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Poder

Reputação, um ativo escasso no serviço público

Parece que os políticos brasileiros, principalmente aqueles que assumiram cargo no primeiro escalão, não se preocupam com o alerta dos especialistas no assunto

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Reputação hoje é um ativo cada vez mais valioso. As pessoas estão pesquisando as empresas antes de comprar produtos, investir ou aderir a eventos. Segundo Jonathan Bernstein, especialista em gestão de crises, “tornou-se uma prática comum usarmos nossos smartphones para avaliar uma loja ou um fornecedor, enquanto literalmente ficamos em pé numa vitrine para olhar um dos seus produtos”. Ou seja, antes de decidirmos a compra, já temos o perfil do lojista, pela internet.

Políticos, empresários e autoridades, em geral, além das empresas de comércio e de serviços, deveriam se preocupar com uma pergunta que influencia cada vez mais o consumo e a opinião pública: o que o internet diz sobre você? “É fácil o bastante verificar. Basta digitar o nome da sua organização ou seu próprio nome e ver o que vem à tona. O cenário mais provável, a menos que você tenha enfrentado um grave problema recentemente, é você ver um eventual press-release, algumas notícias ou até mesmo nada”, diz Bernstein.

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Os especialistas dizem que enquanto alguns podem respirar tranquilos, porque a internet não os incomoda, você poderia estar caindo em uma armadilha comum. Sem nenhuma informação disponível, o primeiro relatório ruim que circule na internet sobre você levará seu perfil para o topo dos sites de busca. Quanto alguém indexar seu nome ou da empresa no Google, quando clientes ansiosos na hora da decisão da compra acessarem seus dados, “adivinhem o que esses clientes estarão vendo, naquele momento?” pergunta Bernstein. E por que nós estamos com a sensação, no país, de que os políticos estão se lixando para problemas de reputação?

Impunidade e eleitor conivente favorecem fichas sujas

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Parece que os políticos brasileiros, principalmente aqueles que assumiram cargo no primeiro escalão, não se preocupam com esse alerta dos especialistas. Basta examinar as denúncias surgidas nos últimos meses na mídia brasileira. Ministros cada vez mais enrolados em acusações graves, dando desculpas simplórias, com arroubos de destempero e desafio, desmentidas poucas horas depois.

Tivemos na semana passada um exemplo canhestro, quando o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que já passou dos limites em matéria de má educação e senso do ridículo, negou em depoimento na Câmara dos Deputados conhecer um empresário, este também enrolado nas denúncias de malfeitos no uso do dinheiro público do ministério. A veemência e os gritos de Lupi, ao afirmar aos parlamentares desconhecer o empresário, só não foi menor do que os de São Pedro, na noite da agonia de Jesus, negando para os carrascos conhecer o Messias. Que saudades de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Santiago Dantas, homens públicos que tinham a sabedoria e temperança, até mesmo para se indignar! Na forma e no conteúdo.

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Bastou 24 horas para a imprensa o desmentir, mostrando como ele havia aceitado carona no avião do empresário. Ou seja, ou o ministro julga deputados, jornalistas e os brasileiros, todos idiotas, ou realmente teve a intenção de esconder suas relações pouco republicanas com empresários superenrolados? O ministro, na sua inexperiência e despreparo políticos, parece que não aprendeu com a raposa velha, seu padrinho do passado, Leonel Brizola. Não existem segredos que a sociedade não descubra e nem mentiras que mais cedo ou mais tarde deixem de ser desmascaradas. Brizola provavelmente desaprovaria o afilhado truculento.

Os próprios corruptores, como aconteceu na maioria dos cinco ministérios atingidos por denúncias nos últimos meses, acabam dando com a língua nos dentes. Eles – tão enrolados quanto os ministros denunciados – ao terem interesses excusos atrapalhados, se transformam da noite para o dia de corruptores em heróis de araque. Como se estivessem defendendo o erário e dando um exemplo de comportamento e ética. Esses empresários corruptos deveriam figurar num índex prohibitorum, para serem banidos da vida pública, junto com os servidores públicos e ministros que os favoreceram.

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O que mais deixa a sociedade brasileira boquiaberta é a ficha desses empresários. Eles se revezam ao redor da Esplanada dos Ministérios, qual corvos em torno das carniças, dando uma bicada aqui, outra acolá. Respondem por vários processos e continuam desviando não milhares de reais, mas milhões, como aconteceu com as Ongs enroladas do ministério do Esporte, do Turismo e do Trabalho. Não têm endereço fixo, não cumpriram o contrato. E continuam aí, com a maior cara de pau, pegando dinheiro público, sem que a Controladoria Geral da União e o Tribunal de Contas da União cumpram os seus deveres de vigiar esses ladrões de casaca do dinheiro público.

Chega a estarrecer o ministro-chefe da CGU vir a público, com ares de espanto, admirar-se e condenar Ongs que desde a década passada se especializaram em desviar verbas de convênios feitos com o governo. E o que fez a CGU deste então? O ministro Jorge Hage chega a dizer que não foi a corrupção que aumentou nos últimos dois governos, mas a apuração dos casos e das denúncias, que se tornou mais efetiva. Antes tudo ficava "debaixo do tapete", diz o ministro. Será?

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Se houvesse fiscalização rigorosa, seguidas de punições da Justiça, com penalidades pecuniárias e fiscais pesadas, essas Ongs de mentirinha estariam assinando e renovando contratos com o governo, levando milhões para enriquecer os donos e funcionários públicos coniventes? Alguém se preocupou em fiscalizar pelo menos a sede – inexistente – dessas Ongs, antes de assinar os contratos? Vem a público nessas revelações um pacto de conivência entre servidores dos ministérios e esses pseudoempresários. Mais estarrecedor é ouvir de ministros que eles não sabiam. Em alguns casos, desconheciam que o próprio secretário-executivo fazia parte do esquema.

O pior é que a memória do eleitor é curta. Esses mesmo ministros e servidores do primeiro escalão denunciados, com reputação para lá de suja, acabam sumindo do noticiário durante certo tempo. Eles ficam hibernando. Qual delúbios que vão para a fazenda em Goiás, para depois surgirem recuperados, prontos para novas aventuras nos escaninhos do poder. Alguns meses ou anos depois ressurgem como candidatos, naturalmente usando o dinheiro que desviaram, para se eleger para algum cargo eletivo e com isso adquirem imunidade. E olha eles aí de novo. Como se nada tivesse acontecido.

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Basta dar uma olhada na lista de políticos matreiros, eleitos para a o legislativo ou o executivo pelo Brasil afora, incluindo Brasília, e veremos ali uma galeria de fichas-suja. Ao fim e ao cabo, se a fiscalização não os pega, a cassação deveria ser do eleitor. Mas num país em que figurantes do Big Brother da Globo são chamados de “heróis”, não há de admirar que os ministros agora banidos deem a volta por cima e estejam se lixando para a reputação. Reputação no serviço público, pelo que o Brasil tem assistido, infelizmente é um ativo que não importa mais.

João José Forni é formado em Letras, Jornalismo, tem MBA em Gestão Estratégica e é Mestre em Comunicação pela UnB

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