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Desdobramentos da Monte Carlo complicam Iris Rezende

Possível envolvimento de coordenador de campanhas gera requerimento de convocação à CPMI do Cachoeira e irrita ex-prefeito de Goiânia, que ameaça: "Acho um absurdo e uma falta de respeito tentarem envolver eu e o Sodino nisto"

Desdobramentos da Monte Carlo complicam Iris Rezende (Foto: Divulgação_Folhapress_Divulgação)
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Goiás247 - Indícios de irregularidades envolvendo as obras do Parque Mutirama e a revelação de que o ex-conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) Sodino Vieira negociou a venda de uma fazenda de sua propriedade com o grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira complicaram a situação do ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB). Até então distante do epicentro do escândalo, o ex-prefeito terá agora de explicar as relações de sua administração, de suas contas de campanha e de seus aliados com o esquema de Cachoeira.

Na sexta-feira, o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), que integra a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira no Congresso Nacional, apresentou requerimento pedindo a convocação de Iris e de Sodino. O deputado tucano justificou seu pedido de convocação com base na denúncia veiculada pelo jornal O Estado de São Paulo, que mostra que Sodino, coordenador de campanhas de Iris, entre elas as de 2008 (reeleição para a Prefeitura) e a de 2010 (governo do Estado), teria recebido R$ 2 milhões de Gleyb Ferreira da Cruza, apontado como assessor e um dos braços-direitos de Carlos Cachoeira no esquema de jogos ilegais e de fraudes em licitações.

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De acordo com a reportagem do Estadão, um relatório da Polícia Federal diz que R$ 2 milhões teriam sido remetidos no início deste ano para Sodino e que as operações integram um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas operado por Gleyb. Segundo a reportagem, por meio desse esquema, interessados em transferir recursos para o Brasil fariam depósitos bancários para a organização no exterior. No País, aliados do contraventor repassavam os valores aos destinatários, usando contas em nome de empresas e pessoas da quadrilha. A CPI que investiga o esquema de Carlos Cachoeira na Assembleia Legislativa de Goiás também está pedindo a convocação de Iris e Sodino. Na sexta-feira, o deputado Túlio Isac (PSDB) apresentou o pedido de convocação dos peemedebistas.

Iris reagiu aos pedidos de convocação para que prestes esclarecimentos para as CPIs. Em entrevista ao jornal O Popular, de Goiânia, o ex-prefeito ameaçou: “Acho um absurdo e uma falta de respeito tentarem envolver eu e o Sodino nisto. Mas eles que me aguentem se me chamarem (na CPMI), pois tenho muito a mostrar e esclarecer. Esse povo não deve brincar comigo, pois do jeito que tocarem a música, estou disposto a dançar”.

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Delta

De todo modo, o caldeirão peemedebista esquentou e os aliados de Iris têm tido dificuldade para defender o ex-prefeito das acusações. O maior problema é o histórico dos contratos firmados pela prefeitura de Iris com a Delta Construções. A empresa se instalou no Estado a partir da segunda e da terceira administrações do peemedebista em Goiânia, iniciadas em 2005.

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Entre as explicações que Iris poderá ter de prestar à CPMI do Congresso estão cinco aditivos de contratos firmados com a Delta durante suas duas últimas administrações (2005-08; 2008-10), segundo dados da prestação de contas da Prefeitura de Goiânia enviada ao TCM. O primeiro aditivo é do ano de 2007, cujo valor sequer foi informado à época pelo então prefeito peemedebista. Também em 2007, outro contrato com a Prefeitura e a Delta foi aditivado em R$ 7,9 milhões. No ano seguinte, em 2008, quando Iris disputou a reeleição, mais um contrato com a Delta foi aditivado em R$ 3,6 milhões.

O último aditivo, de 2010, ano da disputa para o Governo do Estado, Iris aditivou um dos contratos com a Delta em R$ 12 milhões. A maioria desses contratos se referia a obras de pavimentação executadas pela empresa, envolvida no escândalo de Cachoeira. No caso do contrato reajustado em R$ 12 milhões, a prefeitura sequer explica as razões do aditivo no documento publicado no Diário Oficial da época.

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Mutirama

A licitação das obras de reestruturação do Parque Mutirama também passou até agora ao largo da CPMI. Com parte da obra concluída, o caso volta a chamar a atenção, especialmente após as revelações envolvendo os negócios entre Iris e Cachoeira através do aliado Sodino Vieira. As ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal revelam um imbricado esquema de corrupção, em que Cachoeira se declara sócio da empresa vencedora da concorrência – a Warre Engenharia – e assume que está com medo de ser arrolado no esquema de desvio de verbas do Ministério do Turismo que derrubou um ministro e arrastou a administração do atual prefeito Paulo Garcia para o escândalo.

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As investigações apontam para um jogo de cartas marcadas entre a Delta e a Warre Engenharia que – descobriu-se a partir da Monte Carlo – tinha Carlos Cachoeira como sócio comum e oculto, além do ex-vereador Wladmir Garcêz como uma espécie de operador financeiro. A investigação sugere que as empresas combinaram o resultado e que a licitação do Mutirama, orçada em quase R$ 50 milhões, foi orientada com a anuência do secretário-executivo do Ministério do Turismo, preso pela Polícia Federal acusado de desviar verbas da pasta. Saíram justamente do Ministério do Turismo os recursos federais para a reforma e reestruturação do Mutirama. Àquela altura, a denúncia de beneficiamento da Warre na licitação já era conhecida e a obra já estava envolvida em um longo processo de investigação deflagrado pelo Ministério Público Federal a partir de apuração feita pela própria PF.

