Serra: "segundo turno é arriscadíssimo"
Ex-governador tucano considera baixa a avaliação da presidente Dilma, avalia que, por isso, Lula ainda pode voltar em 2014, e se vê como um nome mais competitivo do que Aécio Neves, dentro do PSDB; de todo modo, ele se propõe a trabalhar pelo mineiro, "caso haja unidade dentro do PSDB", o que pode ser lido como indício de que haverá cotoveladas no ninho tucano até o último minuto do segundo tempo; será que a luz de Serra ainda brilhará?
247 - O ex-governador José Serra abriu seu jogo para o jornalista Fernando Rodrigues. Numa longa entrevista, falou sobre suas pretensões presidenciais, mas disse que ainda poderá apoiar o mineiro Aécio Neves, caso haja unidade dentro do PSDB. Claramente, portanto, ele trabalha pela divisão interna e trabalhará até o último minuto para ter mais uma chance de disputar a presidência da República. Segundo ele, há um claro "desejo de mudança". Confira abaixo alguns trechos e leia aqui a íntegra:
Sobre o leilão de Libra
Ela [a presidente Dilma] demorou muito tempo e o Brasil, nesse período, vai acumulando, déficit de petróleo com a Petrobras em situação dificílima. Segundo, mesmo dentro do modelo de partilha a coisa foi mal equacionada. Tanto é assim que não houve leilão. Não houve leilão, porque só tinha um concorrente. E, claramente, houve uma organização de cartel antes, porque não ia ninguém. Então o governo entrou a trabalhar para poder montar um cartel, montar um grupo que explorasse o petróleo.
Dilma como gerente
É, eu creio que a principal virtude do governo não é a capacidade de gestão. Se você me perguntasse "qual é o principal defeito do governo Dilma?". Eu diria: a fraqueza de gestão. Segundo, ter mantido os métodos de loteamento, de partidarização do Estado etc.
As manifestações de junho
O que aconteceu nas ruas, muito difícil de determinar, fazer uma explicação unilinear, isto causou aquilo, etc., mas é algum lado, tem algum lado de insatisfação com esse publicitarismo. Grandes anúncios que não dão em nada. Se você for ver hoje a aprovação do governo Dilma vis-à-vis o grau de exibição que ela tem na mídia livre e na mídia oficial, que passou a incluir, inclusive, as cadeias nacionais, que são abusivamente utilizadas. E você for ver a aprovação do governo dela, há uma diferença grande aí no caso, entre a intensidade e o resultado que na prática se obtém. Por isso eu acho que eles podem perder a eleição.
A candidatura presidencial do PSDB
Olha, o PSDB, por acordo, ficou de decidir isso mais adiante. Em março, a partir de março do ano que vem. E eu tenho seguido um pouco essa decisão que em algum momento foi tomada. E aí nós vamos ver qual é a situação e o que eu vou fazer sempre é: me alinhar na perspectiva de fortalecer a oposição para que possa ser uma alternativa de poder no Brasil. O que eu fizer vai estar subordinado a esse critério. E fá-lo-ei, digamos, dentro do PSDB.
Fim do "ciclo lulista"
É o seguinte: quando a Dilma assumiu havia o esgotamento de um ciclo. O ciclo lulista de desenvolvimento. O que era o desenvolvimento lulista? Uma taxa de crescimento positiva, modesta, 3% ao ano, nada de outro mundo, puxada pelo consumo, com uma grande abertura de importações de bens de consumo competindo com a indústria interna, desindustrialização, nós voltamos ao nível de indústria que tínhamos depois da Segunda Guerra Mundial - é a fatia da indústria no PIB -, um câmbio supervalorizado, né? Que viabilizava tudo isso. Inclusive o turismo externo. O Brasil tem R$ 15 bilhões de déficit. Ou seja, era um modelo que faturou a bonança externa. Que o Brasil nunca teve uma bonança igual. Juros internacionais no chão e preços nossos nas nuvens. Pois bem, os preços brasileiros de agrominerais já estabilizaram. Não vai ter nenhum repique. O custo do dinheiro sabe-se que não vai ser tão barato lá fora, nos próximos anos, crédito ao consumo, foi se esgotando. De alguma maneira esse modelo completou a sua etapa. O que precisava fazer a partir daí? Era você pegar os investimentos de infraestrutura e transformar esses investimentos na alavanca de crescimento da econômica pelo lado da demanda, ou seja, você vai empregar gente, você vai comprar máquinas etc., e pelo lado da oferta, você vai melhorar a produtividade da economia.
