No Rio, justiça eleitoral barra de Drummond a bate-papos

247 – Numa das eleições municipais mais violentas dos últimos tempos, com 23 casos regitrados de algum tipo de ato de força contra concorrentes, entre eles a morte a tiros do candidato a vereador de Cachoeiras de Macacu, Sandro de Gica, do PMDB, na noite da segunda-feira 10, a Justiça Eleitoral está endurecendo na aplicação de regras. Em alguns casos, com aparente exagero.

No município de Varre-Sai, na divisa do Estado do Rio com Minas Gerais, a juíza eleitoral Fabíola Costalonga baixou, também na segunda 10, portaria pelo impedimento de  “carretas, passeatas, comícios, reuniões de qualquer espécie (bate-papos) no município”. Quem contrariar, ela avisou no documento oficial reproduzido por 247 (abaixo), fica sujeito às penas da lei, inclusive pelo crime de desobediência. O candidato do PMDB a prefeito da cidade, Lauro Fabri, emitiu uma nota oficial a respeito da decisão (também abaixo).

Na eleição de São João do Meriti, na Baixada Fluminense, sobrou para uma paródia de um clássico do poeta maior Carlos Drummond de Andrade. Ali, o candidato à reeleição à Prefeitura, Sandro Matos, do PDT, é adversário do Dr. João, concorrente do PR. Eles têm, porém, traços políticos e administrativos em comum entre si. Enquanto na gestão do Dr. João na secretária municipal de Saúde, iniciada oito anos atrás, quando o prefeito era Usias Mocotó, houve o fechamento de postos municipais de saúde, na administração de Matos ocorreu o cerramento das portas do Hospital Infantil da cidade. O ex-prefeito Usias, por seu lado, agora apóia a candidatura de Matos, que se elegeu, em 2008, na oposição ao próprio Usias, de quem o Dr. João foi secretário.

Ciente dessa corrente de ligações, o marqueiteiro Celso Raeder, que trabalha para o candidato Doca Brazão, do PMDB, criou uma cena para o horário eleitoral gratuito na televisão que, por motivos que ele não esperava, entrou para a galeria de acontecimentos de destaque nesta campanha eleitoral de 2012. Aproveitando-se do famoso poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade – “João amava Teresa que amava Raimundo...” -, no qual o poeta traça uma linha unitária que não chega a resultado nenhum, o marqueteiro Raeder trocou os nomes dos personagens da poesia e, no lugar, enfiou a nomenclatura dos personagens reais da eleição. Ele tem gostado de trabalhar com este tipo de comparação. Neste momento, o programa eleitoral do candidato do PMDB na cidade exibe o quadro Avenida Meriti, paródia do sucesso televisivo Avenida Brasil, em outra vez une os adversário pela interesecção de seus passados e presentes.

O problema, para Raeder, é que a promotora eleitoral da cidade, Carla da Silva Carvalho de Canellas, não gostou nada quando, no ar, após a troca de nomes, o locutor dizia: Esse poema se chama, originalmente, Quadrilha. Por isso, conseguiu a suspensão da cena. O marqueteiro, ao 247, protestou. “Drummond foi censurado”, resumiu ele. “Deu para perceber que o limite da liberdade de expressão aqui em Meriti, nesta eleição, é bem estreito. Não contei nenhuma inverdade, apenas criei uma peça publicitária, em tom de humor, que revela ao eleitor ligações pessoais, políticas e administrativas que não estão claras no dia a dia da campanha”.

Abaixo, reprodução do documento da juíza eleitoral de Varre-sai com a proibição de aglomerações e, inclusive, “(bate-papos)” e,  em seguida, a nota do candidato do PMDB a respeito:

Aos amigos de Varre-Sai,

A decisão da Justiça Eleitoral, que no dia 10/08/2012, determinou a
proibição de qualquer manifestação de cunho eleitoral no Município de
Varre-Sai, demonstra que nós cidadãos de bem que há anos temos o
desejo de ver uma atitude de pulso do Poder Judiciário contra os
desmando e os abusos cometidos por aqueles que estão no poder, que
agem com a evidente vontade de “ganhar a política no grito”,
colocando-se acima do bem e do mal, desrespeitando a autoridade
eleitoral de forma acintosa, sem nenhum respeito pela democracia que é
a essência da política saudável.
É preciso dar nomes aos culpados e apresentar os devidos
esclarecimentos à população!
A verdade é como a rolha de cortiça... não adianta tentar mantê-la
submersa, pois ela sempre virá a tona...
Na condição de candidato a Prefeito pelo Município de Varre-Sai venho
a público parabenizar a Exma. Doutora Fabíola Costalonga pela grandeza
de seu ato, que a meu ver, deu para a Lei da Ficha Limpa a amplitude
esperada por mim e por todos os cidadãos de bem deste Pais.
A coligação “Varre-Sai no caminho certo” não soube respeitar as
diretrizes sociais da política. Desde o início do processo eleitoral
os candidatos desta coligação, impugnados por motivos diversos e
principalmente pelo rigor da Lei da Ficha Limpa, tentam esconder da
sociedade varressaensse a real natureza de suas candidaturas. Os
mesmos responsáveis pelo retorno da ditadura política que obriga os
funcionários e cargos de confiança a freqüentarem suas reuniões e
carreatas, através de um evidente ato de desespero, acabaram com a
democracia eleitoral no Município de Varre-Sai. Ao agredir e
desrespeitar o representante da Justiça Eleitoral, usando da
prerrogativa de autoridade executiva municipal, o senhor Roberto
Flávio Vieira, vulgo “FOFÓ” torna-se o principal responsável pela
decisão da Justiça Eleitoral.
Peço desculpas aos cidadãos varessaensses em nome da Coligação “A
esperança do povo” envolvida no contexto de forma passiva, pois todo
ato de agressão cometido requer que seja declarado “AGRESSOR E
VÍTIMA”.
Rogo a Deus pelo bom desfecho desta indesejável situação que nos
envolve a todos.
Que o espírito de amor e justiça que desejamos para a consagração do
processo eleitoral possa reinar no meio de nós!
Um forte abraço!
Lauro Fabri.