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Civilidade

Quando FHC visitou Lula no hospital, houve um encontro que marcou o respeito à vida e a solidariedade que deve pairar acima de tudo

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Foi um belo gesto de Fernando Henrique visitar Lula para lhe desejar plena e rápida recuperação. São adversários que já foram aliados: o senador teve inúmeras ocasiões de apoiar o líder sindical inovador que surgia no ABC; este foi figura relevante na primeira campanha eleitoral, em 1978, do seu antecessor na Presidência da República.

A atitude de Fernando não reduz em nada as discordâncias que se acumularam entre ambos. Houve, isto sim, encontro que marcou o respeito à vida e a solidariedade que deve pairar acima de tudo.

Presenciei sessões da Assembleia Nacional portuguesa, para acompanhar o debate quinzenal entre o Primeiro Ministro Passos Coelho e os deputados, com ênfase para a participação dos oposicionistas do Partido Socialista. Diálogos duros que, em nenhum momento, deixam de ser elegantes. É amostra da beleza e da maturidade do sistema parlamentarista de governo.

A campanha eleitoral na França, igualmente, se desenrola em torno de propostas de enfrentamento à crise da Zona Euro, que tem nesse país, a um tempo, um dos seus sustentáculos e um dos pontos mais sensíveis dessa mesma crise. Nicolas Sarkozy e François Hollande disputam, ponto a ponto, a preferência dos cidadãos. A marca, claro, é o nível elevado em que se ferem as discordâncias.

Nos EUA, que se marcam por disputas combativas, percebemos os dois planos da eleição que se aproxima (as primárias do Partido Republicano e a competição entre Barack Obama e o nome que venha a ser ungido por esse partido) caracterizados pela apresentação de propostas que completem o soerguimento da economia, definam ou redefinam a política de defesa e mantenham ou alterem, no que possível seja, a política externa ora praticada.

Entristece-me constatar as chicanas do kirchnerismo, na Argentina, ou a truculência do chavismo, na Venezuela. É contraste evidente entre estágios políticos avançados e práticas da Idade da Pedra.

Aqui mesmo, o pré-candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, vem protagonizando cenas entre bizarras e cruéis. Bizarro, por exemplo, é ter acusado o Prefeito Gilberto Kassab de ter colocado em prática determinada ideia “apenas” para lhe tirar uma bandeira e lhe dificultar a caminhada. Cruel é haver declarado que “tem muita gente que torce contra a recuperação do ex-Presidente Lula”.

Opinando assim transmite a impressão de que ele próprio seria capaz de se regozijar com a infelicidade pessoal de um adversário e de que “torce” pela saúde de seu patrono menos por razões humanas e mais para não perder valioso cabo eleitoral.

Nosso processo político, desgraçadamente, ainda permite fraudes, abuso do poder econômico, desrespeito às leis. Assim como ainda convive com primarismos tipo tirar proveito da doença de figuras públicas relevantes.

Que a atitude de Fernando Henrique encontre eco bem amplo e caminhe para se tornar condição sine qua para o exercício da vida pública. O Brasil, que padece de agudos problemas de distribuição de renda, segurança, saúde, educação, infraestrutura, inegavelmente, experimentou avanços econômicos significativos, nas últimas duas décadas.

É, portanto, injusto e desproporcional que certos agentes políticos, à falta de programas factíveis e inteligentes de governo, ainda tentem transformar a luta pelo poder em briga de vizinhos que acaba na delegacia.

Arthur Virgílio é diplomata e foi líder do PSDB no Senado

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