Na eleição, aliados do governo vão melhor que o PT
Candidatos a prefeito como Celso Russomanno (PRB), Geraldo Júlio (PSB), Márcio Lacerda (PSB) e José Fortunati (PDT), todos de partidos da base do governo Dilma Rousseff, lideram as pesquisas em suas cidades, na frente de adversários petistas ou apoiados pelo PT, que estaria desgastado, segundo analistas
Por Jeferson Ribeiro e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA, 14 Set (Reuters) - Os partidos da base aliada têm se beneficiado mais da alta taxa de aprovação do governo e da presidente Dilma Rousseff do que o PT na disputa das principais capitais do país, mas não há uma explicação única para essa vantagem eleitoral.
Para cientistas políticos, este quadro eleitoral tem motivações que variam desde as cisões no PT para definir os candidatos em algumas capitais até o fato de que os partidos aliados podem capitalizar os pontos fortes do governo, deixando o ônus da administração federal apenas para o partido da presidente.
Mas tanto analistas como políticos lembram que as eleições municipais não estão ligadas diretamente ao quadro político nacional e que os eleitores levam em conta, principalmente, os problemas locais na hora de escolher o candidato.
"Esses partidos aliados surfam em onda muito boa. Usam a onda (de aprovação) do governo e capitalizam a rejeição que o PT tem. O PSB é o que melhor usa isso", afirmou o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo Barreto.
O professor da Unicamp Roberto Romano avalia que o esforço do governo para manter a ampla base aliada alimentou a perda de protagonismo do PT.
"O PT perdeu, então, essa condição de partido hegemônico. E os aliados também têm a máquina nas mãos", avaliou Romano.
Dos 38 postos do primeiro escalão do Executivo, 13 são ocupados por partidos aliados, o que lhes permite direcionar políticas públicas e verbas da máquina federal.
Em São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, o PT enfrenta diretamente partidos aliados e está atrás em todas essas disputas até o momento, segundo as pesquisas.
Na capital paulista, quem lidera é Celso Russomanno, do PRB, cujo partido comanda o Ministério da Pesca. O candidato petista, Fernando Haddad, bem atrás nas intenções, disputa o segundo lugar.
Em Recife, o senador Humberto Costa (PT) largou na frente nas pesquisas, mas o levantamento do Datafolha de quarta-feira mostrou o candidato do PSB, Geraldo Júlio, 11 pontos percentuais na frente.
No âmbito federal, o PSB comanda o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria de Portos, que tem status de ministério.
Em BH, o atual prefeito Márcio Lacerda, do PSB, parece caminhar tranquilamente para a reeleição contra o petista Patrus Ananias, que está 18 pontos percentuais atrás do adversário.
Em Porto Alegre, o atual prefeito José Fortunati, do PDT, lidera a disputa com 41 por cento das intenções de votos, segundo o Datafolha divulgado na quarta. Em seguida, vem a deputada Manuela D'Ávila, do PCdoB, com 30 por cento. Adão Villaverde, do PT, tem apenas 7 por cento das intenções de voto.
O PDT e o PCdoB também ocupam cargos no governo federal: os comunistas comandam o Ministério do Esporte, enquanto um pedetista chefia a pasta do Trabalho.
Em outras capitais como Rio de Janeiro, Curitiba e Manaus, por exemplo, o PT não tem candidatos e apóia candidaturas de partidos aliados.
FALTA DE LIDERANÇAS
Para alguns analistas, os problemas internos do PT explicam o mau desempenho nessas capitais.
"O que temos é fragilidade do PT em apresentar nomes para a disputa nas capitais e por razões locais", avaliou o professor da FGV Cláudio Couto.
Para Barreto, "uma segunda geração de líderes petistas foi abortada pelo mensalão". "Com o mensalão, muitas cabeças foram decepadas ou mandadas para os bastidores", afirmou.
O mensalão foi como ficou conhecido em 2005 um suposto esquema de compra de apoio parlamentar no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O caso, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) há mais de um mês, gerou uma grave crise na época e levou lideranças petistas a um relativo ostracismo político.
A tímida renovação dos quadros do PT, segundo Romano, é um dos entraves para o crescimento do partido no âmbito municipal. "A única moeda que o PT sabe usar é a moeda Lula", argumentou.
"Tanto PT quanto PSDB, eles não souberam aproveitar o tempo de governo federal para expandir suas bases nos municípios, ficaram concentrados na sede do poder, e foram perdendo espaço", acrescentou Romano.
Além disso, afirmou Romano, a fragmentação do PT colabora para o desempenho abaixo do esperado em alguns casos. É o caso de Recife, onde o candidato foi escolhido depois de uma intervenção do diretório nacional. Ou Fortaleza, onde a prefeita Luizianne Lins, do PT, escolheu o candidato para sucedê-la sem considerar os demais partidos do seu arco de aliança.
O cientista político da PUC-RJ Ricardo Ismael aponta mais um fator para o enfraquecimento do PT nessas capitais.
"O fato de a partir do segundo mandato do Lula, ele ter feito uma opção por ampliar as alianças com partidos de centro, às vezes mais conservadores, isso tirou a nitidez ideológica do Partido dos Trabalhadores", disse.
MAIS TERRENO PARA ALIADOS
De olho nessas fraquezas do PT, aliados históricos como PCdoB e PSB estabeleceram metas ambiciosas para ganhar terreno na eleição municipal.
Os comunistas administram pouco mais de 100 prefeituras atualmente e querem pelo menos dobrar de tamanho nessas eleições. Conta semelhante faz o PSB, que comanda cerca de 500 cidades e quer chegar a 1.000 prefeitos neste ano.
O presidente da Câmara, o petista Marco Maia (RS), não acredita que seja possível estabelecer uma relação direta do benefício eleitoral de siglas da base com a boa avaliação governo federal em detrimento do PT. Mas ao analisar o que ocorre no seu Estado, que tem 496 municípios, dá a medida do espaço cedido pelo seu partido aos aliados.
"No Rio Grande do Sul, PT e PMDB eram como óleo e água, não se misturavam. Nessa eleição, os dois partidos estão coligados em mais de 150 municípios", disse à Reuters.
A despeito dessas análises negativas sobre o desempenho petista, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, ponderou que não se pode menosprezar a força do PT e que o cenário eleitoral adverso pode mudar nas próximas semanas, já que as disputas municipais costumam ser decididas na reta final.
"Ainda o peso do PT é muito grande. É o partido que tem mais apoio disparado em relação aos outros e isso sempre pesa nas eleições. Não podemos subestimar", disse Rabelo à Reuters, lembrando que os petistas têm Lula e Dilma como cabos eleitorais.
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