Indústria em foco
O ineditismo de nossa situação econômica nos traz desafios jamais enfrentados
Em uma das obras-primas da literatura mundial, “Um Conto de Duas Cidades”, o escritor inglês Charles Dickens inicia com uma marcante descrição do conturbado período em que se desenvolvia a trama. “Era o melhor dos tempos. Era o pior dos tempos”, dizia ele para mostrar o quão novo e desafiador era aquele período.
Creio que hoje vivemos algo parecido em relação à economia brasileira. Nunca estivemos melhores. O País cresce a taxas elevadas. A inflação volta a mostrar-se comportada após o recente repique dos preços de alimentos e combustíveis. E, principalmente, o emprego e a renda real do brasileiro atingem máximas inéditas. Nos últimos anos, resgatamos da pobreza cerca de 25 milhões de pessoas, equivalente a duas vezes a população de Portugal. E 40 milhões ingressaram na classe média. O Brasil, país do futuro, tornou-se o país do presente.
No entanto, enfrentamos novos desafios. São próprios de uma economia pujante em um mundo conturbado. Em nosso passado, éramos nós que vivíamos com problemas. Hoje, são as principais economias mundiais que patinam.
Tornamo-nos o País para o qual todos se viram e vêem grandes oportunidades de negócios. Com isso, todos querem vender para o Brasil e investir aqui. Desde o início da crise, 111 bilhões de dólares para investimento direto ingressaram no País. O Real passou a ser visto como uma moeda estruturalmente forte, fazendo com que se valorizasse quase 34% nesse período.
O ineditismo de nossa atual situação econômica nos traz desafios que nunca havíamos enfrentado antes. E eles têm os nomes de perda de competitividade e risco de desindustrialização.
Somos grandes produtores e exportadores de bens primários como soja, minério de ferro, petróleo, dentre outros. É normal que o sejamos devido à nossa riqueza em recursos naturais. A terra do “em se plantando, tudo dá” e, agora, das imensas reservas do Pré-Sal.
No entanto, nosso enorme e diversificado parque industrial também é uma importante riqueza nacional. O processo de sua lenta e árdua construção, ao longo de nossa história, não pode ser esquecido. Nosso parque industrial, inclusive, é o que hoje nos diferencia de outras economias sul-americanas como Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela. Não podemos abdicar dessa importante conquista.
Como nos lembra o Professor Werner Baer, um dos maiores especialistas em Brasil na academia norte-americana, o brasileiro sempre teve orgulho de sua indústria. Vê os aviões da Embraer, utilizados por muitas empresas aéreas no exterior, como se fossem resultado do próprio esforço e engenhosidade pessoal. Orgulhamo-nos dos automóveis, das máquinas, das roupas, dos calçados “Made in Brazil” como símbolos do progresso nacional.
Hoje, já podemos constatar que algo mudou. Dados da ABIMAQ, entidade representativa da indústria de transformação, mostram que nossa indústria não só perdeu participação em nossas exportações, como também sofrem com a concorrência, muitas vezes desleal, do produto importado. A balança comercial da indústria de transformação reverteu o superávit de pouco mais de US$ 7 bilhões em para um gigantesco déficit de US$ 10 bilhões em 2011. Da mesma forma, enquanto no passado 40% do que consumíamos de produtos industriais vinha de fora, hoje esse percentual é de 60%.
Ainda enfrentamos uma série de entraves, de diferentes naturezas, que fazem com que o custo de produção no Brasil, o famoso custo-Brasil, seja mais elevado se comparado com outros países.
O Governo tem se mostrado atento a esses problemas. Já vem atuando, seja no âmbito da Organização Mundial do Comércio contra práticas antidumping, seja, principalmente, na coordenação com os demais parceiros do Mercosul em relação à Tarifa Externa Comum, listas de exceções e procedimentos alfandegários.
Medidas vêm sendo adotadas também visando a redução do Custo-Brasil. Aliás esse tem sido um dos pontos focais da ação do Governo nos últimos anos. Merecem destaque o PAC, a atuação do BNDES garantindo o crédito ao investimento industrial, e avanços legais como a Nova Lei de Falências e a Lei de Inovações e a criação do SIMPLES Nacional, dentre outros regimes tributários especiais, que avançou na desburocratização e simplificação tributárias. Nunca se investiu tanto em infra-estrutura e no ambiente de negócios no País.
E o Governo pretende avançar ainda mais. Essa semana mesmo ele anunciou que está elaborando novas medidas que comporão a Política de Desenvolvimento da Competitividade a ser lançado brevemente. Será ampliada ainda mais a desoneração do investimento produtivo, serão fortalecidas as ações de defesa comercial, assim como a política de inovação.
Enfim, os desafios são grandes, mas o Governo mantém-se alerta e atuante em busca de soluções.
* Marta Suplicy (PT) é senadora pelo Estado de São Paulo. Foi ministra do Turismo, prefeita de São Paulo e deputada federal
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