Chalita aproveita crise na campanha de Haddad para se vender como "novo"
Candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo diz que aliança de Haddad com Maluf enfraquece discurso de renovação dos petistas; "Maluf no palanque com discurso de novo?"
247 – O candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, que tenta despontar como uma terceira via nas eleições municipais deste ano, enxergou uma oportunidade: a crise na campanha de Fernando Haddad, do PT, depois da aliança com Paulo Maluf, do PP. Segundo ele, o acordo fragiliza o discurso de renovação feito pelos petistas. Leia trechos da entrevista concedida à Folha:
Folha - Como avalia a gestão Kassab?
Gabriel Chalita - Acho uma das piores administrações que São Paulo já teve. Compararia com Pitta, com quem Kassab trabalhou. São Paulo está perdendo grande oportunidade. Não é uma gestão inteligente. São oito anos dessa administração Serra-Kassab e veja o que outras cidades fizeram neste espaço de tempo. Nova York, por exemplo, era violenta, deixou de ser e redesenhou o conceito de ocupação urbana, cuidou da sua cracolândia. Bogotá que era a capital do tráfico e se transformou na capital do livro. O que o Rio fez em quatro anos? Hoje o Rio tem mais obras públicas em andamento do que São Paulo. Isso não acontecia desde época que o Rio era capital do Brasil.
Por que a gestão não é inteligente?
Você não utiliza a tecnologia a favor do cidadão. Em dias de chuva, os semáforos param, mas os radares não. Tem um investimento pesado em tecnologia para multar, porque é uma indústria de multas. Aliás, se eu puder elogiar uma área em que a prefeitura avançou, é a da arrecadação. Por que não pega essa tecnologia e vai para outras áreas?
Por que ir para o PMDB?
O PMDB era um partido, com todo respeito, que praticamente não existia em São Paulo. Só tinha um deputado federal que nem é da capital. Quando eu vi que o PSB não era o que eu imaginava, pensei em fundar partido com foco em educação. Falei com alguns deputados sobre essa história de um Partido da Educação. Conversando com Temer, depois que o Kassab não veio para o PMDB, ele disse: "Você pode fazer isso no PMDB de São Paulo". Foi nesse sentido, de construir projeto para o Brasil, que eu vim para o partido.
Como se sente em um partido com vários quadros associados ao fisiologismo?
Todos os partidos têm isso hoje, infelizmente. Você tem isso no PMDB, mas tem também o Eduardo Paes. Estive no Rio três vezes, a última há duas semanas e você vê a paixão e o orgulho que ele tem pelo que está fazendo no Rio de Janeiro. Você tem figuras complicadas também, mas acabou esse maniqueísmo. Pelo menos eu sinto que o PMDB é um partido democrático.
Mas sua chegada ao PMDB deixou feridas internas. O secretário Bebetto Haddad (Esportes) continua na prefeitura, peemedebistas com cargos na administração não estão ajudando sua campanha. Isso compromete a legitimidade da sua candidatura?
Foram 126 votantes entre os diretórios, eu tive 124 votos. O Serra teve 52% dos votos [nas prévias] no PSDB. Quem tem mais legitimidade?
O sr. tem uma base forte na igreja. Que apoio espera ter?
Não sinto que a igreja vá fazer lavagem cerebral. Ela não vai indicar um candidato que o padre ou o bispo vai falar e as pessoas vão obedecer. Valores religiosos ajudam as pessoas a admirar os políticos, mas o que faz uma pessoa votar são as propostas que o candidato tem. Talvez pelo seu caráter ela vai acreditar se você vai executar ou não. Qualquer tipo de negociação que envolva algo além de proposta é indecente.
Considera-se um cristão progressista? Na questão do "kit-gay", por exemplo, sua opinião é diferente da maior parte dos religiosos.
Sou candidato a prefeito, não a bispo. Tenho respeito pela orientação, mas tenho ideias próprias. Não sinto que majoritariamente a igreja tenha uma postura contraria a você fazer um trabalho de tolerância, de respeito à diversidade de orientação sexual. Isso seria ir contra o cristianismo. E qualquer tipo de preconceito é afronta à constituição.
Como avalia os 18 anos de governo tucano em São Paulo?
