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Poder

A capital da corrupção

Nós, brasilienses, não gostamos quando falam isso, mas aqui pululam corruptos e corruptores, protegidos e badalados

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A primeira imagem associada a Brasília, em outras cidades brasileiras, é a da corrupção. A segunda é a de lugar onde vivem, muito bem, os marajás do serviço público. Temos a arquitetura de Oscar Niemeyer, o plano urbanístico de Lucio Costa, os jardins de Burle Marx, os painéis de Athos Bulcão, as esculturas de Bruno Giorgi, Alfredo Ceschiatti e Mary Vieira. Temos produção cultural que vai além do rock que ganhou o país. Em nenhum lugar do país a nacionalidade é tão bem representada, pois há gente e manifestações culturais de todos os cantos. O Cerrado é lindo, o céu é maravilhoso. Mas não adianta: Brasília, para o Brasil, é um antro de corrupção e de marajás. Esta é a imagem preponderante da cidade.

É um ônus de ser capital federal e é claro que nós, brasilienses, não gostamos dessa imagem. Reagimos quando se diz que aqui é a ilha da fantasia, um enclave de prosperidade graças aos recursos públicos abundantes. Os brasilienses não são todos corruptos, nem marajás. Em Brasília há pessoas honestas, há trabalhadores, há aqui o que existe em outras cidades. Coisas boas e coisas ruins, como em qualquer lugar. Mas muitos brasilienses contam os dissabores que sofrem ao viajar, ao se identificarem como moradores da capital federal ou serem identificados pelas placas dos automóveis. São olhados como – e às vezes chamados de -- corruptos ou marajás.

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Reagimos às agressões e às generalizações injustas, protestamos contra os que atacam a cidade. Mas de nada adianta, pois a realidade é mais forte: a corrupção em Brasília é grande e há muitos corruptos e corruptores circulando entre nós; temos, sim, funcionários improdutivos que ganham muito e trabalham pouco, ou não trabalham; e uma elite econômica localque enriqueceu às custas dos governos local e federal, e em grande parte de modo ilícito.

Corruptos e corruptores existem em todo o país, mas muitos deles, nacionais e locais, federais e distritais, pululam por aqui. Estão por todo canto e gozam de um tipo de imunidade que vem ou do poder que têm, do dinheiro que gastam e da cumplicidade que até gente honesta parece ter com eles.

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E há outro tipo de cumplicidade, talvez a mais perigosa e que atende pelo nome de governabilidade. O pretexto para essa cumplicidade é que combater a corrupção e demitir e processar corruptos pode prejudicar o bom funcionamento dos governos, que precisam do apoio parlamentar de políticos e partidos corruptos. Sem esse apoio, o governo não governa, alega-se.

É exatamente o que está acontecendo agora no governo federal, quando se protege o ministro da Agricultura porque ele é do PMDB e indicado pelo vice-presidente Michel Temer. Qualquer um em Brasília sabe que a corrupção grassa no Ministério da Agricultura, como em diversos outros ministérios e órgãos públicos. Não se restringe aos Transportes e ao PR.

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Protegidos, os corruptos e corruptores continuam a circular livremente em Brasília. Eles estão, anfitriões ou convidados, em festas da chamada alta sociedade brasiliense, a elite econômica da cidade que prima pela breguice, pelo mau gosto e pelos erros de concordância. Estão nas fotos e são citados em colunas sociais, sorrisos ensaiados, dentes e jóias à mostra.

Nos fins de semana, saem com suas lanchas pelo Lago Paranoá. Circulam de mesa em mesa nos restaurantes badalados e pedem vinhos caríssimos, por exibicionismo. Estão, como ocupantes ou visitantes, nos gabinetes federais e distritais, nos corredores dos poderes. Pela manhã ou no fim da tarde, alguns podem ser encontrados em academias e caminhando no Lago Sul.

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Quando a Polícia Federal fez a Operação Caixa de Pandora, aquela que levou ao fim do governo de José Roberto Arruda, as concessionárias de carros importados, as joalherias, as lojas de roupas de grife e os restaurantes de luxo sentiram o golpe: ninguém mais estava gastando em dinheiro vivo, como era comum. O consumo AAA diminuiu quando a cidade foi abalada pelo escândalo que derrubou um governo. A lavagem de dinheiro era, então, muito perigosa. Os que não estariam onde estão se não fosse o dinheiro obtido nos negócios e nas negociatas com os governos, tremeram.

Agora já voltou tudo ao normal. É como se nada tivesse acontecido, ou esteja acontecendo. Perderam o medo, apesar da Caixa de Pandora, das recentes denúncias feitas pela imprensa, das demissões de autoridades e funcionários. Talvez por saber que o Ministério Público e a PF não dão conta de todos eles, que não podem mais ser algemados, que a legislação é benevolente, que a Justiça é lenta e eles têm muitos amigos juízes. E também que são protegidos pela tal da governabilidade. E, em última instância, para que servem aqueles advogados muito caros, mas bem eficientes?

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É como nas mesas de pôquer em que alguns deles perdem milhares de reais em uma noite: há riscos, mas é um jogo e pode valer a pena. Os que são pegos são considerados simplesmente azarados, mas logo estarão de volta e circulando livremente pela capital, livres e sorridentes, bolsos cheios, frequentando lojas e restaurantes de luxo, cumprimentados e homenageados nas festas e na imprensa.

E com eles soltos por aqui, Brasília, gostemos ou não, continuará carregando a imagem de cidade da corrupção.

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