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Poder

Haddad, bom governo para São Paulo!

Novo prefeito já esqueceu os votos que nunca teve, por isso precisa de crítica crítica e da militância do PT

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São Paulo vai começar um novo ciclo de governo municipal. Um iluminado poste marxista, eleito por único voto livre, com uso de métodos tradicionais. A campanha publicitária milionária gastou R$ 68 milhões pelo caixa um e arrecadou R$ 42 milhões. O Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu um déficit de R$ 26 milhões para pagamento futuro. 

Em 13 de dezembro de 2012, sua prestação de contas foi rejeitada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), arriscando-o até à perda do mandato. Os principais doadores são pessoas jurídicas interessadas em obras e em serviços públicos, mas o compromisso é com o sonhado socialismo. Caixa dois? Tomara que não apareça. 

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Os 29 secretários nomeados não causam surpresa à primeira vista. Atendem aos princípios de moralidade e compromissos com os partidos coligados para ganhar a eleição, cuja base de sustentação foi ampliada para garantir a maioria e a governabilidade. O PT e sua aguerrida militância serviram para ganhar a eleição na periferia, mas não têm quadros para governar. Os presidentes de diretórios não sabem o que fazer. A base só vai poder ocupar os escalões inferiores do poder, as migalhas, as sobras dos cargos preenchidos pela tecnocracia profissional. 

A teoria crítica e a prática

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O primeiro escalão forma um conjunto desarmônico, sem figuras notáveis. O prefeito causa espanto, quando procura dar cara nova à administração, mas abandona o seu método dialético. Na luta dos contrários, inverte a escola que sabe distinguir a contradição principal da secundária. Esquece a teoria crítica e, sem adorno, vira um pragmático! Não vale nem aquilo que Gramsci pregou: ocupar os espaços da máquina do Estado. Ora, se não vai inchar a máquina com petistas que recolhem até 20% do holerite ao partido, como vai pagar a dívida de campanha? 

Encheu um balaio de gatos de cores diversas para caçar os ratos. Os secretários, de forma geral, não são políticos nem técnicos notáveis na função pública indicada. Que fazer? Dividir para governar mostra a sabedoria ou o fracasso, conforme fez com as tarefas de seu gabinete e do “velho” PT. 

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Dos quatro concorrentes das diversas facções do PT, que disputaram com o candidato de Lula, apenas um entrou no governo. Agora, o Secretário de Governo cuidará da burocracia; o de Relações Governamentais, da demanda política; e o da Coordenação das Subprefeituras terá de franzir a testa para apagar incêndios na periferia. 

Assim, não se sabe quem faz o homem, o trabalho ou a linguagem na disputa pela renovação do socialismo, conforme a tese defendida no livro de autoria do próprio Fernando Haddad (Haddad, Fernando – Trabalho e Linguagem: Para a Renovação do Socialismo; Azougue Editorial, RJ. 2004). Porém, em seu governo, o predomínio é do pragmatismo no trabalho, mantendo os cargos nas mãos de tecnocratas que, sem a linguagem no discurso, não chegam às massas. 

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Poste de luz própria

Parabéns! Continue assim, senhor Prefeito. Um poste com luz própria que nos ilumina com o saber da academia. Os 31 subprefeitos foram selecionados entre os arquitetos e engenheiros do quadro técnico da administração pública, conforme o perfil do bairro e do profissional. Mas, quem vai sair às ruas escuras para defender seu governo, que mal começa já está esburacado? O que tem a ver isso com o projeto de governo socialista (?). Um funcionário de carreira, com seu trabalho, não deve jamais colocar seu cargo a serviço de qualquer causa passageira, por isso não assume a linguagem necessária do compromisso da mudança dialética da sociedade. O Estado é conservador pela própria natureza, por questão de sobrevivência. 

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Bilhete sem volta

O complicado da montagem política e administrativa, cuja responsabilidade, ainda que não seja do alcaide – não pode fazer um governo para superar a luta de classe, porque terá de seguir a lei que favorece a burguesia –, foi colocar um grupo de pensadores marxistas misturado com conservadores, liberais, gente de direita e da extrema-direita. É a dialética às avessas, apenas a negação da negação, com lados opostos nos postos de comando das secretarias. Haddad poderia ter invertido as escolhas. 

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Os seus socialistas irão revolucionar a economia e o planejamento, orçamento e a gestão, ou seja, gerar dinheiro e pagar as contas. Enquanto os aliados capitalistas e os reacionários vão cuidar de mudanças para acalmar as áreas sociais, da habitação e da segurança, segundo o padrão malufista da aliança política. 