Chapa puro-sangue no PSDB
Olha, nós não temos nenhum candidato ainda batido o martelo, imagina escolher vice, a essa altura. Sobretudo, decidir que vice é do PSDB, é chapa pura, sem ter o quadro dos aliados já definido. Parece muito prematuro isso.
União tucana
É a minha grande aspiração, que o PSDB esteja unido. Com quem for o candidato. E eu trabalharei para isso, não tenha dúvida.
Apoio a Aécio
Farei, farei, trabalharei para que a haja unidade, primeiro. E segundo, havendo unidade, para que a unidade se projete na campanha, sem dúvida nenhuma.
Eventual sabotagem de Aécio em 2010
Para deixar bem claro, eu não perdi a eleição porque eu podia ter tido mais votos em Minas. Se você olhar os resultados eleitorais você vai que não constitui a explicação. A derrota em 2010 foi porque tudo crescia 10% - a massa de salários, o crédito ao consumo, um período de euforia, com o governo Lula lá nas nuvens de avaliação. Então, realmente, olhando a posteriori, me parece até uma façanha ter tido 43, 44% dos votos. Não foi por que nesta ou naquela região trabalharam mais ou menos.
Apoio dos mineiros em 2010
A meu ver, eles ajudaram. Inclusive eu lembro que no segundo turno nós fizemos uma campanha muito intensa em Belo Horizonte onde eu até ganhei a eleição, em Belo Horizonte. Agora, após, depois da eleição é sempre muito subjetivo. Tem gente que pensa assim, tem gente que pensa o contrário. Mas o que eu quero dizer é que não houve, realmente, peso determinante naquilo que aconteceu.
Avaliação de Dilma
Se você olhar pesquisas, hoje pesquisa tem um valor, a gente sabe, muito relativo, mas quando você olha as pesquisas que envolvem a atual presidente, a Dilma, seja eleitoral propriamente dita, seja de avaliação de governo, você vê que ela tem um desempenho para o grau de exposição que ela tem, para a quantidade de fatos positivos que são anunciados, como esse de Libra, não sei o quê, que ela fez uma salada de números. Deu uma ideia que vinha um trilhão [de reais] atrás da esquina. As pessoas estão vendo, não tem informação, boa parte tende a acreditar. Mesmo assim, ela tem um desempenho modesto. E está estacionada nisso. Se pegar pesquisas de diferentes, você pega aí diferentes institutos ela tem aí 37, 38, 40 [%], fica em torno disso. Para quem está no cargo, para quem está com a exposição que ela está, eu acho pouco. Quando você pega avaliações de governo, eu já vi pesquisa, não estou dizendo as que são acuradas não, mas aprova/desaprova, em geral não dá uma diferença grande entre aprova/desaprova. E veja que é diferente de ótimo e bom. Ótimo e bom é uma coisa. Em geral aprova é maior do que... quando eu era governador de São Paulo eu tinha 55, 57 de ótimo e bom e 70 [%] e tantos de aprova. Aprovado/reprovado é mais fácil você ter uma votação alta no aprovado. Ela tem pouco. Quer dizer, há muita restrição. E acima de tudo, Fernando, você pega qualquer pesquisa, de qualquer instituto e está lá "desejo de mudança", que a mudança aconteça.
Eventual volta de Lula
Eu acho que sim. Eu acho que o PT não quer perder o poder de jeito nenhum. Nenhum partido quer. Mas para o PT é muito especial. Sabe por quê? Porque eles se misturaram com o poder. O PT se apossou do governo e deixou uma parte para os aliados. Mas toda a máquina hoje, ela está confundida com o governo. Para eles é uma questão de sobrevivência.
Risco de segundo turno
Gera muita insegurança. Um segundo turno para ela é arriscadíssimo.
