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O Alencar que conheci

O vice soube viver. Mas, melhor do que qualquer outro, soube também partir

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José Alencar Gomes da Silva se foi, mas é daqueles que ficam para sempre. Seu desempenho empresarial foi um dos mais notáveis do Brasil. Num tempo em que 99% dos industriais do setor têxtil choramingavam pelos cantos e reclamavam da invasão dos produtos chineses, Alencar decidiu enfrentá-los de frente. Transferiu boa parte das fábricas da Coteminas para a Paraíba, usufruiu de incentivos fiscais (que valiam para todos) e conseguiu ser mais eficiente do que os concorrentes asiáticos – a tal ponto que, depois de superá-los, conseguiu até adquirir grandes companhias nos Estados Unidos. Na política, o que ele deixa como legado é não menos relevante. Alencar não atingiu seu sonho, que era governar Minas Gerais, mas, nas eleições de 2002, contribuiu muito para que os empresários nacionais perdessem o preconceito em relação ao operário Luiz Inácio – “Silva”, como ele, e também casado com uma Marisa. E Alencar tinha razão.

Mas nada foi tão importante como a herança que ele deixa para todos os brasileiros, ricos ou pobres, poderosos ou não. Como encarar a dor? Como suportar o sofrimento? Como se preparar para a passagem? Alencar deu a resposta: com um sorriso, sem medo, com confiança e sem apego à própria vida. Afinal, ele sabia que nada disso estava sob seu comando. O eterno vice-presidente soube viver, mas, mais do que qualquer outro brasileiro, também soube morrer.

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Tive o prazer de entrevistá-lo em diversas ocasiões. Tratado como um parvo pelo mercado financeiro, Alencar dizia verdades que banqueiros não gostam de ouvir, especialmente a de que a taxa de juros brasileira não é uma obra da natureza, mas sim uma aberração, construída por nossa própria incompetência. Alencar era também mais esperto do que os gigantes das finanças – numa sociedade, conseguiu dar um nó até na turma do bilionário Jorge Paulo Lemann.

O vice, certamente, não era perfeito. Ele se vai sem resolver uma disputa de reconhecimento de paternidade, fruto de um relacionamento na juventude em Caratinga, que poderia ter sido solucionada em vida. Em Brasília, ele chegou a ser picado pela mosca azul, tendo sonhado sim com a presidência (mas não conspirado), durante a crise do Mensalão. De todo modo, seu saldo é amplamente favorável: 9 a 1, pelo menos.

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Muitos dos planos que ele traçou foram sonhados à beira do rio São Francisco, na Fazenda do Cantagalo, que também pude conhecer. Era uma propriedade simples, sem luxo, e totalmente dedicada ao trabalho, no norte de Minas. Uma fazenda de cria, recria e engorda de bois e também dedicada à produção da menina dos olhos do vice: a cachaça Maria da Cruz – a “melhor do mundo”, segundo ele. Era ali, entre um trago e outro da caninha, e diante do fluxo eterno das águas, que ele vivia seus momentos mais sublimes. Um brinde a você, Alencar.

* Leonardo Attuch é jornalista

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Twitter: @leoattuch

 

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