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"A elite acha normal que 1% da população concentre um terço da renda nacional", diz José Dirceu. "O País vai explodir", adverte

Em entrevista ao Sua Excelência, O Fato, na TV 247, ex-ministro da Casa Civil de Lula defende alianças amplas por governabilidade e mudanças urgentes em 2023

Reprodução | ABr (Foto: Reprodução | ABr)
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247 – “É possível mudar o Brasil. A imensa maioria dos brasileiros sabe que o principal problema do Brasil é a desigualdade social, que vem da concentração de renda”, diz José Dirceu, advogado, militante do PT, como ele se identificou no card do programa Sua Excelência, O Fato, que foi ao ar ao vivo na TV 247 na última 3ª feira, 25 de fevereiro, às 10h e tem link para a íntegra no final deste texto. E segue, na altura dos 20min da entrevista, revelando quão afiada está a percepção que tem do País e da conjuntura: “Tem que taxar os ricos. E o problema se agrava quando fechamos o foco nas mulheres e na maioria de negras e negros. Vem aí também uma geração 1995/2005 que vai começar a votar. A minha filha, que nasceu em 2010, vai votar em 2026. Essa geração não aceita esse establishment político. Não aceita essa situação social do Brasil. Ela já começou a se manifestar na eleição de 2020. Haverá uma mudança no Brasil. A elite brasileira não vai poder dormir em paz. Se ele está achando que o problema é o Lula, o PT, ela está completamente enganada. O problema do Brasil é o Brasil.” 

Para Dirceu, que foi ministro da Casa Civil de Lula, foi deputado federal e presidiu o Partido dos Trabalhadores, “é estultice querer dizer que é normal ter um País onde 1% da população fica com ⅓ da renda e 50% da população com apenas 10% a renda nacional”. Segundo ele, “não há nenhum País com a potência que o Brasil é”. E alerta: “O que eles (as elites) estão fazendo com o Brasil, historicamente falando aqui, é inacreditável. Em dois governos você põe a Educação brasileira com ensino integral – toda ela – e põe a nossa Educação no Século 21. Ela está no Século 20 ainda. Sem uma revolução científica, educacional, tecnológica, nós não vamos a lugar nenhum”.

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José Dirceu chama atenção para a total falta de compromisso da elite nacional para com o futuro do Brasil. “Eu não vejo nas elites brasileiras nenhum sentido nacional, nenhum sentido de projeto de País. Estão mudando para Miami. Estão gastando o que ganharam no rentismo, em Miami. Eu pergunto: onde estão os líderes políticos e os líderes empresariais brasileiros que vão pensar o Brasil? Mesmo que seja num pacto, com concessões nossas e deles… agora, se nós não avançarmos, com essas reformas básicas, se eles persistirem nesse modelo, o País vai explodir. É uma ilusão deles. Vai cair na cabeça deles”.

Dirceu defende a legitimidade das negociações e pactos de Lula

“O que nós precisamos é fazer campanha eleitoral e ganhar a maioria na Câmara e no Senado. Sem isso, não se vai a lugar nenhum”, explicita o ex-ministro e ex-presidente do PT, para quem as negociações e alianças que o ex-presidente Lula vem construindo estão corretas. “Nós estamos perdendo muito tempo com a discussão do vice do Lula. Perdendo muito tempo com essa discussão. Se nós queremos mudar o Brasil, todos aqueles que são militantes, ou que têm consciência política, cidadãs, cidadãos, têm que convencer a maioria da população a votar em deputados e senadores de nosso campo”.

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Dirceu alerta que, além de urgentes, as mudanças passam por uma Reforma Política que vê como essencial para evitar a “explosão” do Brasil. “É só olhar para Brasília, olhar o que está acontecendo no Orçamento do País, as emendas impositivas, o Orçamento secreto, não vou nem falar do bolsonarismo, do negacionismo, do obscurantismo, do fundamentalismo”, diz. E prossegue: “tem que mudar o Parlamento! Inclusive, para poder mudar as instituições. Tem que fazer Reforma Política. Esse sistema político vai apodrecer. Vai cair de podre. Achar que não vai acontecer nada no Brasil, que as novas gerações vão aceitar essa encenação patética que nós assistimos em Brasília? Sobre o Orçamento do País?”

