TV 247 logo
      HOME > Poder

      Quem julga?

      Os grandes grupos de mídia brasileiros não se prepararam para a cobertura do julgamento do mensalão. Sua parafernália foi montada com outro intuito: noticiar o dia a dia de uma condenação

      Marcos Coimbra avatar
      Conteúdo postado por:

      Os grandes grupos de mídia brasileiros não se prepararam para a cobertura do julgamento do mensalão. Sua parafernália foi montada com outro intuito: noticiar o dia a dia de uma condenação.

      Se não de todos os 38 réus, pelo menos das principais figuras do PT e de outros partidos que foram acusadas. Junto com alguns dos personagens de fora da política que se tornaram simbólicos dos eventos que suscitaram as denúncias.

      A “grande imprensa” faz plantão na porta do Supremo Tribunal Federal aguardando a condenação. O julgamento é um detalhe, uma burocracia que só retarda o desfecho que espera - e deseja.

      A rigor, ela não demonstra interesse pelo que vai acontecer no STF, de agora até que o último réu seja julgado. Parece achar que a história do mensalão já foi escrita.

      É irrelevante se o jornalista ou seu empregador estão convencidos da culpa de alguém. Até porque a última preocupação que têm é com a Justiça. Suas convicções políticas, suas antipatias e simpatias impedem a isenção exigida para julgar.

      Muitas pessoas acreditam que o pleno exercício do papel da imprensa requer o que chega a ser exacerbação crítica. Sem uma incansável disposição de recusar a verdade estabelecida, sem ser sistematicamente “do contra”, ela seria dispensável. No limite, como dizia Millôr Fernandes, “Jornalismo é de oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.

      Certa ou errada a frase (e, no Brasil de hoje, nada menos oposicionista - no sentido que Millôr dava à palavra - que os veículos da indústria de comunicação, que costumam ser apenas porta-vozes do situacionismo de ontem), o que ela ressalta é a incongruência entre julgar e fazer imprensa investigativa.

      Essa pode - e talvez deva - ir mais longe na denúncia que o justo (considerando, é claro, os veículos e profissionais que se mantêm no jornalismo e ignorando os agentes do jogo ideológico de baixa qualidade).

      O mesmo vale para a atuação do Ministério Público. Excessos saudáveis de alguns de seus integrantes ajudaram no amadurecimento de nossas instituições, ainda debilitadas pelo autoritarismo. Promotores “incômodos” são mais úteis à sociedade que os “bonzinhos”.

      De novo, isso é incompatível com a função de julgar. “Carregar nas tintas” de uma denúncia é permissível, e, por isso mesmo, alguém tem que evitar que se convertam, automaticamente, em punição.

      O julgamento do mensalão não é o endosso dos ministros do STF ao que a “grande imprensa” diz e nem tampouco o referendo da denúncia apresentada pelo Procurador-Geral. É o momento em que a acusação deixa de ser unilateral e a defesa - tão legítima quanto ela - é ouvida.

      Dele, ninguém deve sair condenado sem prova irrefutável de culpa.

      Nossa “grande imprensa” se colocou em uma posição delicada. De tanto apostar na condenação - seja por estar convencida da excelência de sua investigação, seja para golpear o “lulopetismo”-, ficou sem saída.

      Ou o STF faz o que ela quer ou está obrigada a repudiar seu pronunciamento.

      Caso não venham as penas, como se explicará a seus leitores e à opinião pública? Reconhecerá que se excedeu, que atacou sem provas, que destruiu imagens e reputações irresponsavelmente?

      Ou vai insistir que estava certa e errado é o julgamento do Supremo? Que, portanto, os cidadãos brasileiros não podem confiar na Justiça?

      Para ela, só pode haver um desfecho: a condenação. Mas que julgamento seria esse, se todos já foram condenados?

      O que a “grande imprensa” brasileira menos quer é que o Supremo julgue. Ela já fez isso.

      E não admite a revisão de seu veredicto.

      Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247