De imediato, Haddad terá de arrumar material escolar e uniforme para muitas escolas; ajudar no combate às enchentes; arrumar casas para os sem-tetos; devolver as taxas da Controlar; e, dar um jeito na promessa do bilhete mensalão.

Vamos começar bem pela revolução na Secretaria da Educação, a especialidade do prefeito, com outro experiente mestre, visto que é preciso priorizar a escola pública para erradicar o analfabetismo. Nesta área, Haddad já confirmou a expansão do transporte escolar gratuito e a construção de 127 creches, para atender a demanda reprimida de crianças fora da escola.   

Na área do transporte, retornou ao posto um companheiro dono dos votos da zona sul, que conviveu com a máfia do transporte alternativo (“perueiros”), com a tarefa de colocar em prática o prometido bilhete mensal e o ocultado aumento de 10% no preço das passagens. O perigo é o bilhete único de R$ 3,30, pois pesa no bolso do trabalhador e alimenta a inflação. 

Dose errada

Na saúde, Haddad fez a revolução dialética e, sem usar a foice, decepou a mão de médico que comanda o órgão e transplantou-o na cabeça de um engenheiro.  Pode cuidar das construções, mas não discerne um curativo de um simples procedimento ou uma situação de emergência. A obra custa a metade de um hospital, o resto é gasto em equipamento e equipe médica. Pau para toda obra, em vez do jaleco e do estetoscópio, vamos ter de cuidar da cidade doente, à base da régua e do compasso. Errou na dose e pode matar o povo paciente. 

À falta de petista na capital, o leitor do Capital, em vez de penhorar o casaco do mestre, virou a casaca pelo avesso. Trocou a turma de médicos da cidade pelo companheiro da vizinha Diadema. O engenheiro, que terá a missão de por a saúde em pé, foi por três vezes, prefeito de Diadema, deputado federal e, na moita, cuidou do caixa da segunda campanha de Lula, a de Dilma e ajudou na de Haddad. É verdade. O gênio havia acumulado a Secretaria da Saúde de Diadema, mas não nos consta ter revolucionado o setor. Certamente, será procurado por carentes em obras e para o acerto de velhas receitas das doações, e não terá tempo de cuidar dos doentes. 

Na Secretaria da Habitação, coube ao Partido Progressista (PP) indicar um empreiteiro para pagar a fatura do precioso apoio recebido no beija-mão na mansão do companheiro deputado Paulo Maluf. Os movimentos sociais não concordaram, e contam a piada da raposa que tomou conta do galinheiro. As lideranças prometem a ocupação de espaços vazios. 

Quem circulou pelo centro da cidade, nos últimos dias de 2012, percebe o clima tenso nas ocupações de prédios, com as bandeiras vermelhas das entidades sociais tremulando e os recados nas pichações em suas fachadas. Estão bem próximos à sede da Prefeitura, no Viaduto do Chá, com destaque na Rua Sete de Abril, Marconi, Xavier de Toledo e, à falta do conselho de Acácio, os sem-teto optaram por dominar a Rua do Conselheiro Crispiniano. Também controlam o extinto Hotel Lord, na Rua das Palmeiras, em Santa Cecília. 

Quem vai botar o povo na rua e tirar a turma da rua, como na região da Cracolândia? É um bom teste de múltipla escolha para o professor Haddad. Ocupar ou reintegrar, eis a questão. O método, a linguagem ou o trabalho, com o porrete na mão.

Virado à paulista 

Na cultura – uma das áreas mais complicadas para atender a contento os intelectuais, a burguesia e a massa – gerou a primeira crise onde ela é perene. Será possível provar que São Paulo é o túmulo do samba e não tem mais nada de intelectual, pós-Semana de Arte Moderna, de 1922? Ora, meu caro Fernando, não precisava ir tão longe para bagunçar a arte e desagradar às classes interessadas em cultura. Foi preciso buscar um dissidente da política nacional do próprio PT, ex-vereador na Bahia, ex-PV e ministro da Cultura de Lula, cuja panela Dilma desmontou, mas já trocou por uma terceira via, com a ministra, ex-prefeita Marta Suplicy, que não é da mesma turma da nova São Paulo. O ministro Juca Ferreira achava que a arte patrocinada só era acessível aos paulistas, portanto a cidade não podia liderar os recursos da Lei Rouanet, confundindo proponente com artista. O novel paulistano vai ter de rever conceitos e fazer um city-tour para conhecer os teatros, museus, parques, bibliotecas da metrópole e os equipamentos culturais espalhados pelos bairros. O Itaim Paulista é um bom começo para enxergar a periferia e o fim pode ser na gastronomia do Bibi. É a mais autêntica virada paulista! Viva o axé é o acarajé! 

