XP e Grizzly reacendem disputa após novo estudo apontar subdesempenho de empresas que processam analistas
Relatório da Grizzly Research volta a mirar a XP e provoca reação da companhia, que fala em distorções e reforça ações judiciais no Brasil e nos EUA
247 - A tensão entre a XP Inc. e a Grizzly Research ganhou novo capítulo depois da divulgação de um estudo da firma ativista norte-americana sobre o desempenho de empresas que processam analistas críticos. A reportagem foi publicada originalmente pelo Brazil Stock Guide, que acompanhou os desdobramentos da disputa iniciada em março, quando a Grizzly comparou práticas da XP a um “esquema Ponzi” — acusação contestada pela empresa, que levou o caso aos tribunais no Brasil e nos Estados Unidos.
O novo relatório, divulgado em 21 de novembro, sustenta que companhias que movem ações contra vendedores a descoberto tendem a registrar forte subdesempenho em relação ao S&P 500 no longo prazo — segundo o documento, uma diferença média de 72%. A XP aparece entre os 24 casos analisados. Para o fundador da Grizzly, Siegfried “Siggy” Eggert, o objetivo é defender a liberdade de expressão e ampliar a transparência no mercado. Ele afirmou que “we have heard that Brazilian media outlets who dare to discuss XP critically were pressured to retract negative reporting”.
O que diz o estudo
De acordo com a pesquisa, entre março, quando o primeiro relatório foi publicado, e agosto de 2025, as ações da XP subiram 9,4% em termos absolutos, mas ficaram 2,3% abaixo do S&P 500. Após o início das ações judiciais, a Grizzly estima queda adicional de 16%. Eggert declarou ao Brazil Stock Guide que “we have not changed our opinion on XP”, enfatizando confiança na veracidade das acusações feitas no início do ano. O próprio relatório reconhece que a Grizzly e empresas associadas mantinham posições vendidas no papel na data da divulgação.
Especialistas ouvidos pelo Brazil Stock Guide ponderam que a metodologia mistura casos de empresas já delistadas, em dificuldade operacional ou próximas de falência, sem ajustes setoriais ou regulatórios. A crítica é de que essa abordagem reforça a tese da Grizzly, mas cria comparações assimétricas.
Quem é a Grizzly Research
Criada em 2019, em Nova York, a Grizzly ganhou notoriedade por publicar relatórios agressivos e operar em paralelo posições vendidas nos ativos investigados — prática que gera potenciais conflitos de interesse e costuma atrair atenção de reguladores. O grupo acumula visibilidade e, também, críticas a certos métodos de investigação.
A resposta da XP
A XP repudiou as conclusões do estudo e disse que a Grizzly insiste em divulgar alegações “já refutadas” nos processos em andamento. Em nota enviada ao Brazil Stock Guide, a empresa declarou:
“As XP stated in March, legal measures have been taken in both Brazil and the United States, and the company maintains full confidence in the judiciary. The information released by the research firm, both in March and in November, not only distorts the facts but also reflects a persistent attempt to sustain narratives already disproven in ongoing proceedings. XP reiterates its commitment to integrity and to the trust of its clients and remains confident that the competent authorities will continue to bring the truth to light.”
Banco Master entra no radar
A controvérsia reacendeu discussões sobre a liquidação do Banco Master, liderado por Daniel Vorcaro, e a distribuição dos CDBs da instituição, que pagavam 150% da Selic e eram cobertos pelo FGC. A XP foi a principal distribuidora, com R$ 26 bilhões dos R$ 41 bilhões emitidos — volume que consumiu cerca de um terço do fundo garantidor. Eggert afirmou que a recente cobertura da imprensa brasileira sugere que “o papel da XP no caso do Banco Master é preocupante e se relaciona diretamente com os pontos discutidos pela Grizzly”.
Questionado sobre os riscos jurídicos para sua firma, disse: “Ultimately only regulators have the power to intervene. Public reporting is key to increasing transparency and raising important questions.”
Reação do mercado e efeitos legais
O primeiro relatório da Grizzly provocou forte volatilidade: as ações da XP chegaram a cair 8% no intraday e fecharam em queda superior a 5%. Nas semanas seguintes, o papel recuperou parte das perdas, apoiado em resultados operacionais como aumento de receita, expansão da base de clientes e diversificação de produtos.
Nos Estados Unidos, a Justiça Federal de Delaware autorizou o uso da seção 1782, que permite à XP obter documentos e depoimentos da Grizzly. A firma apresentou moção pedindo que o pedido seja anulado ou limitado, alegando excessos. Em Nova York, a Grizzly moveu uma ação para encerrar o processo e acionou a lei anti-SLAPP, acusando a XP de tentar “punir e intimidar investigação independente”. No Brasil, a XP mantém uma investigação criminal em curso e afirma que as alegações da Grizzly “já foram rebatidas nos autos”.
Nenhum sinal de acordo
A Grizzly descarta rever o relatório, negociar acordo ou emitir retratação parcial. A resposta ao Brazil Stock Guide foi direta: “We intend to vigorously defend against XP’s claims, which we believe are without merit.” A empresa não comentou se tem estrutura financeira para sustentar uma disputa que pode chegar a US$ 100 milhões.
A expectativa é de que o embate continue nos tribunais e no debate público, sem perspectiva de trégua entre as partes.
