HOME > Poder

Os 30% que o PT tem em São Paulo são do PT ou de Marta?

São de quem sabe fazer oposição – e Fernando Haddad ainda está sendo muito bozinho com a administração municipal que deveria atacar

Marco Damiani avatar
Conteúdo postado por:

O ex-presidente Lula está cumprindo o que prometeu. A presidente Dilma está fazendo mais do que anunciara. E a senadora Marta Suplicy, agora ministra da Cultura, leva desde a semana passada sua presença marcante para as carreatas e palanques do candidato do PT em São Paulo. Mesmo assim, Fernando Haddad está ainda bem distante do universo de 30% das intenções de voto que os petistas sempre acreditaram que o partido tem em São Paulo. O que há?

Pode-se falar que os reflexos da verdadeira razzia petista ainda não se fizeram sentir. Da minha parte, ao contrário, acho que teria dado tempo para, em razão da queda de Serra, até mesmo ultrapassar o tucano. E pode estar acontecendo de, ao contrário do que veem os mais torcedores, Haddad também ter o seu teto. Ao menos, com o discurso do momento, bastante professoral – e não tão nitidamente de oposição à gestão municipal. Mais particularmente, sem nitidez, até aqui, no povão. É ali que o posicionamento de franca oposição à atual administração poderia ser melhor reconhecido. É o que faz Marta, mas não é precisamente o que tem feito Haddad. O que ele pensa, por exemplo, sobre a série horrenda de incêndios em favelas. Que é preciso resgatar as brigadas de incêndio que José Serra extinguiu? Não parece pouco para alguém que necessita, para crescer, da massa da classe D? O discurso, nesse caso, não teria de ser mais amplamente social do que pontual?

Para falar ao povão é preciso ter vivência, traquejo, picardia. Características que, não sendo naturais do candidato, ele dificilmente irá adquirir em poucos meses ou semanas. A embocadura do discurso, o modo de apresentá-lo, a maneira de fazer corpo a corpo e, principalmente, o nome como marca de alguma coisa reconhecível de algo realizado, para o bem ou para o mal, são determinantes para ganhar ou perder votos aos borbotões.

Pode-se tratar a candidatura de Celso Russomanno com desprezo, mas ele se elegeu quatro vezes deputado federal debaixo da mesma bandeira. Gabriel Chalita também se mostrou bom de voto para deputado federal, mas mudou de partido, encontrou uma estrutura adversa na nova casa do PMDB – os quercistas que lá estavam foram postos para fora da direção municipal a ponto de, agora, estarem aninhados num comitê suprapartidário a favor de José Serra, do PSDB – e tem a marca do catolicismo.

Do ponto de vista eleitoral, você preferiria ter o apoio do Padre Marcelo, que lota sua igreja na zona Sul aos domingos, como Chalita, ou do bispo Macedo, tal qual Russomanno, que enche templos na cidade inteira (na verdade, mundo afora), manda seus pastores, que podem ganhar R$ 20 mil ao mês, ou mais, cabalar votos para seus candidatos de interesse por anos a fio e já fez até 'cola' para evitar a dispersão do rebanho – instrumento hoje proibido pela legislação eleitoral?

Quer dizer, voto religioso por voto religioso, o dirigido diretamente a Russomanno é muito mais numeroso.

Meu amigo Paulo Pereira da Silva deve ter, a esta altura, dois por cento das intenções voto pelo Datafolha, mas ele sempre foi sindicalista. Como hoje quase ninguém gosta de sindicalista, paga o preço da carreira construída. Soninha percorre os caminhos alternativos, e terá os votos dos alternativos, não mais que isso. No dia em que os que, para ficar no esteriótipo, frequentam a Vila Madalena forem maioria na cidade, as chances delas crescerão.

Serra, nesse quadro, é o sujeito que abandonou a Prefeitura. Mas, como ele mesmo defendeu, é igualmente o mesmo cara que, ao executar essa manobra, venceu as eleições para governador. Deixou no seu lugar Gilberto Kassab, cuja primeira meia administração, lembre-se, foi reeleita pelo voto popular, de modo a que tivesse essa inteira.

As críticas ao descaso com que Kassab tratou a cidade, sempre negado em suas entrevistas, só foram notados, ao que recorda minha memória da chamada grande imprensa, de pouco tempo para cá. A Folha abriu baterias mais a partir da criação do PSD do que pelo reflexo das mazelas administrativas na urbe. Quem abrir o Estadão, hoje, não irá encontrar grandes títulos sobre o lixo jogado por todos os bairros, o transporte coletivo digno de críticas pela Sociedade Protetora dos Animais, os rios Tietê e Pinheiros que, numa apuração que fiz junto à Cetesb, obtive a informação técnica de que exalam merda em forma gasosa. Tão simples assim. Quando questionei Kassab sobre o tema, ele disse que tratava-se de um assunto estadual. O prefeito sempre foi o cara do isso não é exatamente comigo...

O interessante é que, como gosta Kassab, essa eleição parece não ser exatamente com ele. Ele não gostaria de estar no centro da cena eleitoral, e não está. E isso porque o maior opositor a essa administração, em tese Haddad do PT, demonstrou dificuldade, até pouco tempo atrás, de cumprir esse papel. Eu perguntei, em entrevista para o 247, o que Haddad achava dos recapeamentos em grandes avenidas feitos em cima da hora eleitoral a mando do prefeito, claramente para dar aquele impressão de gestão operante etc.

E ele: "Melhor que faça agora do que não faça nunca".

Ficou claro que Kassab não seria o seu ponto. Se seguir o conselho de José Dirceu, registrado em artigo, o candidato do PT voltará sua ira a José Serra, mas a reclamação era a de que o postulante estava dando muita atenção a Russomanno. Nada a ver, de novo, com Kassab.

Para Serra, deixar Kassab na miúda pode ser a diferença entre parar de cair e, assim, chegar ao segundo turno para jantar Russomanno. Ou Haddad faz a parte dele, e ataca mais, ou pode demonstrar que, mesmo com o apoio da santíssima trindade, é possível não chegar a lugar nenhum.

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...