais e intelectuais, políticos, artistas, ativistas, cidadãos, chamamos a exigir: Que as eleições presidenciais no Brasil ocorram nos termos da Constituição; Que todas as ameaças e violências contra os candidatos e seus apoiadores sejam condenadas e combatidas; Que as instituições republicanas sejam mantidas em suas atribuições e respeitadas suas decisões; Que as forças armadas não interfiram no processo eleitoral, nem na contagem dos resultados, nem na transmissão do poder”, acrescenta.
A solidariedade internacional não é uma palavra vazia
Com a aproximação das eleições presidenciais no Brasil que ocorrerão no domingo, 2 de outubro de 2022, diversas personalidades políticas e intelectuais do mundo assinaram um chamado para a realização de eleições livres e respeito aos resultados das urnas no Brasil . Entre os que assinaram: o juiz espanhol Baltasar Garzon, o linguista americano Noam Chomsky e o líder político francês Jean-Luc Mélenchon.
Em poucas semanas, o Brasil terá sua nona eleição presidencial desde o fim da ditadura militar e, pela primeira vez desde 1988, há um grande risco de que o sufrágio popular não seja ouvido e respeitado.
Há vários anos, o presidente Jair Bolsonaro planeja contestar sua eventual derrota ao desacreditar o sistema eleitoral brasileiro. Ele acusa os juízes dos tribunais superiores de serem corruptos e partidários, prevê que os votos serão adulterados, suspeita que a mídia esteja a serviço do campo adversário. Inspirado na estratégia de Donald Trump, o presidente brasileiro mobiliza seus apoiadores apresentando-se como vítima, perseguido por um establishment vendido à esquerda, e como único salvador e redentor da nação. Ele demoniza seus adversários e os designa como inimigos. Ao fazê-lo, prepara militantes, muitos deles armados, para a violência política e até para a insurreição.
Essa deriva não surpreende em um caráter abertamente nostálgico da ditadura militar e cheio de desprezo pelas instituições republicanas, pelo pluralismo político e pelo Estado de Direito. Mas hoje é como Chefe do Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas que ele pronuncia essas diatribes extremistas, enquanto quatro anos no poder radicalizaram sua base militante. Nenhum golpe de estado jamais foi tão anunciado.
A democracia no Brasil hoje precisa do apoio e da vigilância do mundo. Que a constituição e o sufrágio popular sejam respeitados é nossa responsabilidade comum.
O destino de um país de dimensões continentais, com uma população superior a 212 milhões de habitantes, um património ambiental de importância crucial para o futuro do planeta e um papel preponderante na economia e governação mundial, é uma questão cujas consequências vão muito além as fronteiras do Brasil. A solidez da democracia brasileira e o respeito ao Estado de Direito, aos direitos humanos, ao meio ambiente, aos direitos dos povos indígenas e outros grupos marginalizados são questões que dizem respeito a todos e, como tal, são objeto de nossa legítima atenção e solidariedade. A democracia deste imenso país é nosso bem comum e não podemos permanecer meros espectadores.
Chegou a hora de levantar um poderoso movimento de solidariedade internacional em defesa do processo democrático no Brasil.
É por isso que nós, intelectuais e intelectuais, políticos, artistas, ativistas, cidadãos, chamamos a exigir:
- Que as eleições presidenciais no Brasil ocorram nos termos da Constituição;
- Que todas as ameaças e violências contra os candidatos e seus apoiadores sejam condenadas e combatidas;
- Que as instituições republicanas sejam mantidas em suas atribuições e respeitadas suas decisões;
- Que as forças armadas não interfiram no processo eleitoral, nem na contagem dos resultados, nem na transmissão do poder.
A democracia é um bem precioso e frágil, do qual todos somos fiadores. Neste ano em que o Brasil comemora o bicentenário de sua independência, seu desafio histórico continua sendo o de defender um país democrático, plural e inclusivo. A democracia brasileira também é nossa e a solidariedade internacional não deve ser uma palavra vazia.
Já assinou
Baltazar Garzon – Juiz, Espanha
Danny Glover – Ator/Cidadão, EUA
Eric Fassin – Universidade de Paris, 8, França
Estela de Carlotto – Presidente, Avós da Plaza de Mayo
Eugenio Raul Zaffaroni – Ex-Ministro da Corte Suprema da Argentina, 2003-2014, desde 2015, Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos
Gerardo Pisarello – Deputado Parlamentar, Primeiro Secretário do Congresso dos Deputados da Espanha, Podemos, Espanha
Guillaume Long – Conselho Consultivo da CAF, Equador, ex-chanceler
Idoia Villanueva – Membro do Parlamento Europeu, Podemos e Secretária Internacional do Podemos, Espanha
Comitê Internacional – Socialistas Democráticos da América
Ione Bellara – Ministra dos Direitos Sociais, Podemos, Espanha
Jean-Luc Mélenchon – Fundador do Movimento La France Insoumise, França
Juan Carlos Monedero – Podemos, Espanha
Noam Chomsky – Universidade do Arizona, EUA
Olivier Compagnon – Instituto de Estudos Avançados da América Latina, Universidade Sorbonne Nouvelle, Paris, França
Pablo Iglesias – Podemos, Espanha, ex-vice-presidente
Pierre Salama – Membro do Conselho Distrital de Seine-Saint-Denis
Rodolfo Nin – Ex-vice-presidente e ex-chanceler, Uruguai
Roger Water - Músico, cantor, compositor e compositor, Reino Unido
Silvia Capanema – Universidade da Sorbonne, Paris Norte, França
William Bourdon – Rede CAF, França