A denúncia envolve diretamente o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, candidato à reeleição. Após as primeiras denúncias envolvendo as obras, o prefeito declara à imprensa que tomara a decisão de cancelar a licitação. Nos bastidores, no entanto, a celebração do contrato prossegue. Com a eclosão da Operação Monte Carlo, vêm à tona os encontros entre o então chefe de gabinete do prefeito, Cairo de Freitas, com vereadores, Wladmir Garcêz e o próprio Carlinhos Cachoeira para discutir o andamento das obras do Mutirama.

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A sociedade oculta de Cachoeira e a Warre foi revelada pelas ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo. Mesmo após a eclosão do escândalo envolvendo Cachoeira, a única informação que se tinha era de que o contraventor era sócio oculto apenas da Delta. Com o desenrolar dos fatos, Cachoeira também surge nas gravações como participante dos negócios da Warre, ordenando inclusive o repasse de recursos para a empresa.

Os trechos mais reveladores das ligações interceptadas datam de 9 de agosto de 2011, mesmo dia da prisão do então secretário-executivo do Ministério, Frederico Costa, e mais 34 pessoas por envolvimento no desvio de recursos da pasta. Nessa data, Cláudio Abreu, então presidente da Delta para o Centro-Oeste, liga para o araponga Idalberto Matias, o Dadá, para questioná-lo sobre o fato de ele não ter avisado a quadrilha de Cachoeira sobre as prisões no Ministério do Turismo. "Professor, estoura uma bomba hoje aí e você não avisa nada pra nós, cara", afirma Cláudio. Dadá tenta se desculpar: "Mas eu não fiquei sabendo, não". Cláudio explica: "Essa do turismo, pô, mas foi, movimentou 200 pessoas aí e 'oceis' não sabia (sic)?".

Em seguida, Claúdio e Dadá passam a falar do secretário-executivo Frederico Costa, preso pela PF. "Esse filho da puta, ele é muito ligado com o cara daqui, a empresa da cidade onde eu tô (Goiânia), que eu cheguei agora e esse cara deve tá se cagando de medo, porque eles são muito ligados, muito próximos", diz Cláudio. O presidente regional da Delta prossegue: "Pois é, o pessoal da Warre Engenharia, é aqui da cidade, Warre Engenharia, o dono dela é o Paulo Daher e o filho dele, o Ricardo Daher, e esse cara que foi preso aí arrumou dinheiro pra eles pra caralho e direcionou as obras pra eles, então", diz Cláudio Abreu, referindo-se a Frederico e aos proprietários da Warre Engenharia.

Dias mais tarde, em 15 de agosto, Cachoeira admite em uma conversa com Dadá ser sócio da Warre Engenharia. Os dois conversam sobre reportagem da revista Época que cita o escândalo no Ministério do Turismo e as conexões com Goiânia por meio da obra do Mutirama. Cachoeira pede para Dadá averiguar se haverá uma nova reportagem e diz temer que sua sociedade com os proprietários majoritários da Warre venha à tona. "O pessoal daquela construtora lá, eles querem é se blindar, né?", pergunta Dadá. "Mas não, rapaz (...), porque eu sou sócio deles nessa obra que saiu na (revista) Época e o sócio dele tem trinta por cento e eles têm setenta", diz Cachoeira. “Então (...), senão pinga em mim, entendeu?", prossegue, mencionando a preocupação de que a revista não revele a participação dele no negócio.

Em ligações interceptadas dias antes, 28 de julho, o ex-vereador Wladmir Garcêz e Geovani Pereira da Silva, uma espécie de contador dos negócios de Cachoeira, conversam sobre um repasse de R$ 500 mil que seria feito na conta da Warre. Wladmir repassa para Geovani o número da conta corrente e o CNPJ da empresa e eles combinam que o depósito do valor será feito em duas vezes, em dias seguidos. "O valor?", pergunta Geovani. "É 500 mil, aí, é, faz um hoje e outro amanhã", responde Wladmir. "Aí fica bom demais, né? 250 hoje, 250 amanhã, né?", confirma Geovani. "Ok", responde Wladmir, ao que Geovani pergunta: "Beleza. E isso é do chefe ou é do Cláudio?". Wladmir responde: "É do chefe". Vale lembrar que Wladmir se dizia executivo da Delta, que disputou a licitação do Mutirama com a Warre Engenharia.

Os fortes indícios de fraude na concorrência da obra do Mutirama surgiram já na abertura das propostas das empresas, no ano passado, quando o vereador Santana Gomes foi à tribuna da Câmara de Goiânia para afirmar, categoricamente, que a licitação corria a cartas marcadas e que a empresa vencedora seria a Warre Engenharia e Saneamento. No mesmo dia, à tarde, as informações de Santana Gomes se confirmariam e a Warre abocanharia o contrato apresentando a proposta de R$ 49.470.052,17 pelas obras de reestruturação do parque, que previam, por esse valor, a construção de túnel na Avenida Araguaia, de uma plataforma sobre a Marginal Botafogo e de urbanização da região para integrar o Parque Botafogo e o Setor Vila Nova.

A denúncia feita por Santana se tornaria ainda mais crível com a eclosão de outros dois escândalos. O primeiro foi o desvio de verbas no Ministério do Turismo, que resultou na prisão do secretário-executivo da pasta, Frederico Costa, outras 34 pessoas, e culminou na queda do próprio chefe da pasta, Pedro Novais, dias mais tarde. O segundo foi a Operação Monte Carlo, que revelou que o vereador Santana Gomes estava no círculo de influência de Cachoeira.

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