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Poder

Generais do clube militar convocaram bolsonaristas aos quartéis antes do terrorismo de 8 de janeiro

Presidente do Instituto General Villas Bôas diz em artigo que quebra institucional seria "justa e justificada"

(Foto: ABR)
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Por Bruno Fonseca, Agência Pública - “O país está maduro e as Forças Armadas sabem do seu papel. Cabe ao Congresso, detentor de todos os poderes outorgados pelo voto – e às demais lideranças políticas – encontrarem uma saída constitucional para esse impasse, antes que a tentativa de mudar o significado das palavras de ordem ouvidas na voz das ruas desague na democrática violência das massas injustiçadas”. Assim termina um dos muitos artigos publicados na última edição da Revista do Clube Militar. Defendendo e elogiando os movimentos bolsonaristas que não aceitaram o resultado das eleições de 2022

Com o título de “A voz surda das ruas”, o texto de Marco Aurélio Costa Vieira — que é general de Divisão da Reserva do Exército e presidente do conselho editorial do Instituto General Villas Bôas —, chega ao ponto de defender que “o grito dos insatisfeitos com os acontecimentos hoje no Brasil, no sentido de uma quebra institucional, pode até parecer ilegal, mas é justo e justificado”, escreveu. Na visão do militar aposentado, frente ao Congresso, Judiciário e imprensa, os cidadãos “não têm a quem apelar”.

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Na reserva do Exército há mais de 11 anos, Vieira recebe um salário bruto mensal de mais de R$ 35 mil. Além disso, ele ganhou um cargo no início do governo de Jair Bolsonaro: foi secretário especial de Esporte durante quase quatro meses. Na época, o general era subordinado ao então ministro da Cidadania Osmar Terra, com quem teria atritos, segundo reportagens.

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Já o Instituto General Villas Bôas, que Vieira preside, é uma associação fundada em 2020 pelo próprio Villas Bôas e outros militares. Ela funciona como um difusor de ideias e projetos militares conservadores. Passaram pelo instituto para participar de eventos figuras bolsonaristas como os ex-ministros Ricardo Salles e Damares Alves, a deputada federal Carla Zambelli e o jornalista Alexandre Garcia.

No artigo para a Revista Militar, o general dá a entender que a eleição de Lula deveria ser contestada. Ele diz: “processo fantasiado de democrático e patrocinador da volta ao poder da quadrilha que quase faliu o país”. Segundo ele, as manifestações bolsonaristas após a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas “são legais e democráticas”.

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Ele assina um segundo artigo na mesma edição da revista, chamado “Tarda a hora dos patriotas”. No texto, o militar diz que “razões históricas e constitucionais o povo tem de sobra para apelar por uma intervenção militar”, e que “se uma intervenção houver, a fim de se recobrar a ordem institucional, acredito que muitos cidadãos vão até ficar felizes”. O reservista termina o artigo antecipando que as Forças Armadas “não vão abdicar de suas missões constitucionais, conforme o momento histórico se apresente” e chama os verdadeiros patriotas às suas “responsabilidades”, nas palavras dele, “porque se a espada é o eixo do mundo, a História não perdoa os covardes”, escreveu.

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O nome de Vieira apareceu em um email enviado pelo Clube Militar dois dias antes dos ataques em Brasília. Segundo apuração da Folha, o texto, assinado pelo general, fala da “intenção de estabelecer o comunismo e suas práticas no Brasil” e defendia a necessidade de mudar a estratégia das “hostes democráticas brasileiras”, que estariam hoje exauridas “e sem a possibilidade de reação em força”.

A Agência Pública enviou email para os endereços informados na Revista do Clube Militar, questionando o teor dos artigos citados nesta reportagem e pedindo uma posição acerca das manifestações e das invasões em Brasília, mas não houve resposta.

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Colunas de generais podem ter inflamado acampamentos, diz pesquisadora

“Acredito que as colunas assinadas por generais e outros oficiais possam ter ajudado a inflamar os acampamentos, uma vez que possuem um tom não apenas de aprovação, mas de incentivo. Considero essas falas como um evidente aceno para os acampados”, avalia a historiadora, doutora em Direito pela PUC-Rio e pesquisadora do Geneva Graduate Institute, Fernanda Abreu Silva, que revelou os artigos publicados na Revista do Clube Militar.

