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Poder

Sim, Dilma pode

A presidente sabe de suas limitações, mas tem seus limites

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A presidente Dilma Rousseff deu voltas, mas acabou fazendo o queria: Paulo Sérgio Passos é ministro dos Transportes e o PR não vai continuar mandando, desmandando e roubando no setor. Para viabilizar sua escolha pessoal, Dilma não pode ser direta como gosta de ser. Embora não possamos saber o que realmente passava em sua cabeça, é de se imaginar que preferiria ter evitado os circunlóquios e resolvido rapidamente o problema causado pelo afastamento do ex-ministro Alfredo Nascimento.

O que políticos consideram ser um grave defeito de Dilma é, na verdade, um mérito: a falta de paciência com a politicagem e com as práticas corruptas que se disseminam no Brasil nos três poderes e em todos os níveis da federação. Mas em quase cinco anos como chefe da Casa Civil e quase sete meses como presidente da República, Dilma certamente sabe que sem jogar o jogo que lhe é imposto pelos políticos corre o risco de não conseguir governar. Por isso tem de ceder e aceitar algumas normas estabelecidas. Mas, pelo jeito, com limites.

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A julgar pelo que se conhece da presidente, a seu gosto esse episódio dos transportes teria sido diferente. Para começar, ela não teria nomeado Alfredo Nascimento para ministro, nem teria mantido Luiz Antônio Pagot no Dnit. Todos em Brasília sabiam que era enorme a chance de dar errado, pois a roubalheira era antiga e conhecida. Mas, ambos nomeados, teriam sido por ela sumariamente demitidos quando o nível de corrupção em que se envolveram ultrapassasse o aceitável na Corte brasiliense (e olha que o aceitável aqui não é pouco). E Dilma imediatamente já teria nomeado o sucessor de sua preferência.

Mas não é assim que funciona. A presidente tem de nomear ministros com os quais não simpatiza nem considera adequados para a função porque tem de governar com uma coalizão de partidos políticos ansiosos por seus nacos de poder e pelos dividendos políticos e financeiros deles decorrentes. Depende de deputados e senadores para aprovar projetos e medidas provisórias, e ainda não criar problemas para o governo, como indesejáveis CPIs e convocações de autoridades.

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A demissão de Nascimento e de sua turma causou desagrado e provocou reações no PR, que tem sete senadores e 41 deputados, uma força política razoável no Congresso. Então Dilma teve de agradar ao partido, fazendo ao ex-ministro elogios que soaram mal e convidando para o cargo outra personagem que seguramente lhe causaria inúmeros problemas, o empresário e eventualmente senador Blairo Maggi. Felizmente o ex-governador de Mato Grosso teve o bom senso de recusar a função porque sabia que estaria sob vigilância e não poderia fazer o que gostaria. Apesar dos resmungos e da arrogância de parlamentares do PR, que se sentiam no direito de indicar o ministro, Dilma se decidiu pelo nome que queria.

Há riscos, claro, que certamente terão sido bem avaliados. A bancada do PR pode reclamar, mas não fará a bobagem de ir para a oposição, porque aí, sim, perderá tudo o que ainda conseguiu segurar no governo. O partido cresceu porque é governo desde o primeiro mandato de Lula e seus integrantes são, sobretudo, pragmáticos.

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A aparente solução desse episódio não encerrará, porém, os dilemas que Dilma ainda terá de enfrentar ao longo do mandato. A presidente não tem como ignorar ou negar os pedidos que lhe faz o ex-presidente Lula – afinal, está no Planalto graças a ele. Não pode desconhecer as reivindicações dos congressistas, legítimas ou ilegítimas, porque não governa sozinha e depende muito da Câmara e do Senado. Não tem como impedir que a imprensa continue a divulgar, diariamente, novos casos de corrupção que enfraquecem o governo.

O episódio Palocci foi um enorme desgaste para Dilma. Não se sabe o que pensou na ocasião e o que motivou a presidente, mas tentar segurar o então ministro da Casa Civil no cargo, a todo custo, foi seu maior erro até agora. A situação de Palocci era claramente insustentável sob todos os aspectos éticos e políticos e teria sido melhor descartá-lo assim que foi divulgado o enriquecimento súbito e não explicado.

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Esse quadro leva inevitavelmente a vacilações. Dilma não pode ser inteiramente o que gostaria de ser, porque não é apenas a pessoa física, mas é, primeiro, a chefe de Estado. Tem de aceitar pressões de religiosos fundamentalistas e tentativas de chantagens, sorrir para notórios corruptos que ainda não foram pegos formalmente e transitam livremente pelos palácios, manter em funções importantes pessoas das quais jamais compraria, sem temor, qualquer coisa. E até a elogiar publicamente quem deveria estar numa penitenciária.

Mas para tudo há limites. A presidente, se quiser, tem como enfrentar a corrupção e os corruptos e não ceder a chantagens. Pode não ter o apoio da maioria dos parlamentares e dos que têm enchido seus cofres nos últimos anos, pode ter problemas com a parcela do PT que aderiu às práticas nocivas, mas seguramente tem poder e condições de mobilizar grande parcela da população para mudar o cenário político do país. Não será fácil, mas é possível. Dilma sabe muito bem, por vivência pessoal, que ousar lutar é ousar vencer.

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