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“Prevenir a expansão desordenada do capital”: o que o slogan de Xi Jinping diz sobre os próximos 5 anos da economia chinesa?

Pequim conduziu uma cruzada contra grandes empresas monopolistas, levando alguns observadores a afirmar que Xi Jinping deseja trazer a China de volta às suas raízes maoistas

Placas de lembrança com imagens do falecido presidente chinês Mao Zedong (D) e do atual presidente chinês, Xi Jinping, são vistas em Pequim, China, 21 de outubro de 2017. (Foto: Reuters/Tyrone Siu)
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Leonardo Sobreira, de Pequim (247) - “Prevenir a expansão desordenada do capital”. Esse slogan, repetido frequentemente por Xi Jinping nos últimos dois anos, tem atormentando aqueles que acreditam que Pequim estaria supostamente planejando uma repressão generalizada às grandes empresas privadas em favor do capital estatal.

A expressão foi cunhada em 2020 por Xi Jinping em meio à campanha regulatória contra o Ant Group, braço financeiro do gigante do comércio eletrônico Alibaba. Reguladores bloquearam a oferta pública inicial da empresa financeira, impedindo o que teria sido uma venda recorde de ações, e estabeleceram limites para empréstimos online a pessoas físicas. À época, o Banco Popular da China citou a necessidade de conter a tendência monopolista na indústria de pagamentos, assim como de controlar as “expansões excessivas de capital” no setor. 

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O cerceamento ao Ant Group foi apenas o começo de uma implacável cruzada do PCCh contra o que Xi Jinping vê como excessos do processo de abertura da economia chinesa. Em junho de 2021, a Administração do Ciberespaço da China impediu a Didi Chuxing, plataforma da área de transporte privado urbano, de obter novos usuários dias após sua estreia na Bolsa de Valores de Nova York. A empresa de Pequim foi acusada de ameaçar a segurança nacional ao ter armazenado irregularmente dados de mais de 57 milhões de motoristas e ter analisado dados de passageiros sem seu consentimento. Em maio deste ano, uma maioria dos acionistas majoritários votou pela exclusão da companhia da Bolsa de Nova York. 

As campanhas regulatórias contra as grandes empresas não estão limitadas ao setor de tecnologia. Em agosto de 2020, Pequim introduziu uma política de três linhas vermelhas que impôs limites sobre o tamanho da dívida que construtoras podem assumir, ajudando a desalavancar o setor imobiliário. Como diz Xi Jinping, em mais um de seus slogans favoritos, as casas chinesas são “para morar, não para especular”. Outras indústrias, como educação privada, video games e entretenimento também entraram na mira do PCCh.

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Mas estariam investidores corretos ao avaliar que a repressão dos últimos anos seria o prelúdio de uma marcha de retorno ao maoismo? Poderia Xi Jinping, filho de um líder da revolução que levou os comunistas ao poder em 1949, dar um passo além, tornando sua campanha para frear os excessos capitalistas em um esforço para conter toda a indústria privada? 

Para o professor Michael Hudson, da Universidade de Missouri, o 20º Congresso Nacional do PCCh será o ponto de partida para a adoção de uma linha ainda mais dura no embate com o livre mercado. 

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“Os chineses com quem conversei durante anos e anos não esperavam que o dólar enfraquecesse. Eles não estão chorando por sua ascensão, mas estão preocupados com a fuga de capital da China, pois acho que depois do Congresso do Partido haverá uma repressão à defesa do livre mercado de Xangai. A pressão para as próximas mudanças vem se acumulando há muito tempo. O espírito de reforma para conter os ‘mercados livres’ estava se espalhando entre os estudantes há mais de uma década, e eles estão subindo na hierarquia do Partido”, escreveu Hudson, em uma troca de e-mails recente com o jornalista Pepe Escobar.

