FHC confessa, em livro, seu estelionato eleitoral em 1998
"A questão que nunca foi posta [pelo governo] é a cambial. É a questão central", diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre sua política que sobrevalorizou artificialmente o real; revelação está no seu novo Diários da Presidência, que chega às livrarias no dia 23; FHC foi reeleito em 4 de outubro de 1998, em meio a uma fuga de dólares do país que chegou a US$ 600 milhões ao dia e taxa Selic de 42% ao ano; para consertar o estrago, passada a eleição, o Brasil tomaria US$ 41,5 bilhões emprestados do FMI e de outros organismos internacionais para recompor suas reservas em dólares. Em contrapartida, o país obrigou-se a cortar gastos e aumentar tributos
247 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardozo admitiu pela primeira vez que cometeu um estelionato eleitoral durante sua campanha presidencial à reeleição: o real estava sobrevalorizado, mas falar nisso poderia causar dano eleitoral ao tucano.
"Há um ponto que os críticos não pegaram, só um ou outro economista percebeu. Tudo isso que digo –deficit fiscal e tudo mais– é um pouco meia verdade. Não que não exista deficit a ser combatido, mas a questão que nunca foi posta [pelo governo] é a cambial. É a questão central", diz o presidente tucano em uma das 870 páginas do novo volume do seu livro Diários da Presidência, que chega às livrarias no dia 23.
Dez dias antes de vencer em primeiro turno a eleição de 1998, com 53% dos votos válidos, FHC registra em suas gravações o que chama de "reflexão ultrassecreta".
FHC venceu em 4 de outubro daquele ano em meio a uma forte crise externa, fuga de dólares do país (que chegou a US$ 600 milhões ao dia) e juros básicos do Banco Central em 42% ao ano. A taxa hoje é de 14,25%. Para manter a moeda americana barata, e o poder de compra do real elevado, a gestão FHC subiu radicalmente os juros, na tentativa de atrair capitais externos e de desestimular a sua fuga.
Passada a eleição, o Brasil tomaria U$ 41,5 bilhões emprestados do FMI e de outros organismos internacionais para recompor suas reservas em dólares. Em contrapartida, o país obrigou-se a cortar gastos e aumentar tributos.
Em 13 de janeiro de 1999, o então presidente do Banco Central, Gustavo Franco, pediria demissão e o Brasil iniciaria o processo que levou à forte desvalorização do real –assunto que integrava a "reflexão ultrassecreta" de FHC de poucos meses antes.