Algumas coisa melhoraram de fato em São Paulo. É preciso ter uma visão justa: melhorou sob o ponto de vista da infraestrutura, das estradas. O metrô, muito menos do que deveria. Mas melhorou em algumas áreas de tecnologia, no Poupatempo, nas concessões, porque algumas coisas precisavam ser privatizadas. E foi tímido em outras áreas cruciais.
A segurança não está resolvida. Na educação, houve descontinuidade em todos os governos do PSDB. Hoje temos uma educação de baixa qualidade em São Paulo.
E qual a sua responsabilidade nos avanços tímidos da educação no Estado?
Modéstia à parte, acho que eu dei contribuições muito importantes para a educação de São Paulo. Primeiro, eu trabalhei com o conceito de respeito ao servidor público, que eu quero trabalhar na prefeitura também. Tem uma ala tucana que tem um desprezo pelo servidor e vende a imagem de que o funcionário público é vagabundo, o que é incorreto. Isso é desonesto com o trabalhador. Eu valorizei o servidor público, não só do ponto de vista salarial. Nem consegui dar o aumento que eu gostaria, precisaria ter sido mais. Fui o único secretário sem greve no regime democrático. Eu saí, já teve greve na primeira secretária, depois o Serra enfrentou greve de novo. A gente humanizou a relação da secretaria com o servidor.
Acha que o Haddad foi um bom ministro da Educação?
Acho que teve coisas boas e coisas ruins. O governo Lula, nesse contexto de distribuição de riqueza, ajudou o país a enfrentar a crise com muita competência. Ele se cercou de pessoas competentes na área econômica. Não é que as pessoas que recebiam Bolsa Família guardavam dinheiro em casa. Elas iam ao mercado, ao armazém, à farmácia e consumiam. Isso gerou riquezas para o Brasil e é um fato que, aproveitando o bom momento econômico, o país tirou 40 milhões de pessoas da pobreza.
Na educação, acho que faltou um pacto nacional pela educação. Não tivemos com ele ministro e não está tendo. A gente está discutindo um Plano Nacional de Educação (PNE) e as pessoas cumprem se quiserem. O dia em que tivermos uma Lei de Responsabilidade Educacional, como aconteceu com a Lei de Responsabilidade Fiscal, pega na pele, tem sanção ao prefeito. O PNE não tem.
O que diferencia o senhor do Haddad?
Muita coisa.
Cite pontos em que pensem diferente.
Nós somos pessoas diferentes, com formações ideológicas diferentes, histórias de vida diferentes. Na verdade, coincidentemente, ele foi ministro da Educação, eu fui secretário da Educação e presidi o Consed [conselho dos secretários estaduais], então trabalhamos juntos. Meu discurso é mais... eu acredito profundamente na força da iniciativa privada. Eu tenho preocupações à esquerda sob o ponto de vista social, mas na gestão da cidade eu tenho uma visão mais ao centro. Sou a favor das OSs [organizações sociais], desde que sejam fiscalizadas, sou favorável aos Cepacs (certificados de potencial adicional construtivo, negociados pela prefeitura com o mercado imobiliário], à PPP [parceria público-privada]. Acho que temos que aproveitar todo o know-how empresarial em favor da cidade. Acho que a opinião do Haddad não é tão parecida assim. Ele já falou, com relação à saúde, que a OS é uma forma de privatizar a saúde. A campanha é que vai mostrar esses olhares diferentes de cada candidato.
O que achou do apoio do Maluf ao Haddad?
Acho que o Maluf quis dizer o seguinte: "Quer meu tempo? Vão ter que me engolir. Tem que aparecer comigo".
Como foram suas conversas com Maluf, que também acenou negociar com o PMDB?
A gente nunca teve um aceno assim, né? Converso com todos os deputados ali. Em alguns momentos ele também chegou a falar com o Temer. Essa história do "pragmático" me incomoda muito, porque apesar de jovem, eu já vi muita coisa na política. Pela minha experiência, essas pessoas que falam em pragmatismo dificilmente viriam para uma candidatura que não tem esse pragmatismo. Eu quero ser o discurso do novo de fato em São Paulo, do novo jeito de fazer política, da nova forma de administrar a cidade. Espero que isso empolgue a cidade, porque sinto uma descrença na população.