Essa interpretação está em linha com declarações passadas do presidente chinês. “Só o socialismo pode salvar a China”, proclamou Xi quando assumiu o comando do PCCh no final de 2012. Outra frase favorita do mandatário, “prosperidade comum”, mostra sua seriedade em conduzir a China de volta às suas raízes maoistas, segundo alguns observadores no Ocidente.

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“Xi quer abordar uma questão muito contemporânea, a maneira como as reformas neoliberais tornaram a China muito menos igualitária, e trazer de volta o senso de missão que moldou a China maoísta inicial”, disse Rana Mitter, professora de história e política chinesa da Universidade de Oxford, à agência Reuters em setembro do ano passado. 

No entanto, o quadro é mais complexo. A derrocada de algumas listagens nas bolsas de valores e a bolha imobiliária que debilitou construtoras como a Evergrande aconteceram ao mesmo tempo que outras empresas prosperavam como nunca. Segundo um levantamento da Bloomberg, empresas levantaram US$ 58 bilhões em IPOs na China continental até agosto deste ano, uma quantia recorde. Ainda de acordo com a agência, os dez homens mais ricos da China acumularam um patrimônio líquido de US$ 167 bilhões desde o início de 2020. 

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A tendência geral na China é de crescimento estrondoso do setor privado. O Instituto Peterson de Economia Internacional, um think-tank americano, aponta que, em 2020, as empresas  privadas responderam por mais da metade da capitalização de mercado das 100 maiores empresas listadas na China, em comparação com menos de um décimo na década anterior. Companhias de controle privado empregam quatro em cada cinco trabalhadores urbanos chineses, e 32 destas figuram no ranking Fortune 500 das maiores empresas do mundo em termos de receita, ante nenhuma em 2005.

As próprias declarações recentes de Xi Jinping afastam os temores de uma repressão generalizada ao capital privado. Falando em uma sessão de estudo em grupo do Birô Político do Comitê Central do PCCh de abril deste ano, o mandatário defendeu o “desenvolvimento saudável” do capital e pediu medidas regulatórias apenas contra o que chamou de “expansão desordenada”.

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“O capital é uma força importante para promover as forças produtivas sociais”, assegurou Xi na ocasião, exigindo esforços para orientar as grandes empresas em conformidade com a lei. O objetivo é alcançar um “novo modelo econômico com abertura de nível superior”, acrescentou. 

Ele também defendeu a continuação da abertura ao mundo exterior, expressando esperança de “atrair mais capital estrangeiro” para investir na China. Por fim, incentivou as empresas chinesas a se tornarem globais.

Separadamente, o presidente chinês recentemente instou a nova geração a “ousar começar um negócio”. O Estado direciona amplos incentivos às startups que atuam em áreas estratégicas designadas pelo governo, como microchips, computação quântica e em nuvem, genética, energia verde e manufatura de alto padrão. Empresas de internet e de plataformas não são mais vistas como autenticamente inovadoras.

Além de comprar participações diretas nestas startups, o governo central e administrações regionais fomentam a inovação por meio de iniciativas como criação de parques industriais e de bancos de talento e designações de afiliação estatal, que geram boas relações públicas. Foram essas políticas de apoio à inovação, aliadas a pesquisa e desenvolvimento e abertura econômica, que tornaram a China o lar de mais de 150 unicórnios, líderes mundiais no campo da IA, robótica e visão computacional, segundo o Fórum Econômico Mundial

A relação do PCCh com o capitalismo não está azedando. Os freios aplicados a algumas grandes empresas refletem apenas uma tentativa de transformar os mercados de capitais em uma linha direta de financiamento privado para objetivos estratégicos. No gigante asiático, continuidade e mudança caminham lado a lado. 

O 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China começará no próximo domingo, 16, no Grande Salão do Povo, em Pequim. A expectativa unânime de observadores da política chinesa para esta edição do evento é que os 2.296 delegados eleitos renovem o mandato presidencial de Xi Jinping por mais 5 anos.

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