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      O procurador geral

      Uma comédia em ato único e sem fim baseada em Gógol e estrelada por Lula, Roberto Gurgel e os integrantes da CPI do Cachoeira

      Rodolfo Borges avatar
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      “A culpa não é do espelho se a cara é torta.”
      Provérbio popular russo

      Personagens

      ROBERTO GURGEL, procurador-geral da República
      LULA, ex-presidente da República
      DEPUTADOS E SENADORES DO SEGUNDO ESCALÃO, integrantes da CPI do Cachoeira

      Ato único e sem fim

      Uma proposta de enredo para superar Gógol: após admitir que colegas de partido erraram, ex-presidente Lula pensa melhor e percebe que estava errado ao admitir o erro. Para se corrigir, patrocina CPI apocalíptica que, povoada de figuras de conduta duvidosa, guardará em sigilo documentos de conhecimento público e tomará em segredo depoimentos fadados ao vazamento.

      Não deve nada ao enredo de "O inspetor geral", vai. Conhece? Alertados sobre a chegada de um inspetor geral, governantes de pequena cidade russa se afobam e tratam o primeiro forasteiro que aparece (notório malandro) como se fora o tal superior. Khlestakóv, o falso inspetor geral, protagoniza a história. Nosso protagonista é Roberto Gurgel, o procurador-geral da República.

      Competir com Gógol não é fácil, mas vale tentar. Ao segurar a Operação Vegas, Gurgel adiou em pelo menos três anos a revelação da bonita amizade entre um bicheiro e um senador. Pausa dramática? Na minha história, o procurador é convocado para depor e só sai da CPI depois de negar o mensalão três vezes. Dias depois, numa reviravolta, um jornalista de Veja se ajoelha diante do senador Fernando Collor e confessa os pecados abraçado a uma imagem de Lula.

      Nem é preciso tanta imaginação. Se, em "O inspetor geral", o juiz é subornado com filhotinhos de cachorro e o chefe dos correios tem por hábito violar toda e qualquer correspondência que lhe caia na mão, em "O procurador geral" há um parlamentar que é, ao mesmo tempo, investigador e investigado. E quem dera essa fosse a pior parte.

      A CPI mandou fechar os depoimentos de delegados e promotores sob a alegação de que a defesa dos investigados poderia se beneficiar das informações, mas os advogados foram autorizados a freqüentar as audiências. O deputado que atentou para o fato foi chamado de "palhaço de circo" por um colega e retrucou: "sanguessuga!", em tom de "eu sei o que você fez na CPI passada".

      Em outra passagem digna de pastelão, um parlamentar celebra a ausência de seu nome durante a leitura dos 82 citados nas escutas da Operação Monte Carlo: "Ufa! Passou a minha vez...". E a encenação está só começando.

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