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Haddad defende união da esquerda em São Paulo: "pecado é não tentar"

“É o que o Brasil precisa nesse momento: que São Paulo dê o exemplo de como mudar a realidade social e econômica da maioria da população brasileira", disse o ex-prefeito Fernando Haddad

Fernando Haddad (Foto: Reprodução/Facebook)
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Cláudia Motta, Rede Brasil Atual - Professor universitário, ex-ministro da Educação responsável por programas de inclusão, expansão e interiorização de universidades e ex-prefeito de São Paulo, mesmo assim Fernando Haddad (PT) perdeu a eleição para a Presidência da República. Numa “escolha muito difícil”, como vaticinou um jornal conhecido por estar sempre do lado errado da história, foi eleito o ex-capitão do Exército e deputado federal (então pelo PSL) Jair Bolsonaro. Mesmo sem ter feito nada pelo Exército e nada como parlamentar. O resultado da escolha do Brasil amarga nos dias de hoje. Haddad foi o convidado do programa Entre Vistas, apresentado pelo jornalista Juca Kfouri, desta quinta-feira (16), pela TVT.

De cara, Juca questionou o pré-candidato do PT ao governo do estado de São Paulo por que essa provável candidatura. Em vez disso, por que não ser um nome forte numa disputa ao Congresso Nacional, para fortalecer um eventual novo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Livre e vitorioso nos processos judiciais que o tiraram da eleição de 2018, Lula é favorito absoluto em todas as pesquisas de intenção de voto.

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“Acho que o PT deve olhar a situação concreta de cada estado. Quando se fala em Congresso Nacional está se falando em 27 unidades da federação”, respondeu Haddad. “E acho que você tem toda razão. Temos de ter uma bancada forte na Câmara e no Senado para respaldar as mudanças que Lula precisará fazer para recuperar o país. Mas temos de olhar o tabuleiro todo e para cada quadradinho desse tabuleiro. Vamos olhar onde o PT tem condições de ter um candidato competitivo e, na minha opinião, onde nós pudermos apoiar um candidato mais competitivo, ou que aglutine forças no estado, são duas condições que precisam ser observadas caso a caso. Acho que o PT está muito consciente disso.”

São Paulo maduro para mudar

O jornalista lembrou a Fernando Haddad que o estado de São Paulo é governado pelos tucanos do PSDB há 28 anos. “Ou 40 anos, se pensar que vem desde Franco Montoro, em 1982, que acabou no PSDB. Não existe na história do Brasil um exemplo de não alternância de poder como no caso de São Paulo. Como enfrentar essa situação?”, questionou Juca Kfouri.

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“Acho que o estado está maduro para isso. Tenho dado entrevistas no interior. Fiquei encarregado pela Fundação Perseu Abramo de começar a elaborar uma minuta de plano de governo, um plano de desenvolvimento para o estado. E eu tenho dialogado com muitas lideranças de várias regiões do estado que, como você sabe, concentra mais de 1/3 do PIB nacional”, revelou Haddad. “É um estado muito importante inclusive para o projeto nacional. São Paulo tem de ajudar a liderar o processo de recuperação do país. Acho que nunca as condições foram tão maduras para uma alternância.” 

As condições para isso, afirmou o ex-prefeito, são claras. É preciso que se faça um bom plano de governo. “Não adianta sair sangria desatada, lançando candidatura, sem ter solidez nas propostas que se vai apresentar. Sobretudo para o interior, que é a região do estado que tem dado as vitórias ao PSDB.”

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PSB fiel da balança

Além disso, avalia Haddad, é preciso “ampliar”. E isso significa “sentar à mesa” com pessoas envolvidas com o estado de São Paulo. “Acho muito difícil sair lançando nome e candidatura, sem sentar à mesa com as pessoas que estão envolvidas no estado de São Paulo. Na minha opinião temos alguns partidos que são centrais nisso. Os habituais, PCdoB, PDT, Psol. Mas acho que o PSB também pode fazer um papel importante nessa coalizão para virar a página aqui do estado de São Paulo. O PSB tem sido o fiel da balança a favor dos tucanos.”

O ex-ministro da Educação acredita que o racha entre os tucanos, mais a questão do bolsonarismo em São Paulo, indicam uma divisão no campo mais conservador que permite à ala progressista “sonhar” com uma candidatura competitiva. “Para isso nós temos de baixar a ansiedade e trabalhar. Porque às vezes a ansiedade atrapalha. E estudar muito, porque é um estado muito complexo, é um país. Temos de juntar gente muito experiente para não errarmos.”

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Com a experiência de quem completou um mandato inteiro como prefeito da maior cidade da América do Sul, Haddad afirma que, diante da “perspectiva de poder”, é preciso governar bem a partir do primeiro dia. “E São Paulo não dá pra aprender durante o voo, tem de aprender antes. Tanto a cidade, quanto o estado, quanto o país tem dimensões continentais do ponto de vista econômico.” 

