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      No forno

      A CPMI do Cachoeira tem tudo para investigar a fundo uma organização criminosa de enorme capilaridade, mas a maioria que a compõe insiste em virar as costas para a sociedade

      Arthur Virgílio avatar
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      A CPMI destinada a investigar o tentacular esquema de corrupção montado a partir do contraventor Carlos Cachoeira abriu o forno para preparar a "pizza". Tem tudo para investigar a fundo uma organização criminosa de enorme capilaridade, mas a maioria que a compõe insiste em virar as costas para a sociedade.

      Quebrou parcialmente os sigilos da Delta Construções: apenas na região Centro-Oeste – e não nacionalmente – dentro do roteiro traçado por Lula de usar a investigação parlamentar para buscar atingir "inimigos" e poupar "amigos", como o "Serginho", na verdade Sergio Cabral, governador do Rio de Janeiro e bacante de Paris.

      Deixou de convocar os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), que já se declarou disposto a depor, Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sergio Cabral. Os dois últimos se pegam com todos os santos para não irem à CPI.

      Poupou o notório Fernando Cavendish, que enriqueceu nos nove anos e meio de governo petista no Brasil: sua Delta, que era pequena, nesse espaço de tempo tornou-se a sexta maior empreiteira do país. Virou, afinal a preferida do PAC e do governo fluminense, bilionária em ambas as instâncias.

      As ligações de Cavendish com Cachoeira são notórias. Como não investigá-lo? Como fingir que ele não existe. Como subtrair as verdades que a nação precisa conhecer? Por medo de que termine falando o que sabe e viu, ele que se declarou acostumado a comprar políticos e favores por cinco ou vinte milhões de reais? Por temerem que as mazelas do PAC venham à tona? Para homiziar o "Serginho"?

      A ideia central é assar mesmo a pizza, tentando mover guerra a adversários e, no máximo, entregando a cabeça do já moribundo governador petista do Distrito Federal. Pode ser que não consigam atingir o torpe intento, se os acontecimentos se precipitarem e tornarem impossível a chicana.

      Lembro-me dos preparativos para a instalação da CPI dos Correios, que terminou desvendando os meandros do maior escândalo da história republicana brasileira, o mensalão. O governo indicou para presidi-la o senador Delcidio Amaral (PT-MS) e se negou a entregar a relatoria à oposição.

      Em função disso, fomos para o embate no voto, disputando a presidência através da candidatura do senador baiano Cesar Borges. Perdemos por margem apertada, o vitorioso tomou posse e indicou para a relatoria o deputado Osmar Serraglio, do PMDB paranaense.

      Parecia o "crime" perfeito: CPI sob a direção de dois membros da base de apoio a Lula. Os estrategistas do governo não contavam com dois fatores relevantes: a imprensa livre denunciava os delitos e estes não puderam ser menoscabados pela Comissão. E tanto Delcidio quanto Serraglio não se prestaram ao papel de mamulengos dos ventríloquos do Planalto. Com o depoimento arrasador de Duda Mendonça, confessando que recebera milhões de dólares no exterior pelo trabalho de marketing realizado na campanha presidencial petista, ficou impossível empanar quaisquer outros fatos.

      O governo ainda instalou outra CPI, paralela à dos Correios e escolheu a dedo os parlamentares que se dedicariam ao deboche de esconder a verdade. Durou pouco tempo. Morreu sem glória.

      Ainda tenho a esperança de ver algo se impor ao roteiro mediocremente traçado: investigações limitadas e seletivas, ataques sistemáticos ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, justamente o homem que sustentará, no STF, as acusações aos mensaleiros, e à imprensa livre. Em suma, colocar o procurador–geral e a imprensa no banco dos "réus" e deixar flanando Cavendish e seus parceiros da "república do rabo preso".

      Creio que o Brasil anseia por isso e se frustrará se os pizzaiolos levarem a melhor.

      Arthur Virgílio é diplomata e foi líder do PSDB no Senado

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