FHC tenta moldar um novo Fernando Henrique
Ex-presidente surpreende e defende algum tipo de regulação para os meios de comunicação; defesa da Comissão da Verdade somente para crimes do Estado e da descriminalização da maconha também mostram que ele está tentando manter alguma distância do discurso raivoso da oposição
Heberth Xavier_247 - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ganhou, ao longo dos anos, alguns rótulos dos quais ele certamente não gosta: o de ter defendido exageradamente os interesses dos rentistas em seu governo, por exemplo; ou de ter se acomodado com o Plano Real e deixado de lado políticas de inclusão social em seus oito anos em Brasília.
Não é a questão de avaliar a justiça ou não desses rótulos no momento. A novidade é que, ainda que timidamente, FHC parece querer moldar um novo Fernando Henrique Cardoso. Este se distancia daquele pela ausência do discurso raivoso, algumas vezes até reacionário, adotado por certas lideranças aliadas ao seu PSDB e aliados.
A mais nova surpresa do “novo” FHC é a defesa, feita no seminário organizado pelo seu próprio instituto (iFHC), de algum tipo de regulação para a mídia. As palavras do ex-presidente: “Temos hoje uma arquitetura democrática, mas não temos a alma. É uma ideia que ainda está sendo construída. É preciso apoiar mecanismos de regulação que permitam a diversidade”.
Surpreendente também se imaginarmos que a frase foi dita em encontro que contava com a presença de velhos integrantes da mídia tradicional. O debate “Meios de Comunicação e Democracia na América Latina”, tinha tudo para se transformar num daqueles encontros ameaçadores que defendem a tese de que a liberdade de expressão está sob risco no continente - como, aliás, bem lembrou o 247 no início desta semana. A frase de FHC defendendo a regulação pode ser muito tímida, mas indica algum tipo de autocrítica.
Também nesta semana, o ex-presidente tucano se distanciou da mídia e dos políticos que fazem um discurso raivoso contra o PT e seus aliados. Desautorizou, inclusive, seu ministro da Justiça, José Carlos Dias, que faz parte da Comissão da Verdade inaugurada na quarta-feira. Dias defendeu que a comissão apure também crimes cometidos não apenas pelo Estado (pela ditadura militar, na prática), mas também pelos que lutaram contra ele. O “novo” FHC pensa diferente: “Eu acredito que o sentido disso aí (da Comissão da Verdade) é apurar os abusos do Estado”.
Antes disso, há mais de um ano o ex-presidente tenta construir um novo discurso. Mesmo que sem sucesso pleno, é uma tentativa. A defesa que faz de descriminalizar os usuários de maconha - ou até liberar o uso da droga -, por exemplo, choca-se com os interesses de grupos mais conservadores que, nas últimas eleições, são aliados do PSDB e dos seus oito anos no Palácio do Planalto. Até participar de filme sobre o tema Fernando Henrique participou.
Se isso tudo não passa de uma representação de filme B, o tempo dirá. Mas não há dúvida que deve ser difícil a vida dos colunistas da mídia tradicional no momento em que vêem um de seus baluartes flertar com um discurso diferente…
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