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Por que parou? Parou por quê?

Não há mistério: a CPI do caso Cachoeira foi engavetada até término das eleições para não atrapalhar as doações das empreiteiras aos candidatos de todos os partidos

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É mais fácil encontrar uma nota de três reais do que investigar uma empreiteira no Brasil. O desabafo foi feito pelo senador Randolfe Rodrigues, que vinha sendo um dos parlamentares mais atuantes na CPI do caso Cachoeira. Uma investigação que, aos poucos, se convertia na CPI da construtora Delta, do empresário Fernando Cavendish.

No momento em que a CPI começava a esquentar, com a obtenção dos extratos financeiros da Delta e da rede de laranjas e de empresas de fachada utilizadas para emitir notas fiscais que favoreciam repasses de recursos não contabilizados – não só pela empresa de Cavendish, mas por várias empreiteiras – a políticos de todos os partidos, o presidente da CPI, Vital do Rego (PMDB-PB), e o relator Odair Cunha (PT-MG), decidiram suspender os trabalhos até o término do primeiro turno das eleições municipais.

Por que a CPI parou, se não há recesso no Congresso neste mês de setembro? Parou por quê? Não há mistério algum. Candidatos a prefeito de todos os partidos, em várias cidades do País, vinham relatando dificuldades para obter doações privadas para suas campanhas municipais. A fonte havia secado. E quem são os doadores? Justamente as grandes, médias e pequenas empreiteiras espalhadas pelo País, que transmitiram ao Congresso o recado: não podem ser doadores e bandidos ao mesmo tempo.

Entre o interesse próprio (defender as doações aos candidatos) e o interesse coletivo (desvendar o esquema Delta e o de outras empreiteiras), os parlamentares, evidentemente, preferiram a primeira alternativa.

E não foi a primeira vez que isso aconteceu. Na CPI do Collorgate, em 1992, os doadores ficaram de fora e o próprio PC Farias colocou o dedo na ferida, ao apontar a hipocrisia dos parlamentares. Dois anos depois, com os anões do orçamento e a famosa "pasta rosa", idem.

Agora, no momento em que o Supremo Tribunal Federal julga um caso típico de financiamento de campanha, mais uma vez o Brasil desperdiça a chance de investigar a fundo como se dá a troca de favores entre políticos e empreiteiras. Uma pena.

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