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Se um militante numa noite de inverno

Ele detinha informações que possibilitariam a qualquer um manobrar ao próprio sabor o julgamento do mensalão, mas perdeu o voo

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Você vai começar a ler a nova crônica de Rodolfo Borges, Se um militante numa noite de inverno. Relaxe. Concentre-se. Afaste todos os outros pensamentos. Arrume-se na cadeira. Ou no sofá, se estiver lendo em seu notebook ou num tablet. Você não espera muito da leitura, mas o texto parece curto e a presença, no título, do termo "militante", em ano de eleição e às vésperas do julgamento do mensalão, conseguiu segurá-lo até aqui, quando sua paciência acaba. Ao decidir abandonar a leitura, você vai à caixa de comentários para um desabafo enfurecido contra o autor, cuja tentativa de estilo falhou mais uma vez.

Após despejar os impropérios, mais calmo e em busca de mais elementos para criticar o obtuso cronista, você retorna ao texto e ironicamente começa a se interessar pela história de um homem que lhe surge parado em frente ao portão de embarque de um aeroporto. Ele carrega uma maleta, e o fato de carregar essa maleta chama mais atenção do que qualquer outra de suas características, dada a forma rígida com que a alça é apertada. O olhar fixo diante do portão de vidro cerrado denuncia que ele perdeu o voo.

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É normal perder avião hoje em dia, você sabe, e é por isso que se intriga com o fato de esse senhor parecer tão perturbado por não ter entrado naquele voo de ponte aérea. É que, naquele momento, ao lado do vazio assento 7C, está sentado o homem que deveria receber o conteúdo da tal maleta, recheada de arquivos com detalhes sobre os votos de cada um dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão.

A maleta guarda mais: segredos comprometedores dos magistrados da Corte Suprema, que, usados seletivamente, possibilitariam a qualquer um manobrar o resultado do processo ao próprio sabor. Informações colhidas em vídeos das melhores safras Carlinhos Cachoeira e Durval Barbosa, além de documentos verdadeiros e falsos que expõem maracutaias e intimidades da Alta Corte, num material que definiria os futuros de José Dirceu e Delúbio Soares.

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Esses detalhes sórdidos passariam pelo menos mais um dia incógnitos, mas o portador da maleta estava mais preocupado com a possibilidade de perder a bolada prometida, já que esse fora seu segundo vacilo em menos de uma semana. Era nisso que o araponga pensava no momento em que, ao cruzar com um homem de sobretudo e chapéu, ouviu a proposta: "dou o dobro do que eles prometeram".

Quando, recuperado do susto, o portador da maleta se prepara para responder, você percebe que o texto volta ao primeiro parágrafo. Um erro na hora de arrumar a crônica na página, provavelmente. Curioso por saber como continua a história, o leitor parte em busca do restante do texto em outros sites e acaba se deparando com um título parecido, de um livro chamado Se um viajante numa noite de inverno, publicado por Italo Calvino em 1979.

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Logo fica clara a conexão entre os textos, já que os dois começam da mesma forma. Mas os resumos, críticas e análises literárias sobre o livro de Calvino espalhados pela rede não dão conta de elucidar o que o julgamento do maior escândalo do governo Lula tem a ver com uma obra escrita há quase 40 anos. Sem conseguir resposta do cronista para suas dúvidas, você decide comprar o livro – não sem antes despejar mais ofensas na caixa de comentários.

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