O cômico e o trágico da política
É fundamental findar o curral eleitoral e exigir, desde logo, uma capacitação universitária do candidato e a exigência de um pré-exame, aplicado pela justiça eleitoral. Faria um teste de cem questões com todas as matérias
O ditado popular menciona que, se não fosse cômico, seria trágico.
A política brasileira se manifesta pelos dois lados e ambos os ângulos fazem jus à classe política.
Existe um descrédito assustador da população e de toda a sociedade, desconfiança geral e, antes de tudo, precisamos avaliar o terreno e saber quais são os motivos da tragicômica política nacional.
Em primeiro lugar, as festas das eleições, a exemplo da plena democracia, confundem-se com espetáculos de doações de pequenos objetos, remédios, aquisição de imóveis nas empresas do governo, colocação em escola pública, internação na rede do SUS, qualquer vantagem ou favorecimento que intencionem o eleitor, o que caracteriza ato ilício.
Num segundo momento, quando se cogita da democracia, e não tendo viés político, todos se apresentam e sobem ao palco para se candidatar, qualquer um se soma à lista dos interessados nas eleições.
Por derradeiro, o grande erro é que, para se candidatar, há uma vocação, o discernimento e o conhecimento plural dos problemas da população. E, infelizmente, a minoria disseca as vicissitudes e, depois de eleito, afasta-se do seu eleitorado, retornando depois dos quatro anos, expirado o mandato, para novo pedido de voto.
É fundamental findar o curral eleitoral e exigir, desde logo, uma capacitação universitária do candidato e a exigência de um pré-exame, aplicado pela justiça eleitoral.
Faria um teste de cem questões com todas as matérias, locais e internacionais, aqueles que não obtivessem resultado favorável, correspondente a mais de metade da prova, estaria automaticamente impedida de se candidatar.
Os que obtiveram aprovação seriam endereçados para uma nova etapa de apresentação de suas plataformas à população, que, em relação aos cargos do executivo, indicaria, nas primárias, dois ou três candidatos para o pleito eleitoral.
A propaganda eleitoral é o momento máximo daquilo que afirmamos, uma grande maioria se permite pedir voto, mas nem ao menos conhece as funções para as quais se candidata e, mais do que isso, baseia-se em discursos inócuos e desprovidos de conteúdo.
Com a prova eliminatória, conseguiríamos detectar as falhas e excluir, de uma vez por todas, os indesejáveis, que apenas almejam os bônus, e não os ônus, do cargo.
E nesse mesmo cenário, no que concerne às prefeituras, muitos candidatos apenas atrapalham o conceito da boa democracia, cujo voto obrigatório é um grande retrocesso.
Não poderíamos ter mais do que três candidatos indicados para o cargo de alcaide e assim, com tal limpeza nas bases, daríamos, à população, uma maior serenidade e cobrança daqueles destinados à conquista do voto.
Desfilam uma grande quantidade de candidatos, mormente visando o cargo de vereador, mas, se o projeto de lei que está no Congresso for avante, mais de 80% dos municípios brasileiros terão as vereanças sem remuneração, somente com tal predicado, a tal circunstância do interesse público ficaria comprometida, uma vez que ninguém se proporia a trabalhar sem vantagens diretas ou indiretas.
Conclama-se, por tal especificidade, e tendo em mira a não inclusão do voto distrital, que os políticos sejam avaliados ao longo do mandato e com a perspectiva de perderem seus cargos antes do término, se comprovado for que não realizaram sequer um determinado percentual de suas propostas de campanha.
Jogadores, artistas, atletas em geral, apresentadores, comediantes, enfim, forma-se uma competição pelo voto, mas, com o aplauso popular, facilmente se elegem e passam a dar as cartas no cenário político.
E, definitivamente, uma escola estruturada para a formação de lideranças políticas precisa ser urgentemente implantada em todos os estados da federação, na qual fossem lecionadas matérias relacionadas à infraestrutura, aos problemas regionais e locais da população, e como resolver ou minimizar as agruras do transporte coletivo, saneamento, insegurança pública, daí porque, com pessoas que transmitam os informes, os políticos serão obrigados a repaginar suas agendas e terão a obrigação de prestar contas à população.
Essa enorme infantilidade da classe política, fundada na lei de Gerson, é o maior atraso que temos há séculos, enquanto não formarmos pessoas sérias, responsáveis e comprometidas com o interesse público, manteremos, em nossos quadros de representação política, pessoas despreparadas e aventureiras, eis porque, em matéria política, não somos apenas cômicos, mas trágicos, pois a má representação, envolta na corrupção, chafurdam a vida pública e trazem volumosa exclusão social.
Carlos Henrique Abrão é magistrado em 2º Grau no Tribunal de Justiça de São Paulo
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