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Marta vê violência e eriça Reinaldo, Aith e Alckmin

De uma penada, artigo da senadora que toca em 663 mortes violentas de mulheres no Estado de São Paulo, esvaziamento das delegacias da mulher e orçamento zero para programas à atenção feminina irrita colunista de Veja e secretário tucano de comunicação; estatísticas versus vida real

Marta vê violência e eriça Reinaldo, Aith e Alckmin (Foto: Edição/247)
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247 – Dois contra uma. Ação que pareceu coordenada entre o subsecretário de Comunicação do governo de São Paulo, Márcio Aith, e o colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo despejou ataques sobre a senadora Marta Suplicy e procurou encobrir com jogos de estatísticas o fato concreto levantado por ela. Marta lembrou, na semana passada, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, que o Estado de São Paulo registrou, em 2010,  nada menos que 663 mortes violentas de mulheres, alcançando, segundo o Instituto Sangari, o maior número absoluto deste tipo de ocorrência no País. Foi acusada de ter cometido uma "atrocidade" à estatística, ter "desinformado" seus leitores, "falar bobagem", não saber "matemática" e, por todas estas, necessitar ser mais "responsável mesmo no papel de colunista de jornal" pela dupla de amiguinhos, convivas dos convescotes do 'pessoal da Abril'.

De Azevedo que gosta de exibir o tamanho de sua cauda de seguidores, não se poderia esperar nível mais elegante diante da senadora de 8,31 milhões de votos. Não deve ser inveja. É o padrão. Ele polemiza sempre sacudindo chavões de desqualificação pessoal contra seus alvos.

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Do subsecretário Aith, pelo cargo, seria de se esperar, no entanto, uma postura mais institucional ou, ao menos, mais consistente. Igualmente escudado nas estatísticas, que a todas as teses servem, como sabem os economistas, o subsecretário deixa de lado o relaxamento administrativo do Estado, apontado por Marta (leia abaixo) e os reflexos sociais decorrentes,  nas questões da violência contra a mulher, para cobrir-se com um manto sagrado de números.

Alô, queridos, alôô... Não era só de números que a senadora estava falando – e, nesse campo, a centena 663 mortes violentas de mulheres no Estado de São Paulo em 2010 não foi contestada. Ela tocou num ponto que, se de um lado a faz ter a popularidade que tem (voltem ao início sobre a última votação dela), de outro explica porque os tucanos ficaram famosos pela insensibilidade social. Mortes violentas de 663 mulheres no Estado de São Paulo em 2010 são, para ela, mortes violentas de 663 mulheres no Estado de São Paulo em 2010 – para a dupla dinâmica, estatística. O pior é que, além deles, o governador Geraldo Alkmin também deve ter ficado eriçado pela palavra de seus ventríloquos. Será que ele também acha que estatísticas valem mais que a vida real?

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Abaixo, a manifestação da assessoria de Marta Suplicy, enviada ao 247, do qual a senadora por São Paulo é colunista, a respeito das réplicas de Aith e Azevedo, reprodução da manifestação do subsecretário de Comunicação do Estado de São Paulo publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, tréplica da senadora e endereço da coluna de Azevedo:

"Por que a senadora Marta, ao escrever sobre as mazelas do estado de São Paulo na segurança, em particular na questão da violência contra as mulheres - situação em nível intolerável -, acabou sofrendo um ataque virulento, por parte do subsecretário de Comunicação do Governo, Marcio Aith? Afinal, quem tem razão? Ela? Ou ele?

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É  evidente que a questão das mulheres vítimas de violência é ignorada pelo governo do Estado de São Paulo. E por isso Aith "bate" em Marta - e com tamanha insensibilidade para a questão.

Não existe política para as mulheres vítimas de violência em SP.

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Marcio Aith tergiversa.

Vamos aos fatos:

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O estado de São Paulo não tem programa nem dotação orçamentária para o combate à violência contra a mulher, nem secretaria, nem coordenadoria, nem arranjo institucional, ou seja, nada concreto para enfrentar o problema.

Não há previsão, no PPA de 2012 a 2015, de nenhuma política específica para mulheres.

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O grupo político do PSDB governa o Estado há décadas e São Paulo foi pioneiro na instalação da primeira Delegacia de Mulheres. Mas é fato que, depois do governo Montoro, todos os governadores seguintes praticamente enterraram o assunto. Pouco ou nada investiram.

O que salva São Paulo? Recursos do governo federal.

Se tirar apoio via Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), acabam as Varas Especializadas da Violência contra a Mulher na Capital. Ficaria apenas a Vara Central. Imaginou? Um caos.

São Paulo foi o penúltimo estado a assinar o Pacto de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, que o governo Lula lançou em 2006, à época da publicação da Lei Maria da Penha.

O governo federal ainda vai investir mais em São Paulo. A presidenta do Conselho Estadual da Condição Feminina informou à CPMI da Violência contra as Mulheres, na audiência pública de São Paulo, que será feita um mapeamento da violência com recursos do governo federal. Ou seja, até hoje o estado pioneiro na ideia de ter a Delegacia de Defesa das Mulheres não sabe efetivamente o que acontece nestas terras. Há clareza, entre as feministas e autoridades que estudam o assunto, que as estatísticas criminais são subnotificadas.

Exemplo: Uma delegada foi assassinada pelo ex-companheiro, policial também, dentro de um Distrito Policial. Este caso não consta nas estatísticas da violência contra a mulher porque está na Corregedoria da Polícia Civil. É espantoso neste caso que ela recorreu várias vezes à própria Polícia – tendo registrado várias queixas contra o namorado. Não deu resultado. Ela morreu.

