Delta pagava mensalão no Ceará, diz Josias
Colunista da Folha revela caixinha da empreiteira para servidores do rgo responsvel pelas grandes obras virias
247 – Fernando Cavendish, da Delta, caminha a passos largos para realizar seu próprio vaticínio, feito dias atrás, em entrevista à jornalista Monica Bergamo. “Vou quebrar”, disse ele. Neste sábado, o jornalista Josias de Souza, da Folha, publica uma revelação explosiva: a de que o empreiteiro distribuía um mensalão a servidores do Dnit, no Ceará. Leia, abaixo:
O Ministério Público Federal ajuizou, no Ceará, ação penal contra servidores da superintendência do Dnit no Estado e a Delta Construções. Deu-se nesta sexta-feira (20). A petição aponta a prática de quatro crimes: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa.
Entre as acusações está a de que a Delta pagava uma “caixinha” a dirigentes e servidores do Dnit, órgão do Ministério dos Transportes que cuida da construção e conservação de estradas. A denúncia anota que o dirigente da repartição “recebia propinas e uma espécie de mensalão.”
A Procuradoria baseia-se em inquérito resultante da ‘Operação Mão Dupla’, deflagrada pela Polícia Federal em 2010. Na época, foram presas 25 pessoas. Entre elas o superintendente do Dnit, Guedes Neto. A ação penal protocolada nesta sexta é o segundo processo referente ao caso.
O primeiro, uma ação civil por improbidade administrativa, havia sido encaminhada à Justiça Federal do Ceará em maio do ano passado. Corre em segredo de Justiça na 1ª Vara Federal de Fortaleza. Ainda não foi julgada. Chama-se Alexandre Meireles o procurador da República que cuida do caso.
Além da Delta, encontram-se sob suspeição outras nove empreiteiras que transicionaram com o Dnit cearense. As investigações partiram de auditorias realizadas pela CGU e pelo TCU. Nas palavras do Ministério Público, detectaram-se “gravíssimas irregularidades”.
Envolvem de fraudes em licitações a superfaturamento de obras, de desvios de verbas públicas a pagamentos de propinas e vantagens. Segundo o Ministério Publico, a Delta se apropriara de gabinetes do Dnit. Diz a denúncia: “o espaço público no interior da sede do Dnit no Ceará servia a interesses privados”.
Além do “mensalão”, a Delta concedia “vantagens ilícitas aos servidores públicos lotados em funções estratégicas” da repartição. Coisas como vale-combustível, aluguel de veículos e “outras benesses”. As acusações baseiam-se em documentos apreendidos e em escutas telefônicas.
Ouvida, a Delta informou se vale de “todos os recursos judiciais para demonstrar que não houve nenhuma conduta criminosa” nas suas relações com o Dnit no Ceará. Noutra frente, a empresa tenta, por meio de habeas corpus, anular as provas colecionadas pela PF.
A despeito de tudo, a Delta recebeu do Tesouro Nacional, em 2011, R$ 48,5 milhões referentes a obras em estradas federais do Ceará. Só agora, depois do aluvião de indícios colecionados pela PF no Cachoeiragate e da segunda denúncia da Procuradoria no Ceará, o Planalto parece acordar.
O governo analisa a hipótese de proibir a celebração de novos contratos com a Delta, maior tocadora de obras do PAC (R$ 884,4 milhões só no ano passado). Os ministros Jorge Hage (chefe da CGU) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) reuniram-se para discutir o assunto.
Numa espécie de vacina anti-CPI, decidiram abrir um processo administrativo contra a Delta. Deseja-se declará-la uma empresa “inidônea”. Algo que impediria a construtora de atuar na administração pública. O governo escora a decisão nos indícios de tráfico de influência apurados nas operações da CP contra Carlinhos Cachoeira e no caso do Ceará.
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