A partir desse ponto da entrevista, José Dirceu aborda a urgente e necessária repactuação tributária. “O País já não tem recursos, já enfrenta dificuldades, já acumulou uma dívida que só cresce por causa da política de juros, por causa do cartel bancário. Por causa do rentismo. Porque a Europa toda paga juro negativo, senão a Itália, o Japão, por exemplo, já tinham quebrado há muito tempo. Até os Estados Unidos tinham quebrado”, diz ele. “Então a minha visão é essa: nós temos de nos concentrar para dar a Lula aquilo que ele precisa para fazer as reformas que o Brasil exige. Mesmo que tenha que se pactuar, negociar… aliás, o Lula sempre pactuou, sempre negociou, sempre procurou o consenso progressivo, nunca retaliou adversário a não ser na disputa eleitoral. Aí, nós tivemos que derrotar os que, por exemplo, não aprovaram a CPMF… desses, só um se elegeu. Dos sete ou oito que foram contra a CPMF. Mas, não houve retaliação no governo, não como o bolsonarismo faz”. 

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“Eu não vejo o Lula assumindo a Presidência da República para não fazer mais e melhor”, deixa claro o ex-ministro da Casa Civil. “E, também, para deixar de atender à expectativa e ao anseio do povo brasileiro. Senão, ele não precisa ser presidente da República”, diz. “Ele pode apoiar alguém, eleger alguém, e dizer que cumpriu o papel dele. O Lula está enfrentando o desafio que está enfrentando, com a idade que nós temos, eu faço 76 anos agora em março, igual a ele, porque ele tem um compromisso com o povo brasileiro, com os pobres, com os deserdados deste País, com os trabalhadores, com esses todos que estão na expectativa de ter um governo, como ele diz, que volte a pôr o povo no Orçamento e os ricos no imposto de renda”. 

Dirceu enfatiza duramente as diferenças de renda da população brasileira. “Querem achar que é normal 1% da população ter um terço da renda? E 50% com apenas 10%? Eles querem entrar para a OCDE (Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico, conhecido como ‘Clube dos Ricos’ para o qual o Brasil foi formalmente convidado na última semana, com regozijo do governo Bolsonaro) né? Querem fazer tudo igual à OCDE… o Sistema Financeiro, a Lei de Patentes, a abertura comercial, tudo no modelo OCDE. Mas, quando chega na questão tributária eles não querem copiar o modelo da OCDE”, ironiza. E prossegue: “Eu quero o modelo tributário da OCDE no Brasil. Já dá ao governo parte da renda nacional para ciência, tecnologia e educação. Para combater a pobreza e a miséria. Porque nós provamos que não há como crescer no mundo de hoje sem distribuição de renda. Com pré-distribuição de renda, até”.

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Revelando uma capacidade ímpar de fazer análise e síntese da situação nacional, Dirceu propõe: “tem que fazer uma distribuição de renda para a economia voltar a se movimentar. E os bancos públicos? Qual o País do mundo que tem quatro, cinco bancos públicos? Com  a metade da capacidade de empréstimo e do ativo bancário nas mãos de bancos públicos? E não usa isso a favor do desenvolvimento? Qual o País que tem uma empresa como a Petrobras? Todas as empresas estão virando empresas de energia. A Petrobras era uma empresa de energia. Reduziram a Petrobras a uma empresa de produzir petróleo, apenas. Uma coisa que daqui a 30, 40 anos, vai ser secundário, produzir petróleo.... Em vez de nós avançarmos, estamos retrocedendo”, adverte de forma dura e séria. E prossegue: “Deram a renda do petróleo, fabulosa, para 15 grupos econômicos. Para dois milhões de investidores do Brasil e de fora… uma renda que poderia estar resolvendo o problema social do Brasil. Resolvendo nossos impasses ambientais, financiando o passivo em ciência e tecnologia. Essa renda toda… eles expropriam a renda nacional da classe trabalhadora e pagam o juro pro rentismo. Não é que depois volta pro trabalhador”. 

Na altura dos 35min da entrevista, José Dirceu é claro e direto em relação ao processo de negociação ampla, ao centro, que vem sendo empreendido pelo ex-presidente Lula. “Temos uma longa e dura disputa eleitoral pela frente. Não podemos cometer o erro de não ampliar ao máximo o apoio ao Lula”, adverte. “Com diálogo, conversar inclusive com os adversários, Porque nós vamos ter que construir pontes para poder governar e resolver os principais problemas do País nos primeiros meses de governo porque a expectativa será enorme”.

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