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Em entrevista para a Pública, ela conta que chegou à revista quando finalizava o doutorado e buscou entender o porquê dos militares terem decidido reassumir o protagonismo político nos últimos anos. “Iniciei uma pesquisa com foco na militarização da política no Brasil sob uma perspectiva das disputas de memória. Para isso, eu precisava ler o que os militares produzem em termos de discussão política, assim cheguei nas Revistas do Clube Militar”, comenta.

A pesquisadora ressalta que o Clube não é um órgão do Exército, mas uma associação de militares da reserva que, segundo eles próprios, tem por objetivo defender os legítimos interesses dos associados. “Ela é o veículo de propagação do Clube que, por sua vez, seria o porta-voz da categoria”, aponta. Segundo Silva, o conteúdo dos artigos mostra que “as ideias bolsonaristas e as propagadas pelos militares da reserva estão em harmoniosa sintonia — e há bastante tempo”.

De acordo com dados do Portal da Transparência, o Clube Militar recebeu mais de R$ 12 milhões em recursos do Governo Federal durante a gestão de Jair Bolsonaro. Os pagamentos, que vieram através do Ministério da Defesa, foram na maior parte direcionados a pagar salários de militares da ativa. 

General na Comissão de Anistia de Damares escreveu que manifestações “tornarão o governo inviável”

“Vocês merecem admiração, respeito, acolhimento e esperança”. Esse é o título do texto de Luiz Eduardo Rocha Paiva, general de brigada da reserva do Exército, que afirma que as manifestações de bolsonaristas após as eleições eram “legais, legítimas, pacíficas, espontâneas e plenas de espírito cívico e patriótico”.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ao menos 20 estados registraram bloqueios de rodovias causados por bolsonaristas no dia seguinte à apuração do 2º turno. Em Santa Catarina, a corporação afirmou que os bloqueios adotaram “táticas terroristas”, como uso de bombas caseiras, e praticados por “homens encapuzados extremamente violentos”. Reportagem da Pública mostrou que os bloqueios foram combinados semanas antes, inclusive com participação de militares da reserva.

No artigo, o general aposentado diz que metade da população “não aceita ser governada por Lula”, afirma que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deveria ter adotado o voto impresso para “conquistar a confiança de toda a população” e usa o relatório do Ministério da Defesa para justificar as dúvidas sobre o processo eleitoral.

Paiva anuncia que “haverá uma série de movimentos legais, legítimos e ordeiros, mas permanentes e afirmativos, que tornarão o governo inviável”, feitos por quem o militar chama de “nossos irmãos da Primavera Brasileira”. Apuração da Pública mostrou que o termo, uma adaptação do inglês Arab Spring (Primavera Árabe), foi cunhada e divulgada pelo ex-estrategista de Donald Trump, Steve Bannon, como forma de incentivar os movimentos que não aceitavam a derrota de Bolsonaro.

Na reserva do Exército há quase 16 anos, Paiva recebe R$ 30,7 mil mensais, pagos pelo Ministério da Defesa. Em outubro do ano passado, poucos dias antes da votação do 2º turno, o Comando do Exército custeou uma viagem do militar de Brasília para o Rio de Janeiro para dar palestras.

A Pública já havia mostrado que Paiva foi um dos militares colocados na Comissão de Anistia — o conselho que decide sobre indenizações a pessoas perseguidas pela Ditadura Militar de 1964. Sob a tutela da então ministra Damares Alves, a Comissão passou a recusar a maioria dos pedidos de anistia que chegavam ao grupo. Em 2012, Paiva ganhou manchetes pela entrevista concedida a Miriam Leitão na qual questionou as torturas sofridas pela ex-presidenta Dilma Rousseff e a necessidade da Comissão da Verdade.

"Às portas dos quartéis"

 Não são apenas os generais da reserva que assinaram artigos incentivando manifestações bolsonaristas na última edição de 2022 da Revista do Clube Militar.

Percival Puggina, jornalista, é o autor do texto “Às portas dos quartéis”. Nele, Puggina diz que “só resta à sociedade ir às portas dos quartéis, últimos canteiros de onde pode brotar sua esperança, porque a outra leva a bem conhecido inferno na terra.” O artigo é ilustrado com imagens de manifestações bolsonaristas na qual homens se ajoelham em frente a uma faixa de “o povo pede socorro ao Exército”.

A edição da revista também traz um artigo do comentarista da Jovem Pan Roberto Motta, chamado “Porque não sou de Esquerda”. No texto, ele critica o comunismo, socialismo e o que chama de “progressismo”.

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