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      Sena, não! Às margens do Ipiranga

      Em apenas cinco meses no cargo, o petista Fernando Haddad já deixou ao menos uma grande marca como prefeito de São Paulo: a omissão desavergonhada nos momentos de crise

      Roberto Freire avatar
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      Em apenas cinco meses no cargo, o petista Fernando Haddad já deixou ao menos uma grande marca como prefeito de São Paulo: a omissão desavergonhada nos momentos de crise enfrentados pela população. O episódio mais recente é a inacreditável viagem do chefe do governo paulistano a Paris, na França, para defender a candidatura da cidade como sede da Expo Mundial de 2020, justamente no momento em que as ruas da capital vêm sendo ocupadas por manifestantes que protestam contra o aumento na tarifa das passagens de ônibus.

      Esta não é a primeira vez que Haddad se omite em situações adversas. Logo no início de seu mandato, em janeiro deste ano, o prefeito se escondeu da imprensa por semanas a fio e não se manifestou publicamente sobre as enchentes que assolavam São Paulo no já tradicional período das chuvas de verão, nem que apenas para se solidarizar com a população atingida. O petista limitou-se a prometer algumas medidas genéricas que seriam tomadas pela prefeitura, muitas delas já adotadas pela administração anterior, e depois submergiu no noticiário enquanto a cidade ficava debaixo d’água.

      O comportamento de Haddad em relação à série de protestos organizados pelos ativistas do chamado Movimento Passe Livre desde a semana passada não foi menos ultrajante. Ao invés de cancelar a ida a Paris para participar de uma feira internacional de exposições, reconhecendo a situação de emergência vivida pela cidade que administra, com depredações ao patrimônio público, interdição das principais ruas em horários de pico e sucessivos confrontos entre manifestantes e policiais, o prefeito resolveu criar uma espécie de “gabinete da crise” e anunciou que monitoraria o desenrolar das manifestações à distância, do outro lado do oceano, às margens do Rio Sena.  

      A percepção de que Haddad desaparece na hora em que a cidade mais precisa dele começa a se espalhar entre os paulistanos e, aos poucos, se transforma em uma insatisfação generalizada com a atuação do prefeito nos primeiros meses de governo. De acordo com a mais recente pesquisa do instituto Datafolha, divulgada na última segunda-feira (10), o percentual dos que avaliam a gestão petista em São Paulo como ruim ou péssima saltou de 14% para 21% entre abril e junho. Outro dado relevante do levantamento aponta que 58% dos entrevistados entendem que o prefeito fez menos do que se esperava, índice nove pontos percentuais acima do registrado em há dois meses (49%).

      Eleito em 2012 sob o lema da “mudança” e adotando o slogan de que representava o “novo” na política paulistana, Haddad enfrenta um grande desgaste junto à população tanto por não entregar o que prometera durante a campanha quanto pela omissão que vem o caracterizando nos momentos de maior turbulência. A decisão de acompanhar o caos vivido pelos paulistanos por meio de telefonemas e informações online, de Paris, e não do gabinete ao qual foi conduzido pelos eleitores, é uma afronta à população.

      Não é com meia dúzia de críticas aos manifestantes que exigem a redução do preço da passagem de ônibus que Fernando Haddad conseguirá solucionar o problema. É evidente que não se pode apoiar atos de vandalismo e depredações pela cidade, mas a negociação política com entidades da sociedade civil também faz parte das atribuições do governo municipal, sobretudo porque a precariedade do transporte público na capital é um dado da realidade com o qual o PT deve lidar e que tem a obrigação de resolver. 

      A função de prefeito da maior cidade do país deve ser exercida com coragem e altivez, e não com tibieza e frouxidão. É no momento de adversidade, afinal, que os grandes líderes, homens públicos vocacionados a servir à sociedade, se diferenciam daqueles que simplesmente fogem de suas responsabilidades.

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