Cristalizou

O Presidente do Senado, José Sarney, à base do hábito do cachimbo entortando a boca, declarou que seu PMDB não ambiciona dirigir a pasta dos Transportes, porque ela é do PR. Ou seja, não é dos contribuintes, não pertence à sociedade. É da cota de um partido e pronto.

Assim como Minas e Energia, por exemplo, seria ministério do PMDB, o PP ficaria com o das Cidades, o PT com a fatia maior e assim por diante. Se há um caso de corrupção e o titular acusado termina por cair do posto, o governo se reúne com o partido “patrocinador” e outro nome, dentre os seus quadros, é escolhido.

Isso pode acabar bem como? Se os espaços de ação pública foram loteados para servir a elites políticas apartadas dos sentimentos de uma sociedade dinâmica, em constante mutação? Se a máquina pública virou um todo multipartido em sesmarias, “cuidadas” por suseranos respaldados nos clãs do patrimonialismo, do clientelismo e do atraso?

Seis meses de governo Dilma e três escândalos de grande porte: Palocci, “aloprados” e Ministério dos Transportes. Isso no macro, porque no micro as delinquências são diárias.

A economia já esteve melhor, à revelia de Lula. Hoje, alguns sinais de alerta apontam no horizonte. E o oficialismo continua achando que dá para perpetuar a cadeia de impunidade, que povo nenhum tolera em tempos difíceis.

A partir da herança dos 10 anos de Itamar Franco e Fernando Henrique, dava para o presidente bonachão fazer piada com as transgressões éticas. Na bonança propiciada pelo quadro internacional mais benigno dos últimos 40 anos, dava para “são” Lula anistiar sistematicamente os usurpadores da coisa pública. Infelizmente, a sociedade se deixou iludir.

Os tempos agora são outros. Exigem perícia administrativa e verdadeiro vigor moral, atributos que não se localizam nas prateleiras do poder.

Acorde, presidente Dilma, enquanto seu governo não dobrou, ainda, os primeiros 365 dias de um tempo de quatro anos.

Diplomata, foi líder do PSDB no Senado