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      Ônibus, estádios e reforma política

      O financiamento privado de campanha impõe um custo a serviços essenciais, como o transporte público, e também à engenharia. Afinal, são as empresas de ônibus que bancam prefeitos e as empreiteiras que elegem governadores e presidentes

      Leonardo Attuch avatar
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      Por que os cidadãos que usam o transporte público são tratados como lixo nas grandes cidades brasileiras? Em grande medida, porque as empresas de ônibus, geradoras naturais de dinheiro em espécie e de caixa dois, estão entre as principais doadoras de campanha de prefeitos e vereadores. Como a política impõe um custo adicional ao transporte, o serviço público é péssimo. E não melhora porque, nesse círculo vicioso, os políticos se tornam reféns dos empresários.

      Pergunta número dois: por que os estádios de futebol, no Brasil, são muito mais caros do que em outros países? Porque as empreiteiras são as principais doadoras de campanha de governadores e presidentes. E o custo que a política impõe à engenharia se converte em sobrepreço e corrupção endêmica.

      Há, portanto, uma lógica que une os protestos que tomaram o País e a resposta dada pelo governo Dilma. Aos manifestantes que foram às ruas contra os aumentos de ônibus, logo se juntaram aqueles que protestavam contra os gastos contra a Copa do Mundo de 2014. Nos dois casos, havia gritos difusos contra a corrupção e a inversão de prioridades por parte dos governos, como se o Brasil fosse governado para empreiteiros e doadores de campanha – e não para o povo.

      Essa percepção motivou uma reação do governo Dilma que vai à raiz do problema. Enquanto o Brasil não estiver disposto a discutir, a fundo, uma reforma política que reduza a influência do capital privado na agenda pública, todo o resto será acessório. Pode-se transformar a corrupção em crime hediondo, como no projeto aprovado pelo Senado na semana passada, mas ela continuará existindo se os políticos dependerem de acertos com empresários para continuar no poder.

      Se o plebiscito proposto pelo governo vier mesmo a ocorrer, uma das questões centrais será o financiamento público de campanha – uma medida necessária, mas não suficiente para mitigar a corrupção. É também urgente reduzir o custo da atividade política. Contribuiriam para isso, por exemplo, medidas como o voto distrital, reduzindo o raio populacional das campanhas. O voto em lista fechada também fortaleceria os partidos políticos, fechando o espaço para aventureiros.

      O grito das ruas abriu a oportunidade para uma verdadeira transformação na política. Cabe à sociedade aproveitá-la.

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