O altruísmo na política 

A turma do PMDB apoiou Haddad no segundo turno e irá controlar três secretarias, a área de Assistência Social e da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida e de Segurança Urbana.

O PTB, que também era contra, entrou na base do governo pela porta da cozinha, com direito de indicar o Secretário de Esportes, que irá atuar na Copa do Mundo de 2014.

O Partido Verde (PV) apoiou Serra, porém elegeu quatro vereadores, por isso, para confirmar a mudança, vai continuar no comando da mesma Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que ocupava no governo anterior.

O Partido Social Democrata (PSD), do ex-prefeito Gilberto Kassab, irá cuidar da festa da virada, do carnaval, do Anhembi e do turismo, comandando a SPTuris, além da manutenção de seu pessoal na máquina. Ora, Haddad, muda para ficar tudo igual.

A margem esquerda do rio

Os comunas no poder esquecem o capital e adotam o mais puro capitalismo, na receita ortodoxa de Adam Smith e Keynes, para equilibrar as finanças públicas e manter o déficit zero. Foi assim em 1988, quando o PT elegeu a prefeita socialista Luiza Erundina, que herdou a Prefeitura “quebrada”, de Jânio. Trabalho perdido, uma vez que gastou tempo em sanear as contas e tapar os buracos, os túneis e trincheiras, para entregar a cidade para a dupla do barulho, Paulo Maluf e Celso Pita, deitar e rolar. 

Em 2000, os petistas elegeram a socialite Marta Suplicy, que indicou o Secretário de Finanças João Sayad e seu chefe de gabinete, Fernando Haddad, que novamente pagaram as contas; não sobrou nada para fazer qualquer obra de vulto. Assim, foi fácil para os tucanos, sem barreira ideológica, com José Serra e Gilberto Kassab, encherem a cidade de obras, dívidas e contas federais impagáveis. Haddad assume a Prefeitura falida, mas está aliado ao Kassab, por isso não pode chiar, nem falar de herança maldita. Precisa aumentar as receitas e acertar a dívida, que todos nós sabemos que é impagável.

Para mostrar que o governo é comunista, integrado pela vice-prefeita Nádia Campeão do PC do B, chegou a vez de bater o martelo passando a foice na grama no campo da luta que busca a igualdade racial. Não é a social, num mundo tão desigual? Ótimo, nada melhor que a mistura de cantor de pagode com o vereador. Ainda bem que o artista não foi indicado para a Secretaria da Defesa da Mulher, pois nessa área a fama não o recomenda. 

O Partido Socialista Brasileiro (PSB) irá cuidar da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, uma função do capitalismo e não da área social, até quando durar a frágil aliança nacional. 

O projeto “Arco do Futuro”, prioridade da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, tem um bom arquiteto, mas sem futuro. Na campanha ficou bonito colocar todas as cartas nas operações de urbanização das margens do Rio Tietê e do Tamanduateí, sem apresentar qualquer proposta de acabar com as enchentes na várzea do rio. Neste caso não dá nem para escolher a margem direita ou esquerda. Assim, poderá dar com os burros n´água, caso não enxergue a solução que venho defendendo nos últimos anos: a construção de um túnel de 45 quilômetros, na confluência do Tietê com o  Pinheiros,  desviando volume auxiliar de até 400 m³/s de água de enchente direto para o mar e o aproveitamento dos canais, não mais assoreados, para navegação. Qual o preço? Um bilhão de reais, com a sobra das rochas e uma via navegável de 30 kms., semi-pronta, da barragem da Penha, no Rio Tietê, até à Usina da Traição, no canal do Pinheiros.

Técnicos burocratas

A base do PT, como sempre, foi excluída da alta administração pública, porquanto serve apenas para ganhar eleição. As 31 subprefeituras, em vez de serem tratadas a manu militar, nos termos dos coronéis que Kassab nomeou – em parte responsável pela baixa aprovação de Kassab, embora tenha deixado a cidade limpa –, Haddad pragmático, acertou no atacado, mas errou no varejo. Por isso é criticado antes de assumir o cargo. Esqueceu os compromissos com as lideranças petistas que participaram dos seminários sobre os problemas da cidade e os bairros. As administrações regionais serão geridas por técnicos burocratas que vão ter de segurar o rojão da massa periférica. O troco do partido não vai demorar. Os petistas, antes de começar, já sentiram que ganharam, mas, não levaram. O sonho da esquerda não pode morrer! Haddad não pode errar. Meus leais votos de bom governo ao companheiro prefeito.

*Everaldo Gonçalves é jornalista e geólogo; foi professor da USP e da UFMG. 

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