Cenário eleitoral começa a se definir
Os péssimos números de Serra podem ser decorrentes da combinação de alguns fatores. Primeiro, pela forma como vem conduzindo sua campanha
A pouco menos de um mês para a realização do primeiro turno das eleições municipais, o quadro nas principais capitais brasileiras já se mostra mais delineado. As últimas apurações realizadas pelo Datafolha e pelo IBOPE, divulgadas nesta semana, apontam para a consolidação das principais candidaturas nas capitais pesquisadas, com alguns fatos marcantes: a primeira queda do candidato Celso Russomano (PRB), em São Paulo, segundo o Datafolha, o crescimento do candidato do PT em Salvador e a indicação de que o PSDB será praticamente varrido das prefeituras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
A capital paulista, onde as disputas eleitorais costumam ser polarizadas entre PT e PSDB, desta vez, apresenta surpresas. O candidato do PRB, Celso Russomanno, que tomou a ponta do tucano José Serra antes mesmo do início da propaganda eleitoral na TV e no rádio, sofreu seu primeiro revés ao perder três pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, registrando 32% das intenções, segundo o Datafolha. Porém, no levantamento do IBOPE, Russomanno cresceu e aparece com 35%.
A ascensão inesperada de sua candidatura, que vinha sendo avaliada como consequência do efeito recall —já que o candidato até há pouco tempo apresentava programa de forte apelo popular em canal de TV aberta— explica-se também pelo apoio do eleitorado mais conservador e popular. Um fato curioso: segundo o Datafolha, 56% dos votos que lhe são creditados já foram da ex-prefeita Marta Suplicy. Daí, podemos inferir que, à medida que os eleitores da atual ministra identificarem que ela apoia Haddad, o petista conquistará novos votos e crescerá ainda mais.
Já Serra, em um movimento que parece irreversível, caiu um ponto nas duas pesquisas e computa 20% das intenções pelo Datafolha e 19% pelo IBOPE. Mas sua rejeição segue em disparada, liderando o ranking com 46%, três pontos a mais do que na última pesquisa, de acordo com o Datafolha.
Os péssimos números do candidato podem ser decorrentes da combinação de alguns fatores. Primeiro, pela forma como vem conduzindo sua campanha, proferindo ataques ao PT, ao invés de apresentar seu programa de governo. Segundo, porque ao se vincular claramente ao atual prefeito Gilberto Kassab, automaticamente transfere para si a grande rejeição deste —80% dos paulistanos não aprovam sua administração e, portanto, não irão votar naquele que representa a sua continuidade.
Por fim, o tucano sofre o peso da desconfiança dos eleitores que se lembram que ele abandou a capital pouco mais de um ano após ter assumido a prefeitura, renunciando para concorrer ao governo do Estado e entregando-a a Kassab.
Fernando Haddad, do PT, segue a tendência que se verifica desde o início da campanha: continua crescendo rumo aos 30% que o partido tem tradicionalmente em eleições na capital. Com 17% das intenções de voto pelo Datafolha e 15% conforme o IBOPE, Haddad, que vem fazendo uma campanha centrada na discussão de ideias e na apresentação de um programa de governo amplo, que abarca propostas para os grandes problemas de São Paulo, está tecnicamente empatado com o tucano.
Segundo as duas pesquisas, em eventual segundo turno, Russomanno venceria tanto Serra quanto Haddad, mas este venceria Serra.
Em Recife, a movimentação dos candidatos ainda é intensa. Enquanto o candidato do PT, senador Humberto Costa, tem 23% das intenções de voto, segundo o Datafolha, seu principal adversário, Geraldo Júlio (PSB) tem 34%. Curiosamente, essa foi uma das poucas capitais em que um candidato tucano, Daniel Coelho, apresentou crescimento, figurando com 19% das intenções de voto. A capital pernambucana é, portanto, uma das que apresentam cenário eleitoral bastante indefinido.
No Rio de Janeiro, apesar de ter subido cinco pontos, o candidato do PSOL, Marcelo Freixo, que agora detém 18% das intenções, não deverá ir ao segundo turno com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), que tem 54% das intenções de voto, de acordo com o Datafolha. Sem nenhuma chance, Otavio Leite (PSDB) aparece com apenas 3%, atrás de Rodrigo Maia (DEM).
Já na capital cearense, a disputa também está bastante acirrada, com quatro candidatos em situação de empate técnico. O ex-deputado Moroni Torgan (DEM) continua em queda: de 25% passou para 22% das intenções de voto. Já Roberto Cláudio (PSB), com 17%, está em empate técnico com Moroni e também com os outros dois concorrentes abaixo dele, Elmano de Freitas (PT), que tem 16%, e Heitor Ferrer (PDT), com 14%. O candidato do PSDB, Marcos Cals, amarga o 7º lugar, com 3% das intenções de voto.
Em Fortaleza, chama a atenção, além da queda contínua de Moroni, sua altíssima rejeição —36%. Ao que tudo indica, irão ao segundo turno os candidatos do PT e do PSB, respectivamente apoiados pela atual prefeita Luizianne Lins e pelo governador Cid Gomes. Os dados são também do Datafolha.
Em Belo Horizonte, conforme o Datafolha, o candidato à reeleição, Márcio Lacerda (PSB), está com 49% das intenções de voto, contra seu concorrente mais próximo, o ex-ministro Patrus Ananias (PT-PMDB), que vem crescendo nas pesquisas e já está com 31%, ampliando as possibilidades de segundo turno para um importante debate de projetos para a capital mineira.
A pesquisa IBOPE aponta novo cenário em Salvador. Pela primeira vez há a indicação de segundo turno entre ACM Neto (DEM), que continua liderando com 39% das intenções de voto, e o petista Nelson Pelegrino, que cresceu 11 pontos e aparece com 27%.
Em Curitiba, segundo o Datafolha, Ratinho Jr. (PSC) assume a liderança com 32% das intenções, mas ainda em empate técnico com o segundo colocado, o atual prefeito Luciano Ducci (PSB), que tem 26%. Já em outra capital sulista, Porto Alegre, pelo que traz o Datafolha, deverá haver segundo turno disputado pelo atual prefeito José Fortunati (PDT), com 41% das intenções, e a deputada Manuela D'Ávila, do PCdoB, com 30%.
A se confirmarem os quadros apresentados pela pesquisa, o PSDB será o grande derrotado nas urnas em 7 de outubro, em todas as capitais do país, com risco de não governar nenhuma capital das regiões Sul e Sudeste. No Nordeste, o partido tem chances apenas em São Luís (MA) e Maceió (AL). Na capital maranhense, o atual prefeito, João Castelo, com 31% das intenções e alta rejeição (33%), deverá ir ao segundo turno contra Edivaldo de Holanda (PTC). Em Maceió, o candidato Rui Palmeira lidera com 50%, frente a Ronaldo Lessa (PDT), que com 21% das intenções de voto aguarda decisão do TSE sobre sua candidatura.
Ainda há um tempo precioso até o dia do primeiro turno e muita coisa ainda pode mudar. Os candidatos do PT apostam na tradicional força de sua militância para crescer na reta final, quando os eleitores estão mais atentos ao que se passa na disputa. O momento é de intensificar a campanha de rua, os debates programáticos, o contato com a população, comparando o modo inovador, progressista e inclusivo que o PT tem de governar com as velhas práticas de governo encampadas por nossos adversários.
José Dirceu, 66, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
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