As mulheres têm dificuldades para denunciar. Não há amparo nas delegacias. Caso triste a comentar: uma mulher estuprada procurou a Delegacia de Defesa das Mulheres em Itaquera (zona leste da Capital). O atendimento foi tão precário que ela recorreu ao Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado).

Em São José dos Campos, interior, uma mulher foi vítima de violência em 16 de dezembro. Só conseguiu registrar a ocorrência na Delegacia de Defesa das Mulheres em 11 de janeiro. Em Campinas, interior, as mulheres têm de pegar senhas para serem atendidas nas delegacias das mulheres, tendo em vista que faltam profissionais para atendê-las.

Faltam defensores públicos. Ainda em Campinas, foi relatado o caso de uma vítima fatal, cujo pai contou que o marido – assassino confesso – estava em liberdade e quase teve o caso arquivado porque a família – pobre – contra o autor do crime – homem rico – quase nada podia fazer.

Todos esses exemplos foram colocados nas audiências regionais da CPMI da Violência contra a Mulher em São Paulo.

Ainda ficou claro que muitos inquéritos são encaminhados ao Ministério Público sem condições técnicas de prosseguir para denúncia por má instrução da Polícia.

As estatísticas de 2010 pelo Instituto Sangari apontam que o estado de São Paulo foi o que teve mais casos de mulheres assassinadas (663) e este é um número absoluto. Pode não ser a totalidade, de fato. Mas é o notificado.

Em números absolutos, São Paulo lidera o ranking de mulheres assassinadas no Brasil. Uma vergonha! E vergonha maior ainda é Marcio Aith desqualificar o debate de conteúdo sobre o papel do governo do Estado no combate à violência contra a mulher, minizando o tema ao querer dizer que São Paulo é onde menos se mata na comparação com outros 25 estados, levando em conta a taxa por 100 mil habitantes. Tanto mais grave é uma manifestação deste quando as principais autoridades paulistas sequer responderam os questionários da CPMI, enviados em março, e não compareceram à audiência de São Paulo, no dia 29 de junho. Mandaram o quinto escalão para enfrentar questionamentos da omissão no cumprimento da Lei Maria da Penha. Total desprezo pela questão!

Há muito discurso por parte do governo do Estado, pouca ação e, infelizmente, mortes acontecendo ano após ano, com uma triste tácita conivência do Estado. Afinal, as autorias dos assassinos, são previamente conhecidas. Não seriam necessárias grandes investigações para impedir boa parte dos crimes.

Só há choques e cobranças em grandes cobertura da mídia para casos como da Mércia Nakashima (morta em maio de 2010), ou da adolescente Eloá (morta em 2008). Mas, todos os dias, duas mulheres morrem no Estado de São Paulo vítimas de violência doméstica. Morrem sem grandes coberturas da imprensa e sem qualquer preocupação ou consequência maior para o estado de São Paulo.

A CPMI da Violência contra as Mulheres está em andamento no Congresso Nacional, a senadora Marta participa e cumpre seu papel ao cobrar a omissão do governo do Estado de São Paulo. Somente o peso político de Marta está pautando alguma resposta, mesmo que tosca por parte do governo do Estado.

No interesse da população de São Paulo, ela deve continuar. Deve cobrar, incomodar e exigir mais e mais do governo do Estado. Senão, as mulheres vão continuar morrendo à míngua."

Abaixo, texto publicado no jornal Folha de S. Paulo com resposta do subsecretário Marcio Atih a artiga da senadora Marta Suplicy:

Governo paulista contesta artigo de Marta Suplicy

MARCIO AITH,
SUBSECRETÁRIO DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
(SÃO PAULO, SP)

É gravíssima a atrocidade estatística cometida pela senadora Marta Suplicy em sua última coluna (Violência no Limite, "Opinião", 4/8). Segundo ela, São Paulo foi o Estado que teve mais casos de mulheres assassinadas no Brasil em 2010. A senadora diz usar como base o Mapa da Violência, do Instituto Sangari, mas o levantamento informa justamente o contrário.

São Paulo, com 3,1 assassinatos por 100 mil habitantes, é o Estado com o segundo menor índice do país. Aliás, trata-se do único ranking divulgado pelo instituto, o que compara a taxa por 100 mil habitantes em todas as 27 unidades da Federação. E São Paulo ocupa a 26ª posição, numa comparação dos mais violentos para os menos violentos.

E como foi, então, que a senadora chegou à conclusão diametralmente oposta? Ela comparou apenas os números absolutos de assassinatos, desprezando a brutal diferença entre as populações dos Estados. Na melhor das hipóteses, um erro primário. Nesse sentido, sua coluna desinforma e subestima a inteligência de todos. A senadora Marta Suplicy deveria admitir seu erro. Por uma questão de honestidade.

RESPOSTA DA COLUNISTA MARTA SUPLICY - Gravíssima e vergonhosa é essa reação! Os números são absolutos, como está claro no artigo. A perda de 663 vidas mostra a gravidade do caso e a inércia do Estado. A morte de mulheres é somente um dos aspectos do fracasso da política de combate ao crime em São Paulo. Ação!

Abaixo, endereço da coluna de Reinaldo Azevedo: 

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/marta-suplicy-resolve-falar-bobagem-e-eu-resolvo-lhe-dar-aula-de-matematica-e-logica-elementar-nunca-e-tarde/.

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