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Paz acalorada: o jogo só acaba quando termina

Não existe mais antagonismo ou oposição de verdade. Só no futebol. O espectro de cores da Política é daltônico

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O futebol é o ópio pós-moderno do povo, pois desvia qualquer problemática social para o seu foco. Mas acho que isso é questão de acertar o ângulo. Pode ser o www que for, a efêmera coluna do jornal que envolverá o peixe fresco de amanhã, da Tv de plasma ao rádio de pilha, ou em alguma diminuta banca de Quissamã. Não existe mais antagonismo ou oposição de verdade. Só no futebol. O espectro de cores da Política é daltônico. Na turva confusão de tons ideológicos, apenas mais do mesmo: um baile de máscaras que se assemelha a uma sala de espelhos. Em destaque, é claro, o insucesso verde e amarelo de uma seleção repleta de bons moços apolíticos – viu como o futebol tem a incrível capacidade de atrapalhar a discussão?

Quando se fecha uma porta, dizem se que abre uma janela. Mas quando cai um muro, o que sobra? Ao que muitos sugerem, o apito final da História – com o concreto dos tijolos, desabou o Materialismo. E desde então o único lugar que se levanta bandeira é nos estádios. Fora, só se discute dentro das mesmas premissas. Aliás, não há discussão, só debate, que no máximo se estende ao tema-chave “Desenvolvimento Sustentável”. Fora isso, é só “Let it be”. Porque ter uma posição explícita neste jogo é démodé; chegou a vez do vaselina, mediador da conciliação, pacificador de uma guerra já vencida, o encerador do meio-campo nos acréscimos.

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Tempos pós-modernos: Ferreira Gullar desavermelhou, Brizola não está mais aí pra ganhar desculpas em pleno Jornal Nacional, Lobão não é mais a chatíssima boca marginal da mídia, MV Bill foi enGlobado, Podres Poderes não estão mais sob os versos de Caetano e não há mais sequer um bad boy com a camisa canarinho. Não que isso seja suficiente pra qualquer vitória, porque nunca foi, mas nem isso sobrevive entre os escombros. Já os flashes... esses registram acenos esperançosos ao lado de tanques de guerra pacificadores e uma Brasília da época do tri às cinzas, posse do Seu Juracyr, cortador de frios da padaria perto do lixão. Enquanto isso, nem as linhas próximas do obituário notificam o apartheid sorrateiro na Avenida Brasil, onde muros tapam os bestializados da favela. Afinal, Copa e Olimpíadas tão chegando e isso não é coisa pra inglês ver.

É hora de silêncio e paredes pintadas. Os gritos cabem apenas em Bolsonaros e Malafaias na defesa – ou ataque? - dos valores familiares divinais, ou Datenas entoando expulsões sociais. Quem se dispuser ao confronto, que receba a primeira pedra. Além disso, só as costumeiras doses de gol duas vezes por semana. Antes da novela das seis e depois da novela das oito. Admirável mundo novo!

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Nada de oposições ferrenhas com análises densas. O Pão e Circo hoje só arma ringue para espetacularizar o secundário: que tipo de piada está dentro do politicamente correto, qual variação lingüística pode ser estudada, coisa e tal – e por “coisa e tal” entenda um monte de posições hegemônicas, conservadoras e completamente excludentes.

Da Academia, ecoa um dos pilares do silêncio: o relativismo. Não existem verdades ou posições, toda contradição é conjugável – como se na hora de fazer um bolo, desse pra agradar o chocólatra e o alérgico, ou na hora de montar um time desse pra ter dois goleiros. Nos vilarejos e nas metrópoles, há panos quentes sobre uma paz conformadora com o empate político-social.

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E o que resta nisso tudo é qualquer factóide, qualquer enxovalhamento reaça quanto ao Lula feito por seu pretenso rival, Mainardi, capaz de criar polêmicas que resultem pelo menos em debates revisionistas.

Mas, olha, talvez a questão seja mesmo de ângulo e o futebol – desgraça que provoca alegria nessa boca banguela e sorridente – seja a salvação do país. A solução é simples: coé, mano, convoca o Felipe Mello! Quem sabe aí retornamos à era dos extremos: tal qual torcida de verdade, assistiríamos na final a tesoura do ogro vilão em um dos hermanos, com o vermelho do juiz estampado em sua cara, desdobrando na frustração-mor da nação abarrotada no Maracanã: o fracasso derradeiro frente à Argentina. Quem sabe assim o grito esperado de gol agigante uma fúria desencadeadora de passeatas, greves gerais e tudo mais que o valha. Que as bocam famintas possam saciar-se por suas próprias vozes e saiamos da conciliação universal – que é vitória de muito poucos. Isso se a manchete dos jornais não ratificar o conformismo com um tão profético quanto desiludido “EU JÁ SABIA!”.

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