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Pressão de Dilma e Lula surte efeito: Marta desiste da Prefeitura de SP

Senadora convoca entrevista coletiva para amanh; isolada no PT, ir jogar a toalha; caminho aberto para o ministro da Educao, Fernando Haddad, como querem a presidente Dilma e o ex Lula

Pressão de Dilma e Lula surte efeito: Marta desiste da Prefeitura de SP (Foto: Divulgação)
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Folha - Isolada no PT e sob pressão do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, a senadora Marta Suplicy desistiu de disputar a indicação para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012.

A decisão abre caminho para o partido confirmar a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. Ele foi lançado por Lula e tem apoio de Dilma e da cúpula petista.

Marta acertou a saída em conversa reservada com a presidente na base aérea de Congonhas, na segunda-feira, antes de ela visitar Lula no hospital Sírio-Libanês.

O encontro foi divulgado ontem (1º) pela ministra Helena Chagas (Comunicação Social) na chegada da comitiva presidencial a Cannes, na França, para a cúpula do G20.

Segundo o relato dela, Dilma disse que Marta foi "a melhor prefeita que São Paulo teve", mas não deveria se candidatar de novo porque agora sua presença no Senado seria "mais importante".

Ficou combinado que a senadora ficaria responsável por anunciar publicamente a sua resposta. Ela convocou jornalistas para uma entrevista na quinta-feira (3), depois do feriado de Finados.

Em seu jantar de aniversário, na quinta-feira passada, Lula disse a aliados que procuraria a ex-prefeita para uma conversa definitiva. A descoberta de que ele tem câncer na laringe obrigou Dilma a assumir a tarefa.

Aliados de Marta e fontes do Planalto confirmaram à Folha que ela vai se retirar. Ontem à noite, seus apoiadores se reuniriam para decidir se declaram apoio a Haddad logo ou se esperam que ele seja oficializado candidato.

Leia abaixo reportagem de 247 "Marta contra todos para barrar operação Haddad", publicada em 16 de setembro, que apontava para o crescente isolamento da senadora em seu próprio partido:

 

Marco Damiani_247 – A julgar pelas pesquisas, o PT terá uma eleição com grandes chances de vitória em São Paulo, em outubro do próximo ano, a partir de uma candidata favorita. Mas também pelo que mostram os levantamentos de opinião, o PT poderá largar na última fila, com um verdadeiro azarão que jamais disputou um cargo público pelo voto.

Entre esses extremos, o partido está sendo levado a escolher a segunda opção. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vacila um segundo em manifestar e reafirmar seu apoio ao ministro Fernando Haddad, dono de 2% de intenções de voto no último Datafolha, sem qualquer sinal de ceder à pré-candidata Marta Suplicy, senadora eleita no ano passado, ex-prefeita e senhora de 31% no mesmo levantamento.

“Você é mais importante no Senado”, disse Lula a Marta, no único diálogo travado entre os dois nos últimos meses, em seu escritório no Instituto da Cidadania, quando ouviu da senadora a disposição dela de ir até o fim em sua intenção de concorrer à Prefeitura.

Hoje, Lula carrega seu candidato Haddad a tiracolo na festa, às 17h00, dos cinco anos de inauguração da Universidade do ABC. Três semanas atrás, ele esteve com o ministro num encontro de outro tipo. Na casa do empresário Josué Gomes da Silva, em São Paulo, o ex-presidente foi o centro de uma reunião com cerca de 20 empresários, aos quais apontou Haddad como o homem a ser apoiado. Política e financeiramente. A Josué, filho do ex-vice-presidente José Alencar, morto este ano, Lula demonstrou sua vontade de tê-lo como vice na chapa de Haddad. Seria a repetição do modelo que, com ele, deu certo: um petista na cabeça, um empresário para ampliar o eleitorado natural do partido. Até aqui, porém, o presidente da Coteminas declina da ideia.

Todos esses movimentos ainda não fizeram Haddad decolar, mas é certo que estão testando ao limite o ânimo e a capacidade de reação de Marta. “Já vi Lula virar resultados de encontros do PT apenas tendo de chamar prefeitos de lado para trocar votos que pareciam cristalizados”, lembra Marta quando está entre os seus correligionários. “Ninguém pode com a força e o prestígio de Lula dentro do partido, mas a questão é que eu nunca estive tão bem como agora, tanto em vontade como em apoio da população, além de ter uma obra a apresentar”, completa ela.

Com efeito, além de liderar todas as pesquisas, em todas as simulações possíveis e, ainda, apresentar uma taxa de rejeição menor do que a costumeira, Marta é vista como uma super star dentro de seu próprio partido. Nos encontros que a legenda está desenvolvendo com a militância nos bairros da capital, ela é sempre a mais aplaudida, disputada para conceder autógrafos e tirar fotografias. Mas isso pode não adiantar nada, reconhecem os que trabalham pela candidatura da prefeita. A própria Marta duvida de suas chances nas prévias já marcadas pela direção do PT.

É a presidente Dilma que poderá atuar como aliada de Marta em seu desejo de obter a candidatura. “Faça o que for melhor para você, mas tenha atenção ao Lula”, disse Dilma à senadora quando Marta levou a ela o desejo de concorrer. Agora, porém, essa frase dúbia é pouco para as necessidades da pré-candidata. Marta olha para o seu lado e não vê aliados que possam conter o desejo de Lula por Haddad. Um deles, o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza, se esforça para ajudá-la, mas igualmente começa a se pronunciar à maneira em cima do muro, sem se comprometer demais com ela. O ex-secretário geral José Dirceu, certamente o político mais influente, depois de Lula, dentro do PT, há pouco tempo nem considerava Marta como pré-candidata. O presidente da legenda, Rui Falcão, principal auxiliar de Marta em sua gestão municipal e candidato a seu vice na derrotada campanha de reeleição, igualmente não pode lhe dar apoio. Afinal, como presidente da legenda, terá de exercer o velho e confortável papel de magistrado. Os que sempre lhe fizeram oposição interna, em contrapartida, já saem a campo com desenvoltura. “A experiência de Lula em eleições tem de ser levada em consideração”, disparou o ministro Aluizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, ao comentar o Datafolha que dava Marta estourada. Em 2010, quando concorreu ao governo estadual, Mercadante afastou-se de Marta e orientou seu grupo a jogar mais tintas na candidatura de Netinho de Paula, do PCdoB, em lugar de realçar a nominada pelo seu partido. “A verdade é que Marta ganhou a eleição para o senado praticamente sozinha”, diz um interlocutor da pré-candidata.

Além de recorrer a Dilma, mas sem criar o constrangimento de contrapor a presidente a Lula, Marta pretende divulgar a ideia da confecção de um amplo programa de governo, aberto a contribuições da sociedade, de modo a ampliar seu lastro social. Ela vem sendo aconselhada a carregar a bandeira da conciliação e da unidade para anular o esforço lulista de emplacar Haddad. No entanto, quando apresentado a essa estratégia, o ex-tesoureiro do PT e raposa felpuda do partido Delúbio Soares abriu um sorriso. Como amigo de Marta, ele disse: “Esqueçam esse negócio de unidade, o PT é um partido de briga. Se quiserem vencer, tem de ir ‘pro pau’”. Será a disposição para o desgate que ir à briga significa que vai determinar se a senadora levará adiante sua promessa de “ir até o fim” com sua vontade de ser prefeita outra vez. Se vacilar, será difícil convencê-la a trabalhar de verdade por Haddad, que contará apenas com Lula e um partido cujas bases mal o conhecem para chegar onde Marta chegou. Uma eleição para ser ganha, seria, assim, perdida.

 

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