Vale a pena arriscar
Dilma está apostando alto apesar dos blefes dos parlamentares do PR
A insatisfação de parlamentares do PR diante da ofensiva da presidente Dilma Rousseff contra a corrupção na área de transportes é uma excelente notícia para o país. Significa que os esquemas que o partido mantém para desviar recursos públicos estão mesmo sendo desmontados e eles estão sentindo o golpe, especialmente no bolso.
Melhor ainda é ver que a presidente parece não estar se incomodando com as ameaças feitas pelos correligionários de Valdemar Costa Neto. E, pelo jeito, sequer com as preocupações de parlamentares de outros partidos, inclusive do PT, de que as ações contra a corrupção acabem por também alcançá-los.
Pode haver dúvidas ou restrições aos métodos que vêm sendo utilizados pela presidente para enfrentar os corruptos, e até incertezas sobre se a ação é pontual ou vai ser repetida em outras situações. A presidente tem feito movimentos arriscados, que podem ou não dar certo. Mas o que importa mesmo, agora, é que está se movendo.
Ninguém é bobo de achar que combater a corrupção é fácil. Ou que mexer com um partido que tem sete senadores e 40 deputados não terá nenhuma consequência política. Dilma certamente sabe que está começando a enfrentar uma Casa que, como disse Lula antes de ser presidente, tem pelo menos 300 picaretas (na verdade são mais).
Mas ou se age assim ou se perpetua a corrupção. Lula tem razão ao se preocupar com as repercussões que as demissões na área de transportes podem ter na base aliada ao governo no Congresso. Ele sabe como funcionam deputados e senadores e quer, com toda razão, que o governo de Dilma seja bem-sucedido.
Mas qual a opção que Lula apresenta? Deixar tudo como está, como ele deixou? Aceitar as chantagens da base? Fechar os olhos ao progressivo aumento da corrupção em todas as esferas? Passar a mão na cabeça de coronéis e caciques que se fizeram milionários com seus subsídios parlamentares?
Alguns acenam com a hipótese de Dilma não conseguir governar por perder o apoio de sua base no Congresso. Lembram que Jânio Quadros e Fernando Collor desprezaram a força de deputados e senadores e não terminaram seus governos. Veladamente, sugerem a capitulação.
Pode até acontecer, claro, mas Jânio renunciou em 1961 e Collor foi derrubado em 1992. Os tempos são outros. E Dilma não está – pelo menos por enquanto – fazendo uma revolução contra a corrupção, apenas tomando algumas providências. Uma revolução seria um salto qualitativo para o qual os avanços quantitativos ainda não são suficientes.
A melhor coisa que faz é continuar demitindo e dando sinais positivos, já que esperar por decisões judiciais que punam os culpados é otimismo demais. A Justiça é lenta, burocrática, formalista e ineficiente. E ainda gosta de férias prolongadas e feriados enforcados. A ela se deve boa parcela do sentimento de impunidade que existe no país.
A presidente tem de ter cautela e medir os passos, mas não precisa aceitar os blefes do PR e de quem mais aparecer. Tem condições de arregimentar apoios na opinião pública e na opinião publicada e hoje isso vale mais do que no passado. Se o PR ou outros querem levar a briga para o Congresso, Dilma – desde que apoiada por lideranças reais, e não algumas herdadas de Lula – pode aceitar o desafio. Os embates parlamentares são parte da democracia.
Falam que o PR vai para a oposição. Está bem, mas dos 47 quantos irão mesmo para a oposição? Quantos estarão dispostos a perder as benesses de ser governo, mesmo não podendo mais roubar descaradamente? Não existem partidos homogêneos, nem mesmo aqueles com dois ou três deputados.
Dizem que vão convocar os ministros Aluizio Mercadante e Ideli Salvatti. E daí? Se nada tiverem a temer, os dois comparecem ao Congresso e se explicam. E, se for preciso, enfrentam a oposição, como se faz rotineiramente em outros países. Se ministros tiverem a temer, é melhor que deixem logo o governo.
Vão convocar Expedito Veloso, que teria envolvido Mercadante na fracassada operação que ficou conhecida como dos aloprados. Veloso já negou publicamente que tenha acusado Mercadante e vai repetir isso no Congresso, se for chamado.
O governo de Dilma tem de conviver com o Congresso de forma republicana, o que, inclusive, uma maneira de valorizar o Legislativo. E deve levar para a população suas posições questionadas pelos parlamentares, para que as chantagens e birras fiquem expostas. O Congresso está tão desmoralizado que dificilmente conseguirá vencer uma batalha à luz do sol.
Ou Dilma combate de verdade a corrupção ou a corrupção – e não a base revoltada – derrota Dilma. Porque é claro que as denúncias não vão ficar só nos transportes.
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