Sobre suas viagens pelo estado, Haddad confirmou a Juca Kfouri que as cidades do interior, a exemplo da capital, já se deram conta do “engodo”, como classificou o entrevistador, de eleger João Doria (PSDB) governador em 2018. 

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“Acho que existe um sentimento de que a gestão Doria não aconteceu”, cravou o petista. “Na verdade houve até o desmonte de setores, órgãos importantes do estado. E nós temos hoje uma máquina menos eficiente do que nós tínhamos no passado.”

Fernando Haddad lembrou, ainda, que o então candidato Márcio França (PSB) perdeu por uma margem muito estreita, já em 2018. “E em função dos votos contrários a Doria na capital onde ele perdeu para o Márcio França. Por isso eu digo: se eu, Márcio França, Orlando Silva (PCdoB), (Guilherme) Boulos (Psol), nos unirmos, é possível, eventualmente, apresentar uma chapa forte para o estado de São Paulo com uma perspectiva maravilhosa de fazer com que o estado mais pujante do ponto de vista econômico, seja também o mais pujante do ponto de vista de políticas públicas”, destaca o ex-prefeito.

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Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), também é pré-candidato do Psol ao governo de São Paulo nas eleições de 2022. A decisão foi tomada pelo partido durante congresso estadual realizado domingo (12). Nas eleições de 2020, Boulos ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura paulistana, com 2,1 milhões de votos (41% dos votos válidos) no segundo turno, contra o candidato do PSDB, Bruno Covas. Assim como Haddad, o ativista também defende a construção de uma unidade com outros partidos e políticos de esquerda do estado.

“Não é pecado não conseguir, mas é pecado não tentar”, frisou o pré-candidato. “É o que o Brasil precisa nesse momento: que São Paulo dê o exemplo de como mudar a realidade social e econômica da maioria da população brasileira, começando pelo estado que tem mais e melhores condições de fazer isso”, completou.

Crise de identidade

Juca Kfouri perguntou a Haddad sobre o papel que o “Bolsodoria” terá na campanha ao governo do estado ou se essa parceria seria mais lembrada na candidatura do atual governador à Presidência da República em 2022.

“Em política, a pior coisa que pode acontecer para alguém é uma crise de identidade. É você não saber do que está falando, com quem está falando”, explicou. “E acho que tanto no país – a tal terceira via –, quanto no estado de São Paulo, sobretudo o Doria, que pretende concorrer ao Palácio do Planalto, existe crise de identidade. Do Doria em relação a Bolsonaro. E do Ciro (Gomes, do PDT) em relação ao Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva). É muito difícil você conseguir convencer alguém de que um dia você acordou com uma outra visão de mundo completamente diferente da que você tinha até um dia antes.”

Fernando Haddad explicou que isso não significa que não se possa mudar de opinião. “Agora, se você não presta contas dessa mudança de opinião, se o que você disse ontem não tá valendo hoje, qual a confiança que o eleitor vai ter de que amanhã você vai estar dizendo a mesma coisa que está dizendo agora?”, disse.

“Talvez eu seja uma das pessoas que tenha pagado o preço mais alto por ser coerente. Porque não foi fácil ostentar a bandeira progressista do PT, sobretudo, em 2016 e 2018. Mas eu preferi pagar esse preço do que daqui há dez anos olhar para trás e dizer: na verdade você foi um covarde. Você não mudou de ideia. Você traiu sua consciência para ficar numa situação mais confortável. E isso eu não ia fazer com minha vida”, frisou Haddad.

Durante os pouco mais de 50 minutos do programa Entre Vistas, Fernando Haddad falou também sobre a conjuntura nacional. “O Brasil está vivendo uma grande esquizofrenia que só atende ao interesse dos de cima, os que estão ganhando fortunas. E o povo não consegue comprar carne, arroz, feijão, não consegue abastecer, inflação perto de dois dígitos, desemprego de dois dígitos e uma crise energética anunciada”, listou. “Vamos ter em 2022, muito provavelmente, um cenário pior que o de 2002, quando o Lula foi eleito presidente. Contudo, apesar desse cenário pior, vai ter muita gente defendendo a continuidade desse governo. Publicamente e nos bastidores. Porque para eles, que defendem esse governo, a situação não é ruim. A situação é ruim para 70% a 80% da população.”

Esse caos está claro. Somente na cidade de São Paulo há mais de 50 mil moradores em situação de rua, cita Haddad. “É três vezes mais o número de quatro anos e meio atrás. Há um desinteresse completo pela realidade dramática que o povo está vivendo”, criticou, lembrando a importância e o papel do programa Minha Casa Minha Vida, criado em 2008, ano de uma das maiores crises financeiras no mundo.

Haddad respondeu, ainda, às perguntas de Juca Kfouri sobre seu plano de governo para fortalecer a educação pública, atualmente em frangalhos no estado de São Paulo. Falou também sobre programas de moradia e do direito à terra para ser trabalhada pelos agricultores familiares – que garantem alimento na mesa dos brasileiros. Criticou as fake news e o grande espaço na mídia comercial aos processos judiciais contra ele e o ex-presidente Lula, e desigual divulgação quando foram inocentados.

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