Você vê o Maluf dizendo que não tem mais esquerda e direita, aí vem o Haddad e diz que existe esquerda, sim. É muito forçado, né? Como é que eles vão criticar Serra e Kassab? Vai falar o quê do Maluf? Maluf teve o Pitta. Depois de todos os ataques, das frases de um para o outro. A Marta acabou sendo a mais coerente. Disse que seria um pesadelo acordar com Kassab, que não queria aliança com Maluf. Ela é que merece aplausos nessa história. As pessoas dizem que ela é a mais queimada dentro do PT, mas está fazendo um trabalho fantástico como senadora, não se mete em confusão nenhuma, preside aquele Senado na maior serenidade.
Não é só tempo de televisão. O Maluf ganha um cargo no governo federal e dois dias depois vai e anuncia o apoio. O PR negocia com um com o outro. O DEM, o que ganhou para ir para o lado do Serra? O que foi prometido ali? Isso causa um desconforto numa parcela significativa do eleitorado. E São Paulo? E administrar São Paulo? É tudo um projeto de poder. O poder que tem o prefeito da cidade para formar um partido, o poder do prefeito de poder ser candidato à Presidência. Quando vamos ter um prefeito que vai querer administrar a cidade?
Mas esse pragmatismo não existe também na aliança do PT com o PMDB no plano federal?
O PMDB já estava na base da Dilma, já tinha ministério. Aliás, ganhou a eleição e perdeu ministério. Mas é muito estranho o Maluf com o PT. Tem limites, né? Você pega o exemplo da Manuela D'Ávila, do PC do B, se unindo com a [senadora] Ana Amélia, do PP, em Porto Alegre. A Ana Amélia é outro jeito de fazer política, é muito diferente do Maluf. O conceito da parceria é diferente. Agora, Maluf no palanque com discurso do novo?
O que achou desse slogan?
Eu não gostei, eu acho preconceituoso. Meu discurso não é esse. O que significa o novo? Se é o novo jeito de fazer política, não é esse o jeito novo. Se é a idade, é preconceituoso. Não significa que uma pessoa não possa ser prefeito com 80 anos, 70, 75. Pelo contrário, acho que as pessoas têm experiência, história. O que diferencia o velho do novo não é a idade. Se for uma discussão moral, de que velho é o ficha suja e novo é o ficha limpa, tem que ver antes os aliados.
Qual deve ser a marca da candidatura?
Modernidade com sensibilidade social. A gestão te ajuda a cuidar da parte social. Sinto muito na política brasileira, por causa desse pragmatismo, a ausência de sonhos. As pessoas não sonham mais na política. É preciso um choque de Mandela na política brasileira. As pessoas que moram em favela em São Paulo não precisariam morar. Não é normal morrer por falta de saneamento, ficar seis horas por dia no transporte público.
Como o sr. se comportará num eventual segundo turno?
Eu me enxergo no segundo turno, recebendo o apoio de um dos lados. Eu me dou bem com a presidenta Dilma, acho que sou o único candidato que conseguiria fazer essa ponte, de trabalhar bem com o governo do Estado e com o governo federal, fazer essa discussão de projetos para a cidade. Vejo essa coisa de arrastões, isso é ruim para a imagem internacional da cidade. Uma parte da solução desses problemas passa pela organização da cidade. A violência não é só um problema só policial, é um problema de iluminação, de calçadas. O [Rudolph] Giuliani [ex-prefeito de Nova York] disse que a violência prospera no caos. Acredito nessa parceria do prefeito com o governo do Estado e com o governo federal.
Espera o apoio dos dois lados?
Acho que dificilmente o Lula apoiaria o Serra e dificilmente o Alckmin apoiaria o Haddad.
Mas e o Serra e a ala do PSDB que não aceitou sua saída do partido e seu apoio à Dilma em 2010? Eles te apoiariam?
Acho que é o mais provável. Acho difícil que eles apoiem o PT, né?
Se ficar de fora, quem apoia?
Eu não vou ficar de fora.
Mas o sr. tem um compromisso de apoiar o Haddad no segundo turno.
Não existe acordo, não existe isso. Nunca houve acordo de nada.
A rede municipal de ensino poderia adotar seus livros?
Ah, você está de sacanagem comigo, né? Não é sério isso. Alguma vez eu adotei livro meu no Estado? Você não está sendo sério agora. Adotei livro meu alguma vez?
Mas em tese, pela qualidade das obras, poderiam ser adotados?
Se são utilizadas pela rede privada toda, por que não poderiam ser? Mas nunca houve compra de